A oferta farta de crédito imobiliário e o aumento no nível de emprego e de renda da população levaram o setor de construção civil a uma fase estupenda de crescimento. O Brasil nunca teve tantos canteiros de obras, tanto nas capitais quanto no interior. Tamanho entusiasmo, no entanto, foi acompanhado pelo despreparo das construtoras e pelo aumento no tempo de espera pelas chaves da tão sonhada casa própria. Estima-se que, em todo o país, pelo menos 800 mil famílias enfrentem atraso na entrega dos imóveis comprados na planta. Estudo da gerenciadora de obras Tallento mostra que, de dezembro de 2008 a dezembro último, a média de atraso saltou de dois meses e meio para quatro meses e nove dias.
Apesar do atual cenário na entrega de imóveis, Hernani Varella, sócio-diretor da Tallento, estima que, em 2013, os atrasos vão chegar a, no máximo, 20 dias. Muito longe de ser uma boa notícia para a clientela, o cálculo considera o fato de as construtoras estarem revendo o seu planejamento e aumentando, já no contrato, o prazo de entrega dos imóveis. “As empresas já conhecem as dificuldades e, ao fazer um lançamento, consideram um período maior do que estimavam há dois anos”, explica. A manobra está expressa em números. Nas contas da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), de 2007 para cá, o prazo estabelecido em contrato para a entrega de construções nas capitais e nas regiões metropolitanas saltou de dois a dois anos e meio para, em média, três a quatro anos.
Perspectivas
No que depender do dinamismo da economia brasileira, os atrasos das empresas não vão acabar tão cedo. Nem mesmo a forte valorização dos imóveis nos últimos três anos — em capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, o valor do metro quadrado aumentou até 155% — nem a crise internacional vão dar um tranco no mercado imobiliário em 2012. A Cbic projeta que uma montanha de R$ 160 bilhões será oferecida em financiamentos para o setor este ano, 40% a mais que o valor concedido em 2011. Esses recursos vão financiar 1,6 milhão de unidades no país.
Octávio de Lazari Junior, presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito e Poupança (Acebip), ressalta que, mesmo com um avanço tão expressivo na concessão de empréstimos nos últimos anos, o setor aposta em expansão. “No ano passado, a relação entre o crédito habitacional e PIB (Produto Interno Bruto, a soma das riquezas produzidas no país) fechou em 4,9%. Em países europeus e nos EUA, são próximos de 100%”, observa. Ele estima que, em 2014, esse índice no Brasil chegará a 10%.