A inflação medida em janeiro pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) traz expectativa de pequeno alívio para o bolso do inquilino brasileiro, que no ano passado arcou com índices de reajustes bem acima da alta do custo de vida no país. O IGP-M, usado para balizar os contratos de aluguel, registrou elevação de 0,25% no primeiro mês do ano, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). Apesar do aumento na comparação com dezembro, quando o índice desacelerou fechando em deflação de 0,12%, o percentual está bem abaixo do registrado em janeiro de 2011, que apresentou alta de 0,79%.
A expectativa para 2012 é de que o dragão fique um pouco mais manso do que no ano passado, quando os reajustes chegaram a atingir valores equivalentes ao dobro da inflação. Os preços dos aluguéis de imóveis procurados pelas classes A e B sinalizam para a estabilidade, mas, na outra ponta, a população de renda média e baixa ainda deve conviver com o reajuste de contratos acima da inflação “Para os imóveis mais caros pode haver até mesmo deflação em 2012. Já para a classe média e baixa os preços devem ficar levemente acima”, observa o presidente da Câmara do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI-MG), Ariano Cavalcanti de Paula. Segundo ele, a pressão da demanda ainda continua forte para locação de imóveis de valores mais baixos.
No ano passado o IGP-M medido pela FGV fechou o ano em alta de 5% e abre janeiro registrando 4,5%, no acumulado de 12 meses. O coordenador do índice pela FGV, o economista Salomão Quadros, explica que o peso das commodities, reunindo os produtos agrícolas, minerais e ainda algumas mercadorias industrializadas, varia de um terço a 40% na composição do índice, o que pressionou a desaceleração em dezembro. “No fim do ano passado os preços das commodities caíram consideravelmente”, pondera.
A previsão é de que nos próximos dois meses o IGP-M siga trajetória de estabilidade ou até mesmo de queda. “Se não houver grandes mudanças na economia, nos próximos dois meses não há razões para um novo ciclo de inflação”, diz Quadros. Em janeiro a alta das commodities pressionou o índice, já em fevereiro a tendência é de que os preços agrícolas tenham peso menor aliviando o peso dos produtos industriais, que não devem inverter trajetória de queda, evitando assim a alta da inflação.
DIFICULDADE A babá Maria Aparecida Silva não acompanha a variação do IGP-M, mas em casa percebe a pressão do índice. Há mais de dois meses ela e sua irmã procuram um imóvel para alugar. Sua preferência é por uma casa de dois quartos ou barracão na Região Centro-Sul, sem custos de condomínio. “Está muito difícil encontrar uma casa. Quando achamos alguma coisa o preço é três vezes maior do que o nosso aluguel atual. O prazo que a dona do imóvel nos deu para mudar já acabou.” Segundo Maria Aparecida, a despesa com o novo contrato deverá consumir perto de 50% da renda familiar.
Em Belo Horizonte, o preço da locação residencial registrou alta de 10,47% no ano passado, enquanto a inflação medida na capital mineira ficou em 7,22%. A oferta de imóveis para locação cresceu 32,15% em 2011 ante queda de 7,64% em 2010, segundo dados da CMI-MG, Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (Secovi-MG) e a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas (Ipead), vinculado à UFMG.
No segundo semestre de 2011, apesar da queda internacional das commodities, a alta do câmbio, que chegou a acelerar 20% no Brasil batendo na casa de R$ 1,90, provocou efeito contrário nos preços do mercado interno. Segundo Salomão Quadros, a medida contribuiu para a aceleração do IGP-M. “Agora os preços já não sofrem essa pressão do câmbio.” Outro indicativo de que a inflação pode perder fôlego neste ano é o relatório Focus, no qual, pela nona semana os bancos reduziram para 5,28% a previsão da inflação oficial para este ano.
Consumidor com o pé atrás
A inflação deve ser o freio para as compras do consumidor brasileiro este ano. Foi o que mostrou Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo a pesquisa, os brasileiros começaram 2012 menos propensos a consumir do que estavam há um ano, no primeiro mês de 2011. Apesar de o indicador ter ficado praticamente estável nos últimos meses, o resultado de janeiro foi 1,5% inferior ao obtido no início do ano passado.
Na comparação com dezembro, o índice de expectativa do consumidor até subiu um pouco, com variação positiva de 0,2%. Mas, como a própria CNI destaca no documento, “o índice encontra-se em patamar elevado na comparação com a série histórica, mas o otimismo já foi maior”.
A maior preocupação dos consumidores continua sendo a inflação, com 69% dos entrevistados esperando uma alta nos preços nos próximos meses. Foi justamente esse quesito que puxou o Inec para baixo na comparação anual. Neste mês, esse componente do indicador piorou 7,5% em relação a janeiro de 2011.
Emprego
Além de temer a inflação, o brasileiro está apreensivo com o mercado de trabalho. A expectativa dos consumidores em relação ao emprego ainda é 3,1% pior do que a verificada em janeiro de 2011. A CNI destaca, porém, que essa variável inverteu a tendência de agravamento do pessimismo que vinha sendo registrada nos meses anteriores. De acordo com o economista da CNI, Marcelo Azevedo, o maior otimismo das pessoas com o crescimento das vagas no mercado de trabalho se deve à confiança em que os contratos temporários para as vendas de fim de ano sejam efetivados neste início de ano. Da mesma forma, mesmo melhorando na comparação com dezembro, o endividamento das famílias ainda é 4,4% superior ao verificado no começo do ano passado.
As expectativas em relação à renda pessoal também estão piores, 0,9% mais baixas. Dentre as diversas perguntas feitas aos entrevistados, a que obteve melhor desempenho na comparação com janeiro de 2011 foi a que aborda a disposição dos consumidores em fazer compras de bens de maior valor. Mesmo com uma queda de 1,7% ante dezembro, o resultado ainda é 2,2% superior ao registrado no início do ano passado. Outro indicador que melhorou foi o da avaliação sobre a situação financeira do país, com índice 1% acima ao registrado em igual período de 2011. Para Azevedo, o 13º salário ainda pode ter participação nesse maior otimismo, em relação à situação financeira e ao endividamento.