“Dia de chuva é dia de choro para dono de bar e restaurante”, resume o empresário Leonardo Marques, dono da Monjardim Costelaria, do Gonzaga Botequim e do Buteco da Carne, no Bairro de Lourdes, em Belo Horizonte. Ele não segura o desabafo na hora de falar sobre os prejuízos que a água ininterrupta trouxe aos seus negócios nos últimos tempos. “É péssimo. O cliente não sai de casa e as pessoas que entram no bar demoram a liberar as mesas, pois esperam a chuva passar”, diz Marques.
Na Monjardim Costelaria, onde a metade da área é descoberta, o consumo cai entre 60% e 70% nos dias de chuva. “E temos que arcar com os custos fixos normais, como folha de pagamento dos funcionários e aluguel. A nossa expectativa é de tirar a diferença assim que o sol aparecer, quando esperamos ter fila na porta do restaurante. O período chuvoso só beneficia quem está em shopping ou no Mercado Central”, diz Marques. No Gonzaga e no Buteco da Carne, as vendas caíram em torno de 50% em dezembro e neste mês. “ Se não houvesse chuva, seriam entre 30% e 40% maiores”, afirma o empresário.
A horta orgânica que abastece o bufê Pimenta Gastronomia e a loja de congelados gourmet Jadore foi por água abaixo com a chuvarada dos últimos tempos. “A chuva acabou com mais de 60% da horta que estava pronta para ser colhida. Agora estamos preparando os canteiros e esperando a estiagem para voltar a plantar”, afirma Letícia Pimenta, dona do bufê. A chuva destruiu ervas e os pés de hortaliças da horta. O manjericão roxo e verde, o alecrim, a cebolinha, a salsa, o tomilho e a couve foram algumas das plantas mais prejudicadas. “Fizemos a substituição dos produtos, pois muitos também não foram encontrados mais no mercado”, diz Letícia.
A crença de que o verão é período de vender sorvetes, biquínis e ventiladores não vigorou neste ano por causa da forte incidência de chuvas na Região Central de Minas. A expectativa de crescimento de 20% nos negócios da marca Cila, de moda praia, foi frustrada por causa dos temporais. “Alguns produtos, como sunga e biquíni, dependem do sol. E até agora só tivemos chuva. Devemos empatar com as vendas do verão passado”, explica a gerente de marketing da empresa, Mara Borges.
Depois de 16 anos no mercado, a sorveteria Easy Ice experimentou, pela primeira vez, o pior verão de vendas da história, com queda de 40% no faturamento. “Sorvete é um negócio de verão no Brasil. Tentamos sobreviver no inverno. Mas os últimos meses foram completamente atípicos. Em outubro, tivemos só dois domingos de sol. E em Belo Horizonte as pessoas não saem de casa com chuva”, diz Juliana Scucato, dona da sorveteria, que tem unidades no Bairro Funcionários, no BH Shopping e no Pátio Savassi.
Sem temporários
Todos os anos a sorveteria contrata cerca de 30% de funcionários temporários. “Este ano, por causa das chuvas, nem pensamos nisso”, afirma Juliana. A loja de rua, diz, sofre mais. “A nossa unidade do Funcionários sempre abriu no dia de Natal. No ano passado fechamos. Em dia de chuva as pessoas só querem ficar em casa comendo pipoca e vendo filme”, diz.
E, se for depender do tempo atual, os negócios da Casa do Vento, especializada em ventilação e exaustão, não sopram a favor. O pico de vendas da loja acontece de setembro a abril. “Nossas vendas são muito focadas no calor que faz durante a noite. Com as chuvas, a procura caiu em torno de 25% em relação a um período normal”, observa Thiago Andrade, supervisor de vendas. A loja está no mercado mineiro há 15 anos e teve neste ano a pior temporada de vendas do verão. “O nosso negócio depende diretamente do calor”, afirma Andrade. “Mas ainda acreditamos que tudo pode ocorrer nos próximos três meses. O calor pode chegar em uma semana e aí tentaremos recuperar o tempo perdido”, reforça.
Palavra de especialista
Jamil Moysés
coordenador de logística da Fundação Getulio Vargas
Nada é para sempre
“Entre perdas e ganhos, o importante é que os empresários não foquem os negócios em períodos curtos. Ninguém ganha por períodos longos com uma situação catastrófica como essa. É importante que o empresário que teve aumento nas vendas no período chuvoso guarde o dinheiro, pois as famílias tendem a reduzir o gasto no futuro. O orçamento das famílias não foi alterado em função das chuvas. O mesmo cliente que gastou com pneus e fez consertos inesperados no carro agora pode cortar a viagem de férias no futuro, o que afeta de outra forma os negócios do centro automotivo. E aqueles que perderam podem ganhar assim que a temporada de chuvas passar.”