O Natal deste ano é o primeiro em que o sonho de consumo em forma de tablet deixou de ser exclusividade da classe A. Dois anos depois do lançamento do iPad, que inaugurou a categoria, mesmo as árvores de Natal mais populares, impulsionadas pelo avanço do Android, o sistema móvel do Google, já podem ter entre seus presentes legítimas pranchetinhas digitais. Se, no discurso de anúncio do iPad, Steve Jobs acreditava que o tablet não concorreria com os notebooks e definiria nicho específico de mercado hoje as prateleiras mostram que ele estava errado.
Com a entrada no mercado brasileiro, este ano, de muitos aparelhos que rodam Android, os preços foram pressionados para baixo, desta vez beneficiando os usuários. Valores a partir de R$ 399 permitiram ao mercado se aproveitar do primeiro Natal fervoroso, segundo Cássio Lage, proprietário da Eletrocell, rede de 22 lojas em Belo Horizonte e interior de Minas: “Com certeza, hoje os tablets são mais procurados que os netbooks. Muita gente que queria comprar sua primeira máquina acaba optando pelas pranchetas”, afirma. Ele estima que, da estimativa de 2 mil tablets a ser comercializados neste fim de ano, 1,8 mil são Android e os outros 200, iPads.
Em compensação, nenhum outro fabricante concentra a fatia que a Apple tem, com seu iPad. Marcas orientais como ZTE e PanDigital, ou mesmo nacionais, como Multilaser, ajudaram a aproximar os fabricantes dos brasileiros, na avaliação de Lage: “A classe A viaja e compra o iPad lá fora. O resto compra os Androids por aqui, em planos de pagamento em 10 parcelas”. No comércio popular de Belo Horizonte, o acesso dos consumidores de menor renda aos cartões de crédito impulsionou as vendas de produtos eletrônicos, com destaque para os tablets. As moedas de plástico favoreceram os negócios de Ânderson Peixoto, dono da Griffin Eletrônicos, aberta no Shopping Uai, vizinho à rodoviária. Parte do lucro da loja vem das pranchetas digitais. O produto, considerado a vedete deste Natal, tem preços a partir de R$ 659. “Os equipamentos estão tendo boa saída”, diz o comerciante.
Segundo vendedores ouvidos pelo Estado de Minas, os consumidores buscam aparelhos com capacidade de memória estendida, munidos de cartões de memória, e que dialoguem com outros dispositivos, como tocadores de MP3 e câmeras conectadas por USB. O iPad, da Apple, não tem nenhum desses recursos, mas continua colhendo os frutos do pioneirismo no setor, e por isso atrai adeptos, a exemplo do professor universitário Hely Costa. “Sou applemaníaco, não me imagino comprando outro tablet”, diz Costa, que optou por adquirir o aparelho no exterior como um merecido presente de Natal.
Sucesso nos shoppings populares, onde as bancas de eletroeletrônicos lembram suculentos doces no formigueiro de gente, os tablets são a bola da vez, na avaliação do administrador do Shopping Xavantes, Leonardo Furman. No Hipercentro de Belo Horizonte, o Xavantes sorteou, ontem, dois Galaxy Tabs, da Samsung, para quem consumiu nas lojas ao longo deste mês. Diferentemente de malls tradicionais, que sorteiam apartamentos ou carros de luxo a partir de cupons conquistados a cada R$ 400 desembolsados pelo cliente, no centro de compras popular não existe isso. Qualquer valor gasto dá direito ao consumidor de participar.
A consultoria International Data Corporation( IDC) calcula que o balanço das vendas de tablets no Brasil em 2011 vai somar 450 mil pranchetas digitais. A previsão é de que esse número suba para 1 milhão no ano que vem. A profusão de aparelhos com Android, que aposta na diversidade de fabricantes para crescer, deve continuar a encabeçar a expansão. A participação dos iPads no mercado, contudo, continuará emblemática, porque a expectativa para o iPad 3, que deve ser anunciado em 2012, continuará movendo o marketing da Apple.
O programador Daniel Miranda presenteou a namorada, a estudante de mestrado em ciência política Nayla Lopes, com um iPad 2, de 16GB, comprado por R$ 1,8 mil. “Ela tinha um netbook já havia dois anos, que estava com a bateria ruim e pesava bastante. Vai ser um presente útil”, define. Nayla sabe que não conseguirá editar 100% dos trabalhos do mestrado na pranchetinha – para digitação, ele funciona, mas a formatação nas normas acadêmicas exigirá o auxílio de um computador à moda antiga. Está disposta, contudo, a comprar um teclado sem fios como acessório. A praticidade e mobilidade do presente justificam a troca. (Com Paulo Henrique Lobato)
Monitoramento da consultoria Miti Inteligência no Twitter mostrou que os tablets estão entre os produtos mais desejados deste Natal. Entre as marcas, 23 mil mensagens mencionavam o produto da Apple. Em 74% das citações, as pessoas disseram que gostariam de ganhar o tablet, enquanto 26% informaram que vão comprar o produto. O Galaxy Tab também foi citado, com 4 mil referências.
• Quanto custa?
Preços dos tablets à venda no Brasil
Tablet Coby
R$ 399 (4GB com Wi-Fi e 3G)
Apple iPad
R$ 2.049 (16 GB com Wi-Fi e 3G))
Samsung Galaxy Tab
R$ 1.999 (16 GB com Wi-Fi e 3G)
Motorola Xoom
R$ 1.599 (16 GB com Wi-Fi e 3G)
Blackberry Playbook
R$ 1.299 (16 GB com Wi-Fi e 3G)
Positivo Ipy
R$ 999 (10 GB com Wi-Fi)
Accer Iconia Tab
R$ 1.199 (16 GB com Wi-Fi)