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Estado de Minas

Preços altos em supermercados aumentam sensação de inflação ao consumidor

Consumidor sente abismo entre o índice e a gôndola - alta dos preços se concentra nos produtos do dia a dia, como alimentos e bebidas, aumenta sensação de inflação


postado em 08/01/2012 07:18 / atualizado em 08/01/2012 08:32

Para Cristiane Aires, aumento do salário se desfaz no supermercado (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Para Cristiane Aires, aumento do salário se desfaz no supermercado (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Entre os índices e as prateleiras, é nítida a sensação de abismo, para Cristiane, Patrícia, João e tantos outros que equilibram orçamentos domésticos diante dos preços do supermercado, postos de gasolina, açougues e agências de viagem. Embora o Banco Central tenha comemorado os últimos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados sexta-feira, o fato de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) não tenha extrapolado, em 2011, o teto da meta, marcando exatos 6,5%, não sinaliza festa para os consumidores. A percepção de que o dragão de verdade é mais voraz do que o das estatísticas domina quem visita as gôndolas.

Em busca das melhores ofertas de material de limpeza para o escritório de contabilidade que adiministra, a gerente Cristiane Aires avalia que a ciranda de preços é implacável: “O salário mínimo mal subiu e as passagens de ônibus já estão reajustadas, de R$ 2,45 para R$ 2,65. Os gastos acompanham no supermercado e não temos a sensação de que há mais dinheiro no bolso; muito pelo contrário”. A inflação em Belo Horizonte fechou o ano mantendo a tendência de alta superior à média nacional, com 6,79%. A marca é a terceira maior do país, atrás de Curitiba (7,13%) e Distrito Federal (7,01%).

Apesar de os preços de alimentação e bebidas terem crescido menos, esse foi o grupo que exerceu o maior impacto no ano. Responsável por 23,46% do orçamento das famílias, o grupo se apropriou de 1,69 ponto percentual do índice, o que representa 26% dele. Isso se deve à forte pressão dos alimentos consumidos fora do domicílio, cujos preços subiram 10,49% em 2011, seguindo a alta de 9,81% em 2010.

O item refeição fora de casa, aumentando os mesmos 10,49%, exerceu o principal impacto individual no IPCA do ano, com 0,47 ponto percentual. Já os alimentos de consumo no domicílio ficaram mais caros em 5,43%, bem menos do que os 10,70% de 2010. Para aliviar a pressão de quem precisa fazer refeições fora de casa, como a coordenadora de marketing Patrícia Celestino, a solução é sacudir os hábitos. “Hoje em dia não faço mais compras do mês, porque os preços variam bastante. Estou sempre atrás das promoções. É claro que tempo também é dinheiro, mas, por experiência própria, eu digo que compensa pesquisar”, indica.

SEM SENTIDO

A aposentada Eunice de Oliveira não se preocupa se a inflação do país rompeu ou não o teto da meta – conversa técnica de especialistas em política monetária –, o que ela sabe é que o preço do feijão extrapola, às vezes, o limite do aceitável: “Não faz sentido eu comprar um pacote por R$ 2,50 em um mês e, dali a quatro semanas, o mesmo produto valer R$ 4,50, como chegou a acontecer no ano passado”. Ela tem viva a memória de quando o descontrole inflacionário era generalizado, no final dos anos 1980, não faz o estoque que fazia naqueles tempos, mas sente, pontualmente, as baforadas do dragão.

Para o analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Antonio Braz, o pessimismo na percepção da variação de preços é parte natural do processo. “As pessoas são mais sensíveis ao aumento dos preços do que à diminuição. Isso porque os itens cujos preços mais sobem estão justamente nos supermercados, no dia a dia. São os alimentos, os serviços. Os que puxam o índice para baixo não estão no cotidiano: televisões, computadores, eletroeletrônicos. Ninguém compra isso anualmente, muito menos mensalmente”, diz.

IPI menor segurou o índice na meta

A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para eletrodomésticos da linha branca (fogões, geladeiras e máquinas de lavar) foi fundamental para manter a inflação medida pelo IPCA no teto da meta estipulada pelo governo, de 6,5% em 2011. A redução de IPI levou a inflação do grupo artigos de residência de 3,53% em 2010 para 0% em 2011. A contribuição para o IPCA de 2010 havia sido de 0,15 ponto percentual na taxa de 5,91%.

Em 2011, o grupo não contribuiu para a taxa de 6,5%. Graças ao IPI menor, os preços do grupo artigos de residência passaram de uma alta de 0,05% em novembro para um recuo de 0,87% em dezembro. O resultado foi um impacto negativo de 0,03 ponto percentual na inflação de 0,5% no último mês de 2011.

Os gastos cotidianos são justamente, em contrapartida, os que mais variam. O estudante João Paulo Dionísio, por exemplo, percebe nitidamente o aumento do preço da gasolina, que variou 6,92% na média nacional em 2011 e 14,41% em Belo Horizonte. “É muito concreto isso. A distância entre preços praticados por diferentes postos, que era de R$ 0,20 por litro no início do ano, hoje é cada vez menor: estão todos caros”, reclama.
O transporte, de uma maneira geral, foi um item que fez a alegria do dragão. Na tabela, chama a atenção a variação das passagens aéreas, que acumularam, na média nacional, alta de 52,91%, e em BH, 47,97%. A conjuntura forçou adequação no mercado de viagens, segundo José Carlos Vieira, diretor da Acta Turismo. “A hotelaria, que estava acostumada a altas tarifas em 2010, teve de baixar a bola para poder vender, diante do aumento dos preços das passagens. Esse aumento foi causado pelo crescimento absurdo da demanda, que não foi suprida nem com a colocação de novos voos no mercado.”


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