O ritual do Dia de Reis é respeitado todo ano na casa de Ana Maria. “Faço a simpatia, que aprendi com minha mãe, todos os anos. Digo o nome dos três reis magos e peço para eles levarem para longe a tristeza, a doença e a pobreza. Em troca, peço a alegria, a saúde e a riqueza”.
Muita gente que esteve nessa quinta-feira no mercado se assustou com o preço da romã. Mesmo assim, a maioria levou pelo menos uma fruta para casa. Pensando em quem quer ficar rico, mas não tem tanto para investir, alguns comerciantes colocaram preço na unidade do fruto, que pesa em torno de 250 gramas e é vendido a até R$ 15. A opção de vender por unidade vem garantindo o lucro de vários feirantes. “Vendi mais ou menos 20 quilos esta semana. O volume, se comparado com a média das romãs vendidas nas outras semanas do ano, foi 80% maior”, calculou Hermício Carvalho de Aguiar, que vende a fruta plantada em Pouso Alegre, no Sul de Minas Gerais.
Já as romãs oferecidas por Jonatas da Silva Moura, cujo quilo sai a R$ 29,90, chegaram de mais longe. “Lá de São Paulo”. Nos últimos seis dias, estima, também vendeu “uns 20 quilos”. As frutas de “seu” Sérgio Leopoldo da Silva, colhidas em Jaíba, no Norte de Minas, são banhadas com a água do Rio São Francisco – o projeto Jaíba, implanado na década de 1970, é uma espécie de minitransposição do Velho Chico – e oferecidas à clientela por R$ 10 cada unidade grande. “A pequena sai a R$ 7”. Silva reconhece que os preços estão salgados, mas coloca a culpa nos fornecedores, “que sobem muito os valores nesta época do ano”.
É a lei da oferta e da procura. “A fruta deve estar em falta no mercado. Eu, por exemplo, pedi cinco caixas e o fornecedor só tinha duas”, conta o comerciante. Diante disso, há feirantes que preferem buscar romãs no entreposto de Contagem da Ceasa. Lá, a caixa com cinco quilos foi negociada, na quarta-feira, a R$ 45 – R$ 9 o quilo. A matemática permite afirmar que se a mesma quantidade for negociada a R$ 35 por quilo, como fazem alguns comerciantes do Mercado Central, o lucro chega a 288%.
PESQUISA A melhor saída para o consumidor, portanto, é gastar sola de sapato para pesquisar o melhor preço. O valor da fruta oscila bastante entre as barracas do próprio Mercado Central. Lá, há feirantes como Pedro Victor Santos Filho, que vende cada unidade grande a R$ 8. “Estou na expectativa de vender todo o estoque, cerca de 40 frutas, amanhã (hoje)”, disse. Por outro lado, a unidade sai a R$ 15 na barraca em que Adenilson Rocha trabalha: “Vendi 10 caixas desde o ano-novo”, comemora. Na banca de Sérgio Leopoldo da Silva, a fruta é comercializada por R$ 10 cada unidade. Sérgio reconhece que, a partir de amanhã, a tendência é de forte queda no preço do produto: “Vai cair, no mínimo, para a metade”.
Além da mandinga do Dia de Reis, a polpa da romã é usada para fazer chá, suco e entra como ingrediente em várias receitas. “É muito bom para a voz”, garante o comerciante Adenilson Rocha.
Em Minas, a produção do fruto para fins comerciais é pequena. Tanto que a Secretaria de Estado da Agricultura não tem estatística sobre as colheitas.
Saiba mais
Punica granatum
A romã, cujo nome científico é Punica granatum, pertence à família das punicáceas. A fruta tem origem no Irã, onde é cultivada desde pelo menos 2 mil anos antes de Cristo. As primeiras romãzeiras foram plantadas no Brasil pelos portugueses, que também trouxeram a tradição da folia de reis. A árvore adaptou-se bem por aqui em razão de se desenvolver bem em climas tropicais, subtropicais e até semi-áridos. A fruta também é usada como ingrediente principal de chás destinados a combater a dor de garganta.
Empresários não abrem mão do ritual
Assim como muitos brasileiros, empresários bem-sucedidos também reservam parte do dia de hoje para recorrer aos reis magos, pedindo saúde, alegria e prosperidade. É o caso da presidente do Conselho da Mulher Empreendedora da ACMinas, Juliana Pires de Moraes, que também é dona da Água Fresca, com quatro lojas em Belo Horizonte. “Vou separar nove sementinhas. Três para comer, três para guardar na carteira e três para jogar atrás dos ombros. Farei um pedido especial”, disse a empresária, que também mantém viva a simpatia do broche.
“A peça tem a imagem de Nossa Senhora, de um trevo de quatro folhas e de uma pomba. É para ser colocada, durante a primeira semana do ano, no sutiã. Traz sorte e paz”, acredita Juliana, estimando que o faturamento da Água Fresca, especializada em lingerie, crescerá 10% em 2012. “Temos uma marca própria, que representa 80% do que vendemos em nossas quatro lojas. Estamos recebendo propostas de pessoas interessadas em franquias”, adianta.
O empresário Feliciano Abreu, diretor-executivo do site Mercado Mineiro, um dos maiores portais de pesquisas de preços do Brasil, é outro que jogará três sementes de romã para trás hoje. “Tem também a simpatia da folha de louro na carteira, no ano-novo. Para tentar melhorar um bocadinho, pego um dólar e coloco junto. Amanhã, será a vez das sementinhas de romã”, disse o empresário, que fundou o Mercado Mineiro em novembro de 2000.
Atualmente, o portal recebe, em média, 450 mil visitantes por mês. Feliciano acredita que o crescimento do portal será em torno de 30% em 2012. “Sabe o que é legal? Perceber que o consumidor pesquisa preços, assim como o fornecedor. São acessos de pessoas que pesquisam o melhor preço, a melhor oferta”, disse. (PHL)