A ascensão da classe C e a expansão do crédito na última década levaram às profundas mudanças nas despesas do orçamento familiar detectadas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) na atualização de ponderação dos itens componentes da família dos Índices de Preços ao Consumidor (IPCs), que apuram a inflação no varejo. A atualização entrará em vigor a partir de fevereiro.
Para economista da FGV André Braz, estes dois fatores explicam, por exemplo, a perda de força nos gastos com alimentos; e o aumento de interesse em comprar carros, apurados pela fundação. Embora tenha ressaltado que os IPCs abrangem famílias em diferentes classes sociais, com renda até 33 salários mínimos mensais, considerou que o consumidor de menor poder aquisitivo está incluído na abrangência do indicador - e pode ter ajudado a impulsionar as mudanças. "Com o aumento de renda do trabalhador, na última década, o consumidor mais pobre desloca seus gastos para outros tipos de consumo", explicou.
Braz minimizou o menor impacto dos gastos com educação no orçamento familiar na última década, também detectada na atualização de pesos dos IPCs. Ele lembrou que, no período, houve diminuição no número de filhos por família. Isso, na prática, ajudou a reduzir gastos familiares com educação.
Na formação dos Índices Gerais de Preços (IGPs), indicadores nos quais os IPCs representam 30%, o técnico informou que a atualização da ponderação vai contribuir para taxa de inflação menos intensa em 12 meses, ao longo de 2012, na família dos IGPs. Isso porque itens que aumentarão sua participação no cálculo da inflação varejista a partir de fevereiro, como bens duráveis por exemplo, não mostram sinais de elevação de preços expressiva este ano. Ao mesmo tempo, houve diminuição de importância da inflação em segmentos que costumam mostrar aumentos de preço todos os anos, tendo em vista reajustes programados de alguns de seus sub-itens - como educação, por exemplo, sempre pressionado por reajustes em mensalidades escolares.