Depois de quase dobrar o volume de vagas de trabalho criadas de 2009 para 2010, com cenário internacional desfavorável, o primeiro ano do governo Dilma Rousseff (PT) foi marcado por forte desaceleração na criação de empregos no Brasil. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que 1,94 milhão de vagas foram criadas no país no ano passado, ou seja, 598 mil a menos que em 2010. No comparativo entre os dois últimos anos, a desaceleração é de 23,54% e deixa o Brasil longe da projeção de novas vagas para o ano. Até julho, o ex-ministro Carlos Lupi mantinha no discurso a expectativa de se abrir 3 milhões novos postos de trabalho, o que ficou longe de ser concretizado. Em Minas, a freada foi ainda mais brusca: 30,88% vagas a menos no comparativo entre 2010 e 2011. No entanto, o estado foi o segundo na criação do emprego no período (206 mil), atrás apenas de São Paulo (551 mil).
Apesar da desaceleração do total de novas vagas em Minas, a Região Metropolitana de BH passou a apresentar as menores taxas de desemprego do país, segundo estudos da Fundação João Pinheiro (5,7% de pessoas sem emprego na Grande BH, até novembro). O efeito disso é o não casamento da vaga em oferta com o candidato disponível. No salão de beleza da pequena empresária Keila Aparecida Cezário da Silva, no Bairro Santa Tereza, na Região Leste de BH, a procura por novos profissionais para compor o quadro dura mais de um ano. Até faixa com a oferta das vagas ela pendurou na entrada do estabelecimento, mas ainda assim não conseguiu contratar. A consequência, segundo ela, é a perda de clientes em horários concorridos e a impossibilidade de aumentar o faturamento. “Preciso de duas manicures e dois cabeleireiros para a equipe. Assim, poderia aumentar em até 30% meu faturamento”, afirma. Com três profissionais a menos, a solução é improvisar: depilador vira esteticista, manicure e cabelereiro. “Vai no improviso”, diz ela.
A analista de Pesquisa e Ensino da Fundação João Pinheiro, Flávia Xavier, avalia que o crescimento do número de empregos com carteira assinada no estado resistiu ao tsunami econômico registrado mundo afora ao longo do ano passado, mas ela não descarta que a Grande BH passe por uma “reacomodação” nos primeiros meses deste ano. “Em algum momento vamos sentir os efeitos da crise, mas não acredito que sejam fortes”, afirma.
Força tarefa para a Copa
O governo de Minas e associações ligadas ao comércio e à prestação de serviços montaram uma força-tarefa para qualificar mão de obra para a Copa das Confederações, que será realizada em 2013, e para a Copa do Mundo, no ano seguinte. Em 2012, a expectativa é oferecer 42 mil vagas em cursos voltados para profissionais e pessoas que desejam trabalhar como guias turísticos, auxiliares de cozinha, taxistas, entre outros. O projeto, que demandará investimento em torno de R$ 45 milhões, é fruto de uma parceria entre a Federação do Comércio de Bens, Turismo e Serviços do Estado de Minas Gerais (Fecomércio), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Serviço Social do Comércio (Sesc) e secretarias estaduais de Trabalho e Emprego (SET), Turismo (Setur) e Extraordinária da Copa do Mundo (Secopa).
A força-tarefa foi montada ontem, quando os titulares das secretarias e diretores das entidades assinaram um termo de cooperação técnica para ações conjuntas voltadas à qualificação profissional. O chamado apagão de mão de obra especializada em alguns setores é uma das barreiras a serem superadas em todo o país. Tanto em Minas quanto em outros estados, diversos setores têm dificuldades de encontrar profissionais capacitados. “Esta é uma triste realidade no Brasil. É uma preocupação nossa. O governo está tomando providências. Não basta apenas o poder público estar interessado e ter dinheiro. É preciso respaldo da sociedade”, avalia Carlos Pimenta, titular da SET.
O chamado apagão de mão de obra preocupa os empresários do turismo, pois, de acordo com as previsões da União, 600 mil estrangeiros devem visitar o Brasil durante a Copa. Destes, ainda segundo o governo, 170 mil devem passar por Minas. “É importante a qualificação tanto em Belo Horizonte quanto nas cidades do interior que vão receber os turistas. Na capital, a demanda maior é no setor hoteleiro”, explica Agostinho Patrus Filho, secretário de Turismo. A grade de cursos que serão oferecidos pela força-tarefa está sendo estruturada pelo Senac. A lista poderá ser acessada no site www.mg.senac.br. “(A ideia) é atingir todas as cidades com potencial para atender o turismo da Copa”, destaca José Carlos Cirilo, diretor do Senac em Minas.