Extrema – Quem não conhece Extrema, no Sul de Minas, pode até achar estranho, mas a cidade mineira mais próxima da divisa com o estado de São Paulo lembra um pedacinho da Suíça ou da Bélgica. Afinal, lá estão a Barry Callebaut e a Kopenhagen, especializadas em chocolates, produto símbolo dos dois países europeus. A cidade ainda abriga uma unidade da Bauducco voltada para a produção de biscoitos recheados. Juntos, os três empreendimentos empregam cerca de 2 mil pessoas. Em época de grande demanda, como Páscoa e Natal, o número sobe pelo menos 30%, pois mais de 600 operários, segundo estimativa da administração municipal, são contratados em regime temporário. O clima da cidade, no sopé da Serra da Mantiqueira, favorece o manuseio do chocolate.
O Grupo CRM, dono das marcas Kopenhagen, Brasil Cacau e Dan Top, ergueu uma fábrica entre as montanhas de Extrema em agosto de 2010. A unidade ocupa uma área de 31 mil metros quadrados e demandou aporte, naquele ano, de R$ 100 milhões. Os pouco mais de 800 funcionários do local são responsáveis pela produção de todos os chocolates, balas e confeitos do grupo.
Um dos colaboradores da fábrica é o mato-grossense Sérgio Gonçalves, de 32 anos. Ele é operador de produção e mora em Pedra Bela, cidade do interior paulista a cerca de 30 quilômetros de Extrema. “Costumo vir trabalhar no ônibus (fretado pela empresa). A viagem dura em torno de 40 minutos. Às vezes, como aconteceu hoje, venho de moto. Cheguei à região para ajudar um amigo num trabalho. Gostei tanto daqui que decidi ficar. Não foi difícil conseguir esse emprego, pois o mercado de trabalho está aquecido na região. Recebo cerca de R$ 2 mil e estou satisfeito”, comemora o rapaz.
Perto da fábrica da Kopenhagen, no lado oposto da Rodovia Fernão Dias, funciona uma unidade da belga Barry Callebaut. A empresa, que também precisa recorrer à mão de obra de cidades vizinhas, investiu R$ 28 milhões no projeto. O recurso garante o emprego de 300 homens e mulheres na fábrica, considerada a maior produtora de chocolates como matéria-prima do planeta. A fábrica, que se destaca no alto de um morro, foi inaugurada em maio de 2010.
Já a Bauducco, fundada em São Paulo por um imigrante italiano, foi a pioneira do setor de alimentos em Extrema. Em 2000, a empresa inaugurou sua unidade no local. O empreendimento, responsável pela produção dos chamados recheados e de outras guloseimas, é a maior entre as cinco fábricas do grupo (as outras quatro estão em São Paulo). A Bauducco está construindo, ainda em Extrema, um centro de distribuição que deve ser concluído em abril.
A jovem Maiara Lopes, de 21 anos, moradora do município de Vargem (SP), é uma das cerca de 900 pessoas que trabalham na Bauducco. “Deixei emprego de secretária, na minha cidade, para ocupar uma vaga na linha de produção”, conta a garota, enquanto se prepara para mais uma jornada de trabalho. Ela acorda antes de o sol nascer, pois não pode perder o ônibus fretado pela empresa que a leva a Extrema, onde bate cartão às 6h. O esforço, garante, vale muito a pena.
“Meu salário atual é aproximadamente 50% maior do que o do antigo emprego”, explica a jovem, que se prepara para prestar vestibular para administração de empresas. A disputa pela mão de obra na região levou algumas companhias a recorrer à população de municípios que ficam a até 100 quilômetros de Extrema.
Hotéis
Como muitos trabalhadores vêm de fora, a rede hoteleira da cidade também comemora.Na Pousada Varanda, metade dos leitos é ocupada por hóspedes que vieram trabalhar. “Temos interesse em construir outro hotel, num terreno já nosso, perto daqui. A intenção é aumentarmos o empreendimento para 100 leitos. Há mercado para isso”, avalia Geralda Luiza de Oliveira, sócia da pousada, a poucos quarteirões do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Lá, também funciona o balcão de empregos mantido pela prefeitura e Sinmec.
A coordenadora de Recursos Humanos do órgão, Camila Carvalho, cita um número para reforçar os bons ventos a favor da economia de sua cidade: “Nos últimos três anos, em média, 600 pessoas foram contratadas a cada 12 meses com a ajuda do balcão”. O número real, no entanto, é muito maior. Isso porque o dado do balcão da prefeitura não inclui as vagas preenchidas por outras oito agências de empregos que funcionam no município. De qualquer forma, a oferta de vagas refletiu no crescimento expressivo da população de Extrema na última década, de 19,2 mil habitantes para 28,2 mil (aumento de 46,8%), conforme o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No rastro da explosão populacional, veio o salto da frota de veículos, cuja estatística é importante em razão de ser um dos indicadores de aumento no poder aquisitivo das famílias de qualquer cidade brasileira. Em Extrema, a quantidade de carros, motos, caminhões e ônibus subiu 160% nos últimos 10 anos, de 4,6 mil unidades, em 2001, para 12 mil em 2011, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Por enquanto, a geração de empregos vem beneficiando a cidade. Resta saber se Extrema está preparada para continuar crescendo.