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Estado de Minas

Correntistas não sentem a queda de juros

As reduções consecutivas da Selic, promovidas pelo BC de agosto até este mês, ficaram longe dos correntistas


postado em 26/01/2012 06:00 / atualizado em 26/01/2012 06:43

Os cortes na taxa básica de juros (Selic) estão longe de beneficiar a clientela. Entre os oito grandes bancos do país, que representam quase 90% dos consumidores, os repasses desses ajustes foram praticamente inexistentes. Em algumas instituições registrou-se inclusive elevação dos custos dos financiamentos exatamente no período em que o Banco Central derrubou a Selic de 12,50% ao ano para 10,50% — entre agosto e este mês. Cheque especial e crédito para aquisição de bens foram os segmentos nos quais as taxas mais subiram, sobretudo entre as instituições privadas. Para especialistas, os números mostram que a Selic está em patamar excessivamente elevado, acima do que poderia ser considerado uma taxa ideal para a economia, e pior: que a política monetária perdeu potência depois da crise de 2008. Os bancos também têm sua fatia de responsabilidade porque não querem abrir mão de suas elevadas margens de lucro.

Uma ala do mercado financeiro defende que, devido à moderação em curso do emprego e com o crédito se expandindo em menor ritmo, dificilmente um corte moderado na Selic levaria o consumo para níveis de maior robustez. “A inadimplência também está elevada e vai manter o crescimento do crédito em ritmo moderado”, explica a economista Zeina Latif. Segundo ela, a política monetária “perdeu tração” porque o canal de crédito, no qual parte das decisões do BC se transmitem, ficou desgastado. “Esse canal não vai estar tão ativo, sobretudo porque nossa taxa de juros está muito elevada. Aquela que seria a taxa de equilíbrio estaria abaixo do nível atual”, pondera.

Uma simulação da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) ilustra que, na última reunião do Copom, qualquer que fosse o corte, desde que entre 0,25 ponto percentual e 1 ponto percentual, os efeitos seriam mínimos sobre os custos das operações de crédito. “Este fato ocorre uma vez que existe uma diferença muito grande entre a taxa Selic e as taxas de juros cobradas aos consumidores – que na média da pessoa física atingem 114,84% ao ano –, o que provoca uma variação de mais de 900% entre as duas pontas”, observa Miguel Oliveira, vice-presidente da Anefac.

Mesmo se o Banco Central tivesse derrubado a Selic de 11% ao ano para 10% (corte de um ponto percentual) o efeito sobre o crédito seria pequeno. Em um financiamento de R$ 500 parcelado em 12 vezes, o impacto seria uma economia de R$ 0,28 em cada prestação. Na compra de uma geladeira de R$ 1,5 mil no crediário, também dividido em 12 meses, as parcelas seriam reduzidas em R$ 0,77.

José Luís Rodrigues, diretor da JL Rodrigues, resume a situação do crédito no país. “Está muito apertado. A captação para os bancos menores está mais cara e o custo das operações elevado”, critica. A reportagem fez uma pesquisa nos bancos de dados do Banco Central e observou que no caso do cheque especial, dos oito maiores bancos, quatro elevaram o custo da operação entre agosto e janeiro, exatamente quando a Selic despencou dois pontos percentuais (veja quadro). O Santander, procurado pela reportagem, informou que está analisando a última decisão da reunião do Copom. O Bradesco, em nota, disse que não houve aumento nas taxas. As outras instituições citadas na reportagem foram procuradas, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.


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