A China está mais presente do que nunca no Carnaval do Rio, uma vez que trajes e fantasias que enfeitam a festa popular são fabricados com tecidos sintéticos importados do país asiático, o maior fornecedor do mundo.
A poucas horas da abertura do Carnaval, as escolas de samba fazem os ajustes finais no vestuário que vão exibir nas noites de domingo e segunda-feira no Sambódromo, o 'templo do samba'. Centenas de trabalhadores se apressam em pregar lantejoulas e enfeitar com 'strass', que imitam brilhantes, os tecidos coloridos das fantasias e os carros alegóricos.
As pessoas se aglomeram nas lojas de 11 ruas do centro de Rio, na chamada Saara, Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega, onde o comércio popular ocupa mais de 600 sobrados, pertencentes a árabes e judeus que trabalham e convivem em paz há mais de 100 anos.
Compram máscaras, fantasias, chapéus, perucas e óculos enormes, com os quais se enfeitam para cair no samba nos inúmeros blocos de rua da cidade. A confecção das alegorias das escolas de samba é artesanal com as fantasias feitas por um time de costureiras que se esmeram nos 'barracos' das escolas, para dar conta da tarefa; mas a matéria-prima vem da China, como explicou à AFP Jonatan Schmidt, presidente da Associação Brasileira de Importadores Têxteis (Abitex).
"No Brasil, produzimos apenas 15% dos tecidos sintéticos de que precisamos para o Carnaval; o restante é importado em grande parte da China. O número de fantasias que vêm do exterior não é relevante, o importante é a matéria-prima que compramos", disse ele.
Em 2011, a produção têxtil brasileira registrou uma queda de 14,9%, enquanto as importações subiram 53% em relação ao ano anterior, indo para 1,085 bilhão de dólares, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reproduzidos pela imprensa local. A principal fonte de abastecimento foi a China, que possui "o maior parque industrial do mundo, com preços competitivos e boa qualidade, enquanto o Brasil não tem fábricas de tecidos sintéticos", o que obriga à importação, indicou Schmidt.
Nas Lojas Silmer, uma das maiores de vendas de fantasia do Rio, as pessoas fazem fila para as compras de carnaval. O encarregado dos negócios, Claudio Muniz, disse à AFP que cerca de "1.500 pessoas compram diariamente".
"Cinquenta por cento dos produtos vendidos vêm da China, sendo mais baratos entre 20% e 25% que os similares nacionais", precisou Muniz, destacando que em "90% das fantasias são empregados materiais chineses".
"O brasileiro procura, em geral, uma fantasia barata, descartável, fresca, que não precisa ser lavada ou passada. Tem que ser algo prático, e os tecidos como algodão, seda, não cumprem os requisitos. São caros e nada práticos", acrescentou Schmidt.
Mas os clientes nem sempre estão satisfeitos com os preços que consideram altos. Giovana, una representante comercial de 29 anos, passeou pelas muitas opções oferecidas pelas lojas Silmer buscando uma fantasia de havaiana. No final, comprou um colar por 1,68 dólar e "o resto, vai improvisar", disse ela à AFP.
"Vou levar isto aqui que custa 13 reais (7,55 dólares). O vestido que estava querendo sai por 80 reais (46,51 dólares), é muito caro, vou dar um jeito", comentou Andrea, uma advogada de 28 anos, que sairá de fada durante o Carnaval.
A compra de fantasias foi retomada há dois anos, quando "os carnavais de rua ganharam força", explicou Muniz. Segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), entre janeiro e novembro de 2011, a balança comercial no setor de têxteis foi negativa para o país em 3,409 bilhões de dólares, representando uma perda de 830 milhões de dólares superior à do ano anterior.
O Brasil exporta principalmente para a China - seu maior parceiro comercial - produtos primários e importa manufaturados, o que vem sendo motivo de susceptibilidades por parte da indústria brasileira, que se queixa de estar perdendo competitividade.
Esta semana, numa reunião em Brasília, o governo de Dilma Rousseff pediu ao vice-primeiro-ministro chinês, Wang Qishan, que seu país contenha as exportações em massa de calçados, têxteis e outros produtos como os carros, que inundaram recentemente o mercado brasileiro, informou uma alta fonte da Chancelaria.
No entanto, Schmidt insistiu em que o papel da China no carnaval do Rio de Janeiro "é fundamental" e explicou que se o governo "proibir as importações de tecido sintético, a confecção (de fantasias para o carnaval) simplesmente vai parar".