Além de ser uma cozinheira de mão cheia, dona Ana Paula Lopes dos Santos, funcionária de um movimentado restaurante do Bairro Planalto, pesquisa diariamente os preços estampados nas gôndolas dos supermercados e mercearias de Belo Horizonte. Há cinco semanas, ela pagou R$ 3,25 pelo quilo do feijão carioquinha, usado nos tradicionais tropeiro e tutu mineiro. Há sete dias, às vésperas do carnaval, ela foi ao mesmo local e se assustou com o valor do produto: R$ 4,98. A alta, de 53,2%, deixou a mulher “abismada”. “Decidi percorrer outros pontos de vendas e constatei que todos haviam aumentado o preço da mercadoria. Numa das lojas, custava R$ 5,20. O que aconteceu com o feijão?”
A resposta à pergunta de dona Ana Paula está no campo, onde a saca de 60 quilos do grão disparou 62,5% nos últimos meses, de R$ 80 para R$ 130. O aumento lá não demorou a chegar ao consumidor dos centros urbanos. Em Belo Horizonte, a subida no preço do feijão começou no início de fevereiro. No dia 8, a tradicional pesquisa da Secretaria Municipal Adjunta de Segurança Alimentar e Nutricional revelou que o quilo do carioquinha custava, em média, R$ 4,57. O coordenador da assessoria técnica da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Pierre Vilela, atribui o cenário à lei da oferta e da demanda e a problemas climáticos.
Ele explica que, no início de 2011, o produtor foi estimulado a apostar no feijão em razão do bom preço. A produção foi intensa e, devido à grande oferta, o preço da saca fechou em R$ 80. O valor não empolgou os agricultores, que reduziram a área dedicada ao grão na atual safra. Para piorar, em janeiro, a chuva em Minas e a seca no Paraná reduziram a demanda da mercadoria. “O feijão está chegando ao consumidor em pouca quantidade e em baixa qualidade. Por isso o produto bom está caro”, concluiu Vilela, acrescentando que a saca de 60 quilos atingiu os R$ 130.
A queda na produção é ilustrada ainda por alguns dados da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). Segundo a entidade, com base em planilha da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita deste ano em Minas Gerais ocupa uma área 3,3% inferior à do exercício passado. O percentual pode parecer irrisório, mas não é: a plantação de feijão no estado, que ocupou uma área de 405,1 mil hectares em 2011, ocupará 391,9 mil hectares em 2012.
“Haverá redução na produção, de 601,9 mil toneladas, em 2011, para 589,5 mil toneladas em 2012”, disse Manoel Galvão, assessor técnico da comissão nacional de cereais, fibras e oleaginosas da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA). A diminuição na área plantada é sentida este mês, quando os produtores já estão colhendo a chamada primeira safra do feijão – o ciclo de colheita da cultura é feito três vezes ao ano. “A primeira safra será de 217,4 mil toneladas. A do ano passado havia sido de 224,2 mil”, completou Galvão.
Recuperação
A segunda safra deve ocorrer entre o fim de abril e o início de maio. Há expectativa de que a próxima colheita, em razão do preço atraente do feijão, tenha um volume acima do registrado em igual período do ano anterior. “O atual preço serve como estímulo para o produtor, que volta a apostar no grão. A tendência é de que o segundo ciclo tenha uma recuperação no volume da produção. Podemos ter, então, uma boa notícia para o consumidor”, acredita Vilela.
Até lá, dona Ana Paula, funcionária do Tropeiro 13, que hoje funciona no Planalto e que por anos ocupou um espaço no estádio do Mineirão, o Bar 13, pagará mais caro pelo pacote de um quilo. “Não tem outro jeito, né? Minha filha, por exemplo, não almoça se não tiver feijão. O jeito é continuar pesquisando até encontrar o menor preço”, ensina a cozinheira.