A cada dois dias úteis cinco postos são identificados em Minas com irregularidades nas bombas de combustível, segundo balanço da Agência Nacional de Petróleo, Biocombustível e Gás Natural (ANP) referente ao período de janeiro a outubro do ano passado. Na lista de principais fraudes, a mistura de etanol acima da porcentagem permitida para a gasolina e também a porcentagem de biodiesel abaixo da concentração indicada para o óleo diesel. Nesse período, a ANP também autuou oito vezes postos que apresentaram problemas nas bombas abastecedoras, ou seja, que indicavam volume superior ao que efetivamente era colocado no tanque do carro do consumidor.
Entre as medidas a serem adotadas, o Procon-MG indica a necessidade de instalação de um termodensímetro nas bombas. O aparelho permite que o consumidor faça a conferência mais efetiva do volume abastecido. Também é solicitado pelo órgão que o número de fiscais do Ipem seja maior. Outra solicitação é que seja criado controle eletrônico das intervenções feitas nas bombas, permitindo verificar na internet situações de rompimento de lacre. “É preciso tomar medidas para atualizar a fiscalização. Essas são situações que o tempo se encarregou de desatualizá-la”, afirma o promotor de Justiça de Defesa do Consumidor, Amauri Artimos da Matta. Ele reitera que nos últimos anos o número de autuações referentes à qualidade diminuiu, mas, em contrapartida, aumentaram os casos de sonegação fiscal e golpes tecnológicos. “Fecha um porta e abre outra. E, infelizmente, sempre estaremos em atraso em relação às novidades criadas para lesar o consumidor”, afirma o promotor.
Fraude investigada Desde o ano passado, o Inmetro e a ANP investigam a fraude denominada “bomba baixa” em três estados (Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná). Trata-se de golpe em que o consumidor compra certa quantidade (30 litros, por exemplo) e deixa de receber uma parcela, mas com uso de aparelhos de alta tecnologia o marcador da bomba registra que foi feita a transferência total. Em Minas, por enquanto, não há registros do uso de tal equipamento, no entanto, não é descartado que numa das oito autuações feitas pela ANP referentes ao abastecimento insuficiente possa ter sido usado o mecanismo.
Isso porque a Agência Nacional de Petróleo não tem autonomia para fiscalizar as bombas, sendo usado na fiscalização apenas galões para medir a quantidade de combustível, deixando de ser verificado o uso de aparelhos que reduzem o total previsto para abastecimento. “Pode ter ocorrido”, sintetiza Aurélio Cesar Nogueira Amaral, Superintendente Adjunto de Fiscalização da ANP. Ele diz que nesses casos o equipamento é interditado e o Inmetro é chamado para normalizar. Mas, nesse período, é dada brecha para que o equipamento seja retirado da bomba e o posto volte a funcionar em circunstâncias normais.
O presidente do Minaspetro, Paulo Miranda, avalia que, por ser o mercado de combustível disputado em cada centésimo de real, em caso de suspeita de fraude, os empresários são os primeiros a denunciar o esquema do concorrente. “Ocorre uma vigilância constante. A diferença de R$ 0,10 pode ter grande impacto na concorrência”, afirma Miranda.
Preços em alta
O preço médio do litro de gasolina subiu 15,62% nos últimos dois anos na Grande BH, segundo pesquisa do site Mercado Mineiro. O levantamento mostra que o combustível custava R$ 2,394 em janeiro de 2010 e subiu para R$ 2,768 nesse mês. A maior parte do acumulado é referente ao aumento do ano passado, quando a variação foi de 13,4% em relação ao ano anterior, ou seja quase 10 vezes maior que o reajuste entre 2010 e 2009. Em relação ao etanol, a variação em dois anos foi ainda maior: 19,92%. O litro do álcool combustível subiu de R$ 1,822 para R$ 2,185, o equivalente a 19,92%.
Memória
Uma morte marca a caça às fraudes
Há 10 anos, o promotor de Justiça Francisco José Lins do Rêgo foi assassinado a mando do empresário Luciano Farah do Nascimento por apurar uma máfia responsável pela adulteração de combustíveis em postos da Grande Belo Horizonte. As investigações evidenciaram que a rede de postos West misturava solventes à gasolina. Depois de lacrar quatro postos do empresário, o promotor foi assassinado com 16 tiros na esquina da Rua Joaquim Murtinho com a Avenida Prudente de Moraes por um vigia de Farah. Pela morte, o empresário foi condenado a 21 anos e seis meses de reclusão. A rede de postos foi fechada.