O Banco Santander, número um da zona do euro por capitalização, apresentou forte queda de seu lucro líquido no quarto trimestre de 2011, após ter realizado importantes gastos para proteger seus ativos imobiliários de maior risco, segundo cifras publicadas nesta terça-feira.
O lucro líquido do banco subiu 47 milhões de euros (quase 62 milhões de euros), uma queda de 98% com relação aos 2,101 bilhões de euros (2,770 bilhões de dólares) publicados no mesmo período de 2010. A cifra é bastante inferior às expectativas dos analistas, sendo que o consenso citado pelo DowJones Newswires havia previsto 1,7 bilhão de euros.
O produto bancário apresentou alta de 8,7% no período, para 7,970 bilhões de euros, desta vez um pouco melhor que o previsto pelo mercado (7,720 bilhões). Segundo o banco, o lucro foi sacrificado para a realização de "provisões extraordinárias", concentradas no quarto trimestre, por um montante total de 3,183 bilhões, fundamentalmente para proteger seus ativos imobiliários de risco.
Dessa mesma soma, mais da metade (1,812 bilhão) dizem respeito aos ativos imobiliários do Santander, na Espanha, um país afetado pela crise desde o estouro da bolha do setor da construção em 2008. Em "um contexto econômico pouco favorável", a estratégia do grupo Santander "foi conservadora", disse em uma coletiva com analistas o diretor-geral da entidade, Alfredo Saénz.
No conjunto do ano de 2011, o Santander pagou o preço por essas fortes provisões, com um lucro líquido 35% menor que o de 2010, a 5,351 bilhões de euros, enquanto que seu produto líquido bancário aumentou 5,5%, a 30,8 bilhões.
Esta precaução foi bem recebida na Bolsa de Madri, onde a ação subia 0,99%, a 6,057 euros às 11H00 GMT (9H00 de Brasília), em um mercado em alta de 0,58%. Pela primeira vez na história do grupo, as filiais da América Latina foram responsáveis por mais da metade do lucro (51%): o Brasil somou 28%, México 10% e Chile 7%.
Os negócios do Santander na Europa Continental representaram 31% do ganho total, com 12% referente ao Reino Unido. A rede do Santander na Espanha respondeu por apenas 9% do lucro. O setor bancário espanhol está muito fragilizado desde o estouro da bolha imobiliária, em 2008: depois de ter emprestado dinheiro de maneira desenfreada, agora se encontra com 176 bilhões de euros em créditos problemáticos e com um pacote de imóveis e terrenos embargados, cujo valor tem apresentado forte queda.
Para fazer frente a este risco, as autoridades espanholas foram obrigadas nos últimos anos pelos bancos do país a aumentar suas provisões, ainda que não o suficiente. O ministro de Economia, Luis de Guindos, disse recentemente que o setor precisava de 50 bilhões de euros adicionais para sanear-se completamente e pediu às entidades para descontar esse valor dos lucros, algo que já começou a ser feito.
Por exemplo, o terceiro banco do país, CaixaBank, que publicou seus resultados na semana passada, reservou 1,039 bilhão durante esse ano de forma "extraordinária", 61% mais que em 2010. O conselho de ministros espanhol aprovará no início da próxima sexta-feira uma nova reforma do setor, tal como anunciou na segunda-feira em Bruxelas o presidente do governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy.
"A nova normativa é pouco transparente, não sabemos muito dela", lamentou na terça-feira Alfredo Saénz, explicando que por isso o Santander quis dar um passo à frente nas provisões. O Grupo Santander conta com 193.349 trabalhadores em todo o mundo (91.887 apenas na América Latina), que atendem a 102 milhões de clientes em 14.756 filiais (6.046 na América Latina).