O cinturão verde da Região Metropolitana de Belo Horizonte ganhou nova tonalidade com as chuvas dos últimos dois meses. Arrasadas pelo excesso de água, as plantações de legumes e hortaliças se enlamearam, ficando coloridas pelo marrom do barro. A devastação causou prejuízos e gerou dívidas para produtores de alface, couve, rúcula, almeirão e outras folhas, que, animados pela estiagem dos últimos dias, até chamaram benzedeiras para pedir a São Pedro uma trégua nas chuvas, permitindo que seus produtos voltem às mesas dos consumidores da região. E a expectativa é de que o abastecimento se regularize apenas em maio. Passado o período de chuvas, que tem fim previsto para meados de março, é preciso esperar mais 50 dias para se colher a primeira safra, segundo o chefe da Seção de Mercado da CeasaMinas, Ricardo Martins.
Perto dali, numa região mais alta da cidade, o prejuízo do produtor Fábio Lanuci Campos foi menor em comparação com o de Afonso. Ele perdeu mais da metade do que plantou. Normalmente são colhidas 2 mil caixas de folhas verdes, mas, em dezembro, tirou da terra apenas 950. Para não perder clientes, a solução foi encomendar os produtos de São Paulo e repassá-los a preço de custo. O pé de alface vindo do estado vizinho custa R$ 0,80 e ele cobra apenas R$ 0,10 a mais – para pagar seus funcionários. “Com sol, a gente consegue controlar, mas essa chuva não tem jeito”, afirma. Com a estiagem dessa semana, ele tentou preparar a terra para a próxima produção, mas, como o solo está encharcado, não conseguiu arar.
Diante da baixa qualidade das folhas, muitos produtores preferiram deixar o mato crescer e áreas que deveriam estar cheias de pés de alface, molhos de espinafre e couve e outras verduras viraram capinzais de até dois metros de altura, ocultando as plantações. Até as quiabeiras, tradicionalmente mais resistentes, dessa vez não suportaram e deixaram de produzir. Em relação à alface, o pé demora normalmente 40 dias para ser distribuído para sacolões e feiras e para a CeasaMinas, mas, com o solo encharcado, mesmo depois de 60 dias, é impossível colher, pelo tamanho das folhas. Alguns produtores tiveram que juntar quatro ou cinco pés e vender pelo preço de um.
Reza brava
Do outro lado da Grande BH, no Vetor Norte, pequenos produtores de Vespasiano veem os cerca de 50 mil metros quadrados da família amargar com a chuva. O lavrador Waldemar da Silva Filho planta 4 mil mudas semanalmente, mas conseguiu colher pouco mais de 400 – o equivalente a 10%. Nos sacolões da região, só se encontra milho e uma ou outra verdura. “Com sombra não cresce mesmo. É preciso um solzinho, pelo menos”, diz ele.
Há mais de 25 anos na região, o trabalhador rural e primo de Waldemar, José Carlos Pereira, diz que a chuva desse ano foi a pior de que se recorda. “A folha não aguenta mesmo”, conta. O produtor chegou a desanimar e quase desistiu de replantar na semana passada. Foi quando uma tia dele decidiu levar uma benzedeira ao local. A benzedeira atribuiu as perdas a um “mau-olhado” e o produtor argumentou que o problema sacrificou propriedades no estado inteiro. À revelia da desconfiança de José Carlos, a chuva deu uma trégua nesta semana. “Tem que ter fé em Deus e agradecer”, diz ele.