A crise na Eurozona foi aliviada nesta quarta-feira depois que o Banco Central Europeu (BCE) dividiu entre 523 entidades de membros do Eurogrupo quase 500 bilhões de euros em empréstimos a três anos que poderiam ajudar os Estados em dificuldades.
Para o BCE, que realiza pela primeira vez uma operação similar, a operação foi um sucesso. Ao todo, foram emprestados 489 bilhões de euros com vencimento a três anos, sendo que os economistas previam uma demanda entre 100 e 500 bilhões.
O montante da operação era ilimitado, o que significa que os bancos poderiam pedir e obter tanto dinheiro quando desejassem, com a condição de que apresentassem garantias suficientes.
Esta liquidez foi bem recebida pelos bancos da Eurozona, que têm grandes necessidades de refinanciamento para 2012 e têm sofrido com a insegurança do mercado.
Mais de 600 bilhões em dívida bancária vencem em 2012, dos quais 230 bilhões só no primeiro trimestre, relembrou o presidente do BCE Mario Draghi.
O BCE espera principalmente que os bancos utilizem este dinheiro para emprestar às pessoas e empresas da Eurozona e evitar o fim do crédito, que seria algo devastador para a economia.
As bolsas europeias e o euro reagiram inicialmente bem à ação do BCE, mas em seguida reduziram seus ganhos com as incertezas em relação à crise levando os investidores à realização de lucros.
Com isso, parece pouco provável que a liquidez fornecida pelo BCE ajude os Estados mais fragilizados da Eurozona, como esperavam alguns líderes da Eurozona, como o presidente francês Nicolas Sarkozy.
Contudo, segundo especialistas, a liquidez dos bancos pode ser lucrativamente revertida em bônus de Estado, que alguns oferecem a taxas muito interessantes.
"Os empréstimos a três anos de hoje são o equivalente a quase uma vez e meia o programa de emissão de bônus da Espanha e da Itália em 2012", disse Martin Van Vlie, economista do ING.
"Contudo, não sabemos se este dinheiro será utilizado principalmente para comprar dívida periférica, uma vez que esses títulos seriam contabilizados nos balanços por seu valor de mercado, que é baixo", completou.
A maioria dos grandes bancos têm outras prioridades, como cobrir seus próprios vencimentos, e não desejam comprar ativos de risco que poderiam custar-lhes uma redução da nota de classificação financeira, segundo Schulz.
A Espanha, por sua vez, conseguiu na terça-feira emitir mais bônus que o previsto a três e seis meses por 5,640 bilhões de euros com uma taxa que recuou fortemente.
As taxas a 10 anos da Espanha, que recuaram nesta quarta-feira pela manhã abaixo dos 5% pela primeira vez desde outubro, se situavam a 5,097% (contra 5,030%).
Os bancos italianos e espanhois compraram nestes últimos dias obrigações soberanas para colocá-las como garantias na operação de quarta-feira, segundo os economistas.
Ao final de contas, a operação a três anos "não vai salvar a Eurozona", disse Jonathan Loynes, da Capital Economics.