México – O encontro entre ministros da Fazenda e presidentes dos bancos centrais dos países que integram o G-20 terminou sem um acordo formal que viabilize a liberação de recursos para um fundo protecionista contra a crise. No entanto, foi dado o primeiro passo para que o acordo seja firmado no mês que vem, com a promessa de a União Europeia analisar a possibilidade de rever o teto de seus fundos de resgate. O ponto é considerado primordial para que seja firmado um acordo mundial para estancar a crise que dia a dia contamina o bloco europeu e pode ganhar ares ainda mais poluídos se a nuvem negra de fumaça atingir de forma mais forte Portugal, Espanha e Itália, obrigando-os a recorrer a resgates financeiros para quitar suas dívidas públicas. “Os países da Zona do Euro vão reavaliar a força de suas linhas de apoio (financeiro) em março. Isso deverá fornecer uma força essencial para nossas considerações em andamento para mobilizar recursos para o Fundo Monetário Internacional (FMI)”, diz comunicado conjunto assinado pelos ministros presentes neste fim de semana na Cidade do México.
O acordo entre os países europeus pode ganhar contornos mais firmes nesta semana. Uma reunião entre os principais líderes do continente está marcada para quinta e sexta-feira em Bruxelas, na Bélgica. A tentativa é evitar que outros países, além da Grécia, sejam obrigados a recorrer a resgates financeiros para solucionar suas altas dívidas. Mas a maior economia que integra a Zona do Euro, a Alemanha, já sinalizou que não deve definir esta semana se aceita aumentar o teto do fundo de resgate do bloco europeu.
Reticente, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, disse ontem que “entre 1º e 31 de março examinaremos se o novo volume do Mecanismo de Estabilização Europeu é suficiente, dados os recentes acontecimentos”, acrescentando que “não tem nenhum sentido, em termos econômicos, atender aos chamados de injetar dinheiro sem fim nos fundos de resgate”. Hoje, o parlamento alemão vota se apoia o pacote de 130 bilhões de euros de ajuda à Grécia, acordado na semana passada. A tendência é de que o empréstimo seja aprovado.
O FMI considera apropriada a injenção de US$ 1 trilhão nesse mecanismo, que tem operação prevista para iniciar em 1º de julho, o que, somado ao valor disponível nos fundos europeus temporário e permanente e recursos existentes no FMI, totalizaria US$ 2 trilhões e, com isso, criaria um muro de proteção contra a crise. O montante, equivalente ao total da dívida italiana, ficaria disponível para impedir o naufrágio de economias europeias pressionadas pela crise. “Estamos revendo opções para garantir recursos para que o FMI possa ser mobilizado tempestivamente”, disse o comunicado do G-20. O texto cita que os recursos serão aumentados por meio de financiamentos bilaterais e acordos de compras de papéis, ressaltando que a expectativa de crescimento é moderada e que os riscos negativos ainda são altos.
Por último, o documento elogia a participação dos produtores de petróleo na manutenção de oferta do produto. “Nós estamos alertas aos preços mais elevados do petróleo e parabenizamos o compromisso dos países produtores de continuar a garantir oferta adequada”, disse o texto.
Participação no FMI como moeda de troca
A participação do Brasil e de outros países em desenvolvimento no fundo de recursos para estancar a crise da Zona do Euro é condicionada a maior representação dessas nações no Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, na Cidade do México. A segunda condicionante é quase unânime entre os países de fora do bloco europeu e está diretamente ligada à necessidade de aumentar o tamanho do fundo de resgate para os integrantes da zona, atualmente limitado em 500 bilhões de euros. “O conjunto de países emergentes pode sofrer alguma consequência do fato de a economia não estar no nível adequado e haver a preocupação de que haja desaceleração. Temos de nos precaver”, disse em justificativa à posição brasileira e dos demais Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia e China), reiterando estar otimista em relação à reação da economia mundial.
O discurso de Mantega é semelhante ao dos representantes dos Estados Unidos presentes no evento do G-20 na Cidade do México. Mas o ministro brasileiro vai além e também diz ser favorável à saída de alguns países da zona comum europeia. Ele defende a maior flexibilidade de moedas enfraquecidas, o que seria possível apenas se deixassem a Zona do Euro. Apesar de não ter direcionado a declaração à Grécia, o principal alvo é o país. “O problema real que eu vejo é que, durante momentos de crise, os países não podem ter flexibilidade cambial. É um problema que precisa ser repensado dentro da União Europeia”, disse Mantega, segundo reportagem do jornal inglês Financial Times publicada ontem.
Apesar da posição firme de Mantega, a participação brasileira deve ser menor que a de outros países, como Japão e China. Especula-se que os orientais devem destinar 50 bilhões e 100 bilhões de dólares, respectivamente. O presidente do Banco do Povo da China (o banco central do país), Zhou Xiaochuan, reiterou que destinará recursos ao FMI. “A China é um membro importante do G-20, então certamente vamos fazer nosso trabalho”, disse ontem, depois do término do encontro da Cidade do México.
Um dígito
A política de redução da taxa básica de juros do Banco Central deve permanecer até que a Selic atinja um dígito, segundo declaração do presidente do BC, Alexandre Tombini, mesmo com a pressão inflacionária que, no ano passado, deixou o país no teto da meta. Integrante da comitiva brasileira presente na reunião de ministros da fazenda de países que compõem o G-20, na Cidade do México, ele disse que a tendência é de que tenha sequência a fórmula do banco iniciada em agosto e na reunião da semana que vem seja feito novo corte.