As medidas adotadas no fim de 2010 pela equipe econômica da presidente Dilma Rousseff para frear a oferta de crédito no país refletiram no ritmo de compras dos brasileiros, mas não foram suficientes para esfriar totalmente o ânimo para o consumo. As vendas do varejo brasileiro cresceram 6,7% em 2011, abaixo do registrado no ano anterior (10,9%). Já em Minas Gerais o percentual de alta apurado no ano passado foi de 10%, superior à média nacional, porém abaixo do registrado em 2010, quando o índice a expansão havia sido mais forte, de 11,4%. Os números foram divulgados nessa terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O aumento dos negócios do varejo em menor ritmo tanto em Minas quanto no país também é justificado por outros fatores, como a alta taxa de juro de mercado, a inflação elevada e o receio de que a crise financeira internacional chegasse com impactos maiores do lado de cá do Atlântico. No ano passado, segundo relatório do IBGE, o crescimento da renda no país foi mais modesto, de 3,4%, o que também pode ter refletido na expansão das vendas. Sem tanto dinheiro vivo no bolso, boa parte dos consumidores optou pelo pagamento a prazo. Pesquisa feita pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH) em dezembro constatou que 64,27% dos empresários sondados pela entidade avaliaram que a maioria dos consumidores pagariam as compras de Natal com o cartão de crédito.
A possibilidade do pagamento a prazo, apesar de aliviar a venda, pode aumentar o preço do produto. Por isso, muitos brasileiros estão preferindo juntar o dinheiro para contar com as vantagens do pagamento à vista. Sabendo disso, o porteiro Francisco Leocádio economizou parte dos últimos salários para comprar o sonhado aparelho de som que, nessa terça-feira, adquiriu numa loja no Centro da cidade. “Paguei R$ 496 à vista. Sabe quanto a loja estava pedindo? Vou lhe dizer:
R$ 599”, contou o rapaz, que economizou cerca de 18%, em razão de ter optado por não parcelar a compra. O grupo de eletrodomésticos e móveis, inclusive, foi o que mais cresceu em 2011 tanto no Brasil, com salto de 15,3%, quanto em Minas, com alta de 31%, segundo o IBGE. Nesse caso, o estímulo foi do governo, que reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a chamada linha branca (fogões, geladeiras, máquina de lavar e tanquinhos) no fim do ano passado. A medida visou estimular a indústria, que reclamava de queda nas vendas.
Mantega ‘rema’ a favor de 4,5%
Brasília – Apesar do intenso tiroteio da oposição e de já ter conversado com a presidente Dilma Rousseff sobre a sua possível saída do governo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez questão de ressaltar nessa terça-feira que continua firme em suas funções. Ao ser questionado pelo Estado de Minas se continuará no comando da equipe econômica, ele afirmou: “Vou, sim, continuar remando (a economia) como tenho remado já há seis anos”. E emendou: “Temos o desafio de remar contra a corrente enquanto o mundo inteiro está desacelerando, inclusive os países emergentes”. Ele destacou ainda serem “piadas de mau gosto” as notícias sobre seu pedido de demissão.
Na avaliação de Mantega, a China, principal parceiro comercial do país, terá incremento menor neste ano do que em 2011 e o mesmo ocorrerá com a Índia. O Brasil, no entanto, dará um salto maior neste ano do que no anterior. “Vamos perseguir um aumento de 4,5% para o PIB (Produto Interno Bruto)”, ressaltou. Para o ministro, esse resultado é perfeitamente factível. “Antes, tínhamos dito que, se a crise fosse solucionada, o crescimento seria de 5%. Mas, se a crise persistir, o resultado será de 4%. Decidimos que 4,5% é uma margem adequada para perseguirmos.” Para Mantega, o Brasil tem hoje uma vantagem. “Temos um mercado interno forte.” Pelas suas contas, a economia brasileira será capaz de criar, neste ano, pelo menos 2,5 milhões de vagas com carteira assinada. Tudo joga a favor do consumo.