Os ministros das Finanças da Zona do Euro passaram desde a tarde de ontem até a madrugada de hoje negociando, em Bruxelas, um novo pacote de resgate financeiro à Grécia. Foram extensas as pressões sobre o primeiro-ministro Lucas Papademos, para que o país continue enxugando os gastos, melhorando as contas públicas para minimizar o risco de calote e, assim, continuar integrando o Eurogrupo. Até o fechamento desta edição, os representantes dos 17 países que compartilham o euro reunidos em Bruxelas não haviam definido a liberação dos aguardados 130 bilhões de euros (US$ 171 bilhões) para Atenas.
Já de madrugada (noite, pelo horário de Brasília) os ministros encontraram maneiras de reduzir a dívida da Grécia para entre 123% e 124% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) até 2020. As discussões continuavam, no entanto, porque a meta é enxugar a dívida helênica para 120% do PIB até 2020, alvo acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE) e a Comissão Europeia.
Para isso, será necessário o apoio dos credores privados do governo grego. Em um encontro paralelo à cúpula, representantes do Eurogrupo e da Grécia se reuniram com os integrantes do Instituto Internacional de Finanças (IIF), principal negociador dos bancos privados. Os credores concordaram em assumir uma perda maior sobre os seus bônus gregos, de 21%.
Apesar do impasse, os mercados financeiros mostraram otimismo em relação à aprovação do segundo pacote de ajuda financeira à Grécia para evitar um calote desordenado da dívida grega. Mesmo sem o resultado da reunião em Bruxelas, as bolsas europeias fecharam em alta ontem, alcançando o maior patamar em sete meses. O índice pan-europeu Stoxx 600 subiu 2,23 pontos, ou 0,84%, para 268,16 pontos – o maior nível de fechamento desde julho. A Bolsa de Londres avançou 0,68%. Em Paris, a bolsa teve ganho de 0,96% e em Frankfurt as ações registraram valorização de 1,46%. Em Milão, Madri e Lisboa as bolsas tiveram alta de 1,07%, 1,86% e 0,45%, respectivamente. Em Antenas, o índice das ações avançou 0,18%.
Impasse Um ponto espinhoso na reunião de ontem foi a proposta de que o BCE abra mão dos lucros sobre os títulos gregos que detém. O não acordo sobre a dívida grega levaria ao calote grego, podendo contaminar os demais países do bloco. Atenas está prestes a declarar moratória, uma vez que uma parcela de 14,5 bilhões de euros da dívida vence em 20 de março. O novo empréstimo, somado ao perdão de 100 bilhões de euros do passivo por parte dos credores privados, ajudaria a reduzir parte da colossal dívida grega, de 350 bilhões de euros, equivalente a 160% do PIB. Diplomatas e economistas, no entanto, acreditam que esse novo resgate não será suficiente. Para eles, a recuperação da combalida economia grega levará uma década ou mais.
Na semana passada, o Parlamento grego aprovou medidas de austeridade exigidas pela União Europeia, FMI e BCE como pré-condição para a liberação do novo empréstimo. O ministro das Finanças francês, François Baroin, disse pouco antes do início da reunião em Bruxelas que todos os elementos estavam colocados para que se alcançasse um pacto. O ministro de Finanças grego, Evangelos Venizelos, e até mesmo o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, disseram que estão “otimistas” sobre a possibilidade de a Eurozona liberar o desembolso de 130 bilhões de euros de que o país necessita para evitar a quebra antes de março.
Entenda o caso
Na última década, a Grécia gastou bem mais do que podia, com empréstimos que sufocavam a economia. Cofres públicos esvaziados e evasão de impostos deixaram o país em maus lençóis com a crise de crédito desencadeada a partir de 2008. Investidores relutam em emprestar dinheiro ao país e exigem juros bem mais altos.
O governo grego aceitou o primeiro pacote de ajuda dos países europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI), em abril de 2010. O fundo previa injetar 110 bilhões de euros ao longo de três anos e exigia em contrapartida plano de austeridade fiscal que aumentava impostos e reduzia salários do setor público. A rejeição popular foi o resultado.
Em junho do ano passado, veio a proposta do segundo pacote de ajuda, de cerca de 109 bilhões de euros, em recursos da União Europeia, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do setor privado. Também houve redução das taxas de juros e prazos de vencimento mais longos.
Ainda com o país à beira do colapso financeiro, os líderes da Zona do Euro anunciaram acordo com os bancos credores, que reduz em 50% a dívida da Grécia, em outubro. Com o plano, a dívida grega teria alívio de 100 bilhões de euros.
A convocação do plebiscito, que acabou nem acontecendo, enfraqueceu o governo e levou a oposição a pedir antecipação das eleições. O Parlamento, contudo, aprovou moção de confiança ao governo de Papandreou.
No fim do ano passado, a dívida grega ultrapassou 142% do PIB, a maior relação na Zona do Euro. O pacto de estabilidade assinado para que o país adotasse a moeda única europeia limitava essa dívida em 60%.
O parlamento grego (foto) aprovou dia 11 novos cortes orçamentários, somando 325 milhões de euros, incluindo reduções nos gastos com aposentadorias e benefícios de saúde, para tapar um último buraco nas restrições orçamentárias, que somam 3 bilhões de euros, exigidas pelos credores do setor privado este ano.
Nas ruas de Atenas, a aprovação do pacote de austeridade exigido pelos órgãos da Zona do Euro e pelo FMI desencadearam uma série de protestos violentos.