Nem 4% nem 5%, como querem a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para o Banco Central (BC), a economia brasileira crescerá apenas 3,5% em 2012. O Relatório de Inflação divulgado ontem prevê aceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre o primeiro e segundo semestres do ano que vem. Mas a expansão não será suficiente para assegurar a meta de 5% do governo. Em 2011, o BC espera crescimento menor, de 3%. A estimativa não agradou à Fazenda. O ministro Mantega chegou a afirmar que as projeções de crescimento feitas pelo BC são “menos precisas” do que as da sua equipe.
As projeções do relatório revelaram que a inflação ainda não está totalmente domada e o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá ser obrigado a aumentar a taxa de juros no fim do ano que vem para segurar eventuais novas pressões de preços. Para o BC, a inflação fecha 2011 em 6,5% (sem estourar o teto da meta), desacelera para 4,7% em 2012, recuando para 4,4% no segundo trimestre de 2013. O problema é que o BC projeta que o IPCA terá um repique no segundo semestre de 2013, fechando o ano em 4,7%, exatamente no mesmo nível de 2012.
No mercado financeiro, os dados do relatório levaram a uma alta dos juros futuros e reforçaram a avaliação de que o ciclo de queda da Selic pode ser abreviado. E mais: diminuíram as apostas de que o Brasil poderá ter em 2012 juros de um dígito (9,5%), como esperavam a presidente Dilma e muitos economistas. Convergência. A tão esperada convergência da inflação para o centro da meta, de 4,5%, também ficará para depois. Ela só ocorrerá no segundo trimestre de 2013, apesar de o presidente do BC, Alexandre Tombini, ter passado todo o ano de 2011 assegurando que se daria em 2012.
Segundo o diretor do BC, a inflação em 12 meses atingiu o pico no último trimestre e começa agora recuar na direção da meta. A redução de 3,5% para 3% da previsão de PIB de 2011 reflete a crise que já afeta a economia e os efeitos de medidas de aperto monetário do início do ano. Os efeitos das medidas de estímulo ao crescimento, no fim deste ano, só serão sentidos a partir do segundo semestre.“Dado o contexto global, terminar o ano como uma taxa em torno de 3% é bastante interessante”, disse o diretor, que evitou entrar em polêmica com o ministro Mantega, que deu ontem previsões bem mais otimistas para o PIB.
Recessão - Se a desaceleração do crescimento da economia brasileira foi mais forte do que a esperada, o cenário externo continua a ser um fator-chave para determinar os próximos passos do Copom e do comportamento da atividade econômica no Brasil. O BC enxerga o mundo com perspectivas desinflacionarias e trabalha com a hipótese de cenário de um baixo crescimento global por um período de tempo prolongado. “Há alta probabilidade que ocorra recessão em algumas economias importantes”. As condições de crédito serão mais restritivas e não se espera pressão de alta das commodities.
As previsões do relatório deram também fôlego extra ao debate sobre a política do BC mais alinhada com a Fazenda para garantir crescimento maior da economia. Nessa estratégia, especula-se que o BC, ao conduzir a política de juros, também estaria de olho na meta de crescimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.