A geração de empregos surge como o principal desafio do mundo capitalista, em meio à recessão iminente em que a Europa e os Estados Unidos se lançaram, afetando principalmente os jovens, agora descontentes nos países desenvolvidos. Foi esse o tema central de discussões entre líderes políticos e empresariais antes mesmo da abertura oficial do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O evento começou com um acalorado debate sobre o modelo econômico. O capitalismo do século 20 estaria falhando em atender a sociedade do século 21? "Sim, perdemos a bússola moral", afirmou a secretária-geral da Confederação Sindical Internacional (ITUC, na sigla em inglês), Sharan Burrow.
O contingente de desempregados na França atingiu a cifra de 4,53 milhões de pessoas, o mais alto desde 1999, de acordo com estatísticas divulgadas ontem pelo governo em Paris. Nas dezenas de debates diários que a agenda do Fórum de Davos oferece, a maioria deles fechados à imprensa, serão abordados também temas como gestão energética, segurança, novas lideranças, a criatividade no trabalho e a mente e a máquina. Vários chefes de Estado e de governo estarão presentes, entre eles, o mexicano Felipe Calderón, o peruano Ollanta Humala, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, e o secretário americado Tesouro, Timothy Geithner.
Ao discursar na abertura do Fórum, a chanceler (premiê) da Alemanha, Angela Merkel, disse que os países desenvolvidos ainda não aprenderam "lições suficientes" da crise financeira de 2008, quando as nações desenvolvidas começaram a sofrer com o desemprego, mas que a turbulência na Zona do Euro não afetará as ambições do "projeto europeu" descartando as ameaças de ruptura da moeda única e da própria União Europeia.
"Frequentemente nos perguntam que lições aprendemos a partir da crise de 2008 e se foram suficientes. Sendo realista, ou até pessimista, creio que a única resposta é que ainda não aprendemos lições suficientes", disse. Ainda é necessário avançar para tornar o sistema financeiro mais seguro, avaliou a alemã, que ao lado do presidente francês, Nicolas Sarkozy, é tida como a grande articuladora, em meio à crise que abala a zona do euro.
Para David Rubenstein, co-fundador e diretor do fundo de investimentos americano Carlyle , o que o Ocidente tem que fazer é reconhecer problemas graves. "Creio que teremos de três a quatro anos para melhorar o modelo econômico vigente e se não o fizermos rapidamente perderemos a oportunidade de competir com o capitalismo do mercado emergente ou capitalismo de Estado", afirmou.
Memória
Um palco para o Brasil no mundo
Maior encontro mundial de líderes governamentais e empresariais, o Fórum Econômico Mundial teve seus encontros em Davos, na Suíça, nos últimos anos marcados pela contestação de que a economia mundial enfrenta graves problemas e pela presença mais incisiva do Brasil nas discussões. Em 2003, o fórum serviu de palco para o primeiro evento público do então eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que discursou e chamou a atenção do mundo ao defender mecanismos de controle sobre o fluxo de capitais internacionais para evitar a ação de especuladores sobre as economias de países. De lá para cá, Lula discursou novamente em 2007, veio a crise de 2008 e o alerta de que os pacotes bilionários dos países para salvar bancos e empresas seriam um tiro no pé. E foi, a crise de agora, cantada no fórum em 2009, refere-se ao gigantesco endividamento dos EUA e de países europeus. Como é apenas um fórum, não gerou nenhuma medida concreta para abrandar as turbulências econômicas. Em 2010, Lula foi homenageado.