O recorde absoluto de depósitos no Banco Central Europeu e o baixo entusiasmo demonstrado pelos investidores na última emissão da dívida pela Alemanha nesta quarta-feira continuam sendo sintomas de prudência ante a falta de soluções à crise da dívida.
A cautela foi visível no desempenho das bolsas nesta quarta-feira, com todas as bolsas europeias fechando no vermelho: Milão e Madri lideraram as quedas, com 2,05% e 1,72%, seguidas por Paris, -1,59%, Frankfurt, -0,89%, e Londres, com -0,55%. Wall Street também abriu em queda, de 0,22%, e o euro perdia terreno ante o dólar, caindo a 1,29 dólar pela tarde. O maior motivo de preocupação é o novo recorde que registraram os depósitos dos bancos da zona do euro no Banco Central Europeu, com 453,180 bilhões de euros.
Com juros de 0,25%, esses enormes depósitos no BCE evidenciam um descompasso no mercado de empréstimos interbancários, uma vez que as entidades bancárias têm preferido aplicar o excesso de liquidez na própria instituição europeia, ao invés de realizarem negócios entre si ou emprestar à economia real.
A crise da dívida pública, a ameaça de uma redução geral das notas soberanas da zona do euro pelas agências de classificação financeira, o aumento do nível de fundos próprios dos bancos europeus e a preocupação sobre a conjuntura na zona do euro são as principais causas deste fenômeno.
Cédric Tellier, economista de Natixis, relativizou os depósitos recordes no BCE ao recordar que os bancos os multiplicaram no final do ano para o balanço no dia 31 de dezembro, e esse efeito está "diluído progressivamente".
O fato de os bancos reterem sua liquidez ilustra, contudo, sua falta de apetite por títulos da dívida soberana da zona do euro. E é justamente esse apetite que os europeus esperavam ver ressurgir através das operações de crédito massivo do BCE.
Apesar do entusiasmo contido, a Alemanha obteve êxito em sua emissão de bônus a 10 anos desta quarta-feira, captando 5,140 bilhões de euros, pouco acima da meta do Bundesbank, de 5 bilhões.
A emissão desta quarta-feira foi bastante superior à anterior, de novembro, quando a Alemanha captou apenas 3,6 bi de euros, diante de una oferta de 6 bi. A agência financeira alemã, organismo responsável pela emissão do Bundesbank, classificou de "sólido" o resultado da nova emissão.
"A emissão não foi tão ruim com a do final de novembro, mas mostrou que os operadores estão bastante prudentes", inclusive para o segmento de luxo do Bund a 10 anos, que é considerado um valor extremamente seguro", disse Annalisa Piazza, economista da Newedge.