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Estado de Minas

Luzes de Natal na Praça da Liberdade rendem lucros aos ambulantes

Enfeites natalinos em um dos cartões-postais mais famosos de BH refletem lucro certo para vendedores ambulantes. Quem passa por lá não resiste ao assédio dos "artistas"


postado em 21/12/2011 07:01 / atualizado em 21/12/2011 07:08

Isvaldo Oliveira, o palhaço Patatu, cobra R$ 1 para tirar fotos com as crianças(foto: Tulio Santos/EM/D.A Press. Brasil)
Isvaldo Oliveira, o palhaço Patatu, cobra R$ 1 para tirar fotos com as crianças (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press. Brasil)

Por trás da maquiagem oleosa e colorida do palhaço Patatu, o vendedor ambulante Isvaldo Oliveira não consegue esconder a tensão. Acima do nariz vermelho, os olhos inquietos durante a entrevista deixam claro que algo não vai bem. Vendedor de algodão-doce na Praça da Liberdade, atraído pelo movimento estimulado pelas luzes de Natal que enfeitam o cartão-postal na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, ele precisa ficar atento. Ao grito de um fiscal da prefeitura, dá no pé. Só teve tempo de contar que é casado, tem dois filhos, e, desempregado, aproveita o espírito natalino para fazer até R$ 30 por dia na praça, entre os doces espetados no palito (R$ 3 a unidade) e as fotos que tira com as crianças (R$ 1 a pose).

Isvaldo é um dos incontáveis vendedores que transformam a praça neste período do ano em pátio para comércio de todo tipo de alimentos e bugigangas: de pipoca a algodão-doce, de baleias que soltam bolhas de sabão a espadinhas de plástico luminosas. Tudo corre nas barbas dos fiscais à paisana, que, vez ou outra, recolhem as mercadorias dos vendedores.

Por sobre o corredor monumental de palmeiras-imperiais, pequenos objetos luminosos sobem e voltam ao chão – são os pirocópteros, que, no início da noite, custam R$ 5, mas, na “xepa”, terminam o dia valendo R$ 3. “Dá para tirar até R$ 800. Como a gente compra em quantidade, cada unidade nos custa R$ 1. O lucro é bacana”, explica o ambulante Sebastião Luz. Ele também comercializa baleinhas de espuma a R$ 20 cada, e ventiladores de brinqued (R$ 10), mesmo preço dos arquinhos luminosos.

Os produtos escolhidos por Sebastião são os mais populares. Em noites movimentadas (como costumam ficar desde que São Pedro colabore), é difícil caminhar pela praça sem trombar nos vendedores. Quem vai com criança, é bom saber que a escapatória é complicada: “Tinha certeza de que ia ser isso, então viemos preparados”, conta Cynthia Silva de Oliveira, que foi com o marido, Marcos Aurélio Dias Alves, e as filhas, Raíssa e Hana, para o “imperdível” programa tradicional. As duas garotinhas, de 9 e 4 anos, ganharam cata-ventos eletrônicos e luminosos (R$ 10 cada), mas queriam muito mais. “Tinha a baleinha que faz bolinhas de sabão e aquele negócio que vai lá em cima e volta. Mas só ganhamos esses mesmo”, reclama Raíssa.

ALÍVIO NAS CONTAS

O estímulo ao consumismo dessa época do ano, que transforma o 13º salário em salvação para o varejo, também serve para aliviar as contas dos informais. Um grupo de bailarinas vendedoras ambulantes chama a atenção. As meninas fazem parte do Arte Ballet, das comunidades do Taquaril e Alto Vera Cruz. “Fizemos uma apresentação no Minascentro e ficamos endividadas em R$ 9 mil. O jeito é fazer de tudo para tentar recuperar esse dinheiro”, diz Ana Paula de Jesus Santos, uma das bailarinas da companhia, que atende mais de 120 crianças dos dois bairros.

Entre o clássico e o hip-hop, começaram a vender cartõezinhos de Natal na praça, mas, no intercâmbio de experiências com os próprios ambulantes, decidiram investir nos pirocópteros a R$ 5. Ana Paula dá o caminho do fornecimento: “Compramos dos chineses do ‘Centrão, da Santos Dumont’”, mas ela esconde a margem de lucro e desconversa. “São muitos porcentos, mas é por uma causa justa”.

Economia informal sobrevive

Também atraídos pelo movimento típico da temporada, é comum que artistas, poetas e escritores independentes façam da Praça da Liberdade palco para comercializar livros a R$ 10 e recitar poemas que convençam o pessoal. Com os corações amaciados com a expectativa da data religiosa, os consumidores ficam mais fáceis, segundo o estudante de psicologia Gabriel L’abbate, que comemorava o sucesso de vendas – em cinco minutos, vendeu dois exemplares de seu último lançamento, a coletânea poética Longínqua constelação.

Entrentanto, o espaço democrático praça, marcado fortemente nessa época do ano pela economia informal, sobrevive, criando espécie de suspensão da Lei 8.616, que no artigo 18 proíbe as vendas em via pública na capital mineira. A legislação está na ponta da língua de Joel Claudino Soares, supervisor de fiscalização da praça, que comanda equipe com um fiscal e 11 auxiliares, ligada à Regional Centro-Sul.

De acordo com ele, a equipe atua diariamente entre 18h45 e 0h, mas o próprio ambiente familiar da praça impede ação mais direta dos fiscais, que se limitam a uma ou outra apreensão. “Não podemos chegar de uma forma que assuste as pessoas”, justifica. Uma das ambulantes, à espreita, encostada em uma das palmeiras, contesta: “Fico esperando até as 22h, quando eles vão embora. Então começo a trabalhar”, diz ela, que vende cerca de 40 latas de cerveja por noite.


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