Longe de provocar mais desalento aos combalidos mercados acionários, a desaceleração no ritmo de crescimento da China, anunciadanessa terça-feira , animou os investidores e levou as principais bolsas de valores a encerrarem o dia no positivo. Na Europa, maior destino dos produtos chineses, o índice que reúne os principais pregões atingiu a pontuação mais alta dos últimos cinco meses e fechou os negócios com valorização de 0,73%. Já no Brasil, o Ibovespa subiu 1,15%, voltou a operar acima do patamar de 60 mil pontos (60.645,90), maior nível desde 13 de julho do ano passado (60.669,89 pontos). O principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) foi puxado pela elevação de ações sensíveis ao aumento das commodities (produtos básicos, com cotação internacional). Nos Estados Unidos, o Dow Jones acompanhou o ritmo e encerrou o dia com ganho de 0,54%.
O Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu no ano passado 9,2%, percentual inferior aos 10,4% observados em 2010, mas acima das expectativas de mercado e da projeção de Pequim, que perseguia avanço em torno de 8%. Nos últimos três meses de 2011, entretanto, o crescimento foi de 8,9%, menor patamar dos últimos dois anos e meio. A desaceleração foi puxada pelo desaquecimento das exportações e do mercado imobiliário.
A leitura feita pelos analistas foi de que, apesar do desaquecimento em relação a 2010, o governo chinês está tendo sucesso em monitorar a perda de dinamismo na atividade interna, levando o país ao que, no jargão econômico, é conhecido como um "pouso suave". Além de entender que a China corre menos risco de uma queda brusca no ritmo de crescimento, os mercados passaram a cogitar a possibilidade de os representantes do país asiático aumentarem os estímulos à economia. "Os investidores estão se beneficiando das notícias da China, mas não devido ao resultado e sim porque a desaceleração cria espaço para uma rodada de estímulos", comentou Philippe Gijsels, chefe de pesquisas do BNP Paribas. "A boa notícia, na verdade, foi que a China não está despencando e, se esse crescimento for sustentado a taxas acima de 8%, ainda teremos no Brasil um bom mercado para as commodities", ponderou Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.
Para os economistas, a perda de ritmo da economia chinesa deve continuar nos próximos trimestres, o que, segundo eles, reforça o consenso de que as autoridades em Pequim devem voltar a estimular o mercado interno, desarmando os mecanismos de restrição monetária adotados nos últimos dois anos para controlar a inflação. Como a incerteza na Europa continua prejudicando as exportações do país asiático, o governo deve incentivar agora o gasto das famílias.
Redução no Brasil
A Organização das Nações Unidas (ONU) reduziu para 2,7% sua previsão para o crescimento do Brasil em 2012. Em relatório sobre a economia mundial, a entidade alerta que, após dois anos de "recuperação anêmica e recuperação desigual", por causa da crise financeira, a economia global "está à beira de outra grande recessão". No relatório anterior, a previsão da ONU para o avanço do PIB brasileiro em 2012 era de 5,3%. O corte na previsão para o país foi, portanto, de quase a metade da estimativa anterior.