O futuro em que nossos celulares serão também cartões de crédito pode não estar tão distante. Operadoras de telefonia móvel, bancos e bandeiras de cartões brasileiras, no encalço do que já é praticado em países como Itália, Espanha e Japão, prometem ainda para este semestre a estreia em larga escala de seus serviços no chamado mobile payment (pagamento móvel). Com 123,8 celulares para cada 100 habitantes no país, segundo a Agência Nacional das Telecomunicações (Anatel), o telefone móvel é a próxima fronteira da bancarização – são mais de 242 milhões de clientes em potencial para os serviços, que, ao contrário do que muita gente imagina, muitas vezes dispensam aparelhos mais sofisticados.
O Brasil fechou o último ano com 198,2 milhões de aparelhos pré-pagos e 44 milhões de pós-pagos. “Esse cenário coloca o pagamento pelo celular em perspectiva inevitável para que os bancos possam ampliar a sua atuação, com perspectiva de permitir acesso a uma população até hoje não bancarizada”, opina o presidente da Onda Mobile Communication para a América Latina, Vincenzo Di Giorgio. O que falta, na avaliação dele, é conversa mais abrangente entre grandes redes e bancos, na compreensão de que a criação de um padrão pode ser canal mais interessante que o acirramento da concorrência.
Das ideias em avaliação pelas grandes empresas do setor, a mais avançada vem da Oi Paggo, empresa criada pela Oi e pela Cielo para pagamentos móveis. O produto, que está em testes em alguns estados do Nordeste, chega ao Sudeste até o meio do semestre. Também ganha pontos pela simplicidade: usa as próprias máquinas de débito e crédito da Cielo. Em vez de as informações bancárias chegarem à maquininha via cartão de plástico, chegam com a digitação do número do telefone celular. A partir daí, a operação segue o procedimento já conhecido, com a digitação da senha e a autorização da transação por parte da instituição bancária.
Previamente, é preciso adquirir um cartão de crédito da Oi, na mesma modalidade dos similares de lojas de departamento. A fatura em que a conta será debitada é a do cartão, não a do celular. “Isso porque as legislações, regulamentações e tributações dos serviços de telecomunicações são totalmente diferentes das usadas pelo setor financeiro. Como as duas áreas não conversam legalmente, são dois produtos separados, cobrados igualmente à parte”, explica Gabriel Ferreira, diretor de Produtos Financeiros da Oi.
O produto, a princípio, funciona exclusivamente para a base de clientes da operadora. “Mas entendemos que é interessante ganharmos penetração de mercado a partir de parcerias que tornem o produto multibandeira, a partir dos devidos acordos com outras operadoras”, diz Ferreira. “Imagino que possa haver convergência, a ideia é podermos usar as redes já existentes”, sinaliza Carlos Roseiro, responsável pela área de m-financial da Tim. Na avaliação dele, falta ainda “conforto regulamentar”: “Com a criação de condições, certamente o mobile payment vai adquirir sentido mais amplo e o celular poderá, de fato, tornar-se uma carteira digital.
A próxima fronteira tecnológica é a introdução de celulares equipados com o sistema chamado Campo de Comunicação Próxima (NFC, na sigla em inglês). Os tradicionais rumores de mercado acerca dos próximos lançamentos da Apple indicam que o iPhone 5 virá preparado para fazer pagamentos usando NFC. Se confirma a tradição da marca da maçã como ditadora de tendências, este pode ser o ano do NFC. Nenhum aparelho com a tecnologia (veja como funciona no quadro ao lado) foi homologado pela Anatel, mas tem gente só esperando que isso aconteça.
“Internacionalmente, nosso sistema já conversa com aparelhos da Samsung e da Rim (fabricante dos Blackberries). Com o início da venda dos equipamentos no Brasil, poderíamos já começar a operar imediatamente”, explica Luiz Guilherme Roncato, vice-presidente de plataformas inovadoras da MasterCard Brasil e Cone Sul. A implantação depende de um aparelho capaz de dialogar com o celular via NFC, em cada estabelecimento comercial. A vantagem é que o padrão é internacional, o que facilita as compras em viagens ao exterior. Na prática, uma conta convencional é articulada com o aparelho, que funciona como um cartão de crédito. O Google Wallet, plataforma da gigante das buscas para o setor, funciona da mesma forma.
A evolução do merchandising
Ao assistir a um filme, seriado ou telenovela no celular, você quer comprar os óculos usados pela personagem. Clica sobre o acessório e tem acesso a uma aba com as informações gerais do produto. Com mais um clique, é possível efetuar a compra a partir do próprio aparelho. A ideia integra o protótipo do Mobilitate, startup de Belo Horizonte que desenvolve plataforma de publicidade para vídeos móveis. “Estamos desenvolvendo o modelo de negócios para definir em que parte da cadeia de valor da publicidade o produto vai se inserir. Funcionaria como um complemento aos vídeos que já existem”, conta Deborah Folloni, de apenas 18 anos, uma das donas da ideia. O projeto, desenvolvido com a parceria de Paulo Khouri, integra o Startup Farm, um programa de aceleração para jovens empresas de tecnologia em BH. “Já está mais do que provado que as pessoas detestam ter seus vídeos interrompidos pela propaganda. Aproveitamos isso e a mobilidade dos celulares para criar um negócio de alto potencial.”