(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Falta de espuma encarece preço de colchões no país

Falta de insumo para fabricação de espuma no país afeta indústria de colchões, que corta produção e eleva preços


postado em 28/02/2012 06:00 / atualizado em 28/02/2012 08:03


Loja da Colchobel reajustou valores em cerca de 15% desde janeiro(foto: Alexandre Guzanshe/EM)
Loja da Colchobel reajustou valores em cerca de 15% desde janeiro (foto: Alexandre Guzanshe/EM)

Ter uma boa noite de sono vai ficar mais caro. Sem oferta nacional de matéria prima base para colchões, a indústria já reduz produção, concede férias parciais e reconhece que não há como segurar os preços. O problema começou depois que a única fábrica no país a fornecer o Tolueno Diisocianato 80/20 (TDI) – principal componente da espuma, insumo essencial para produção de colchões – interrompeu suas atividades. A paralisação da multinacional americana Dow, localizada em Camaçari, na Bahia, teve início em outubro do ano passado para manutenção. O retorno em meados de janeiro não aconteceu, desencadeando o sumiço do TDI do mercado interno.

O impacto na mineira Orthocrin foi imediato, já que todo o fornecimento de TDI vinha da Dow. “Nosso faturamento já apresentou queda de 30% a 35% desde que o problema começou, em janeiro. Tínhamos um estoque regulador para um mês de trabalho”, explica o diretor operacional da empresa, Alexandre Prates Pereira. A alternativa foi paralisar a fábrica durante toda a semana de Carnaval, conceder férias a 30% do quadro de funcionários e recorrer, pela primeira vez, ao mercado internacional. “Agora fizemos uma grande importação e estamos aguardando a chegado do produto”, afirma Alexandre.

Escasso e disputado, o TDI ficou mais caro e o reflexo já deve ser sentido pelo consumidor. Na Orthocrin, a elevação de preços dos colchões foi, em média, de 7% a 10%, percentual que sobe para 15% na Colchobel. “Em 16 de janeiro ninguém achava TDI para comprar no Brasil e a tonelada do produto importado já está muito mais cara”, justifica o proprietário da Colchobel, Tadeu Maia.

Na Ortobom, que tinha 60% da demanda por TDI atendida pela Dow, os prazos para entrega dos produtos foi ampliado. “Passou de uma média de sete a 10 dias, para 15 a 20 dias”, afirma o gerente de marketing Luis Henrique Colin. Os clientes já começam a ser alertados sobre o problema e a saída agora é buscar outros fornecedores. “Vamos diversificar para não ficarmos sujeitos a essas situações”, planeja Colin.

A indústria de colchões não deve ser a única afetada. O TDI também funciona como matéria prima para colas, vernizes e diversos materiais aplicados nas indústrias de móveis, veículos automotivos e até construção civil. Em nota, a Dow confirmou a paralisação em outubro para “manutenção programada” e garantiu que importou TDI de outras regiões para suprir a indústria nacional. “O mercado brasileiro já tem 50% de sua demanda abastecida regularmente por importações. Especificamente para o mercado de colchões no Brasil, estima-se que foram importadas cerca de 30 mil toneladas de produto em 2011, consistente com o volume de anos anteriores”, esclarece.

Pequenos sofrem  A empresária Alexandra Elvira de Faria teme que a produção de lembrancinhas para festas infantis não passe de duas semanas, depois de ter vivido um crescimento de 50% dos negócios em 2011. “Todos os produtos que faço são a base de espuma, mas não tem mais. Já estou há 10 anos neste ramo e nunca passei por isso”, conta. A Ortobom era sua principal fornecedora e, mesmo tentando recorrer a outras empresas, Alexandra se deparou com um problema generalizado. “Diante desta situação, não tenho o que fazer. Se acabar o meu estoque, vou ter que fechar até que a situação se regularize”, planeja. Os reflexos serão sentidos pelos três funcionários da microempresa, que também ficarão parados.

Sobretaxa agrava situação do setor


Se não bastasse a escassez do TDI no país, desde novembro do ano passado a importação do produto vindo de empresas dos Estados Unidos e Argentina foi sobretaxada pela Câmera de Comércio Exterior (Camex) por meio da Resolução nº 92. A intenção é inibir a prática de dumping por fornecedores internacionais, constatada em investigação da Camex. Relatório mostra que estas fabricantes vendiam o TDI para o Brasil abaixo do preço praticado no país de origem.

Segundo a norma, para cada tonelada de TDI vindo da Argentina – exceto proveniente da Petroquímica Río Tercero – deverá ser pago US$ 1.018,54, além do imposto de importação de 14%. Se a empresa originária for a Bayer Material Science, uma das maiores produtoras mundiais, o custo adicional será de US$ 887,44 a cada mil quilos.

Alexandra Elvira teme interromper produção de lembranças infantis (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Alexandra Elvira teme interromper produção de lembranças infantis (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Segundo o empresário Tadeu Maia, proprietário da Colchobel, a alíquota de 14%, sobe para 28%, diante da nova tributação. “Enquanto a Dow está parada, deveria ser liberada a importação da matéria-prima. É preciso lembrar ao ministro Fernando Pimentel que não se sobretaxa insumo, mas sim produto acabado”, protesta Tadeu que vê o TDI como uma commoditie para a indústria.

Ciente do gargalo e na tentativa de intervir junto ao Ministério do Desenvolvimento, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) já encaminhou um ofício ao ministro Fernando Pimentel, esclarecendo sobre a gravidade da falta do produto no mercado. Segundo minuta assinada pelo presidente da Fiemg, Olavo Machado Júnior, a Dow é responsável por atender cerca de 45% da demanda de 80 mil toneladas ao ano de TDI no país.

“A falta do produto está afetando toda a cadeia produtiva, sobretudo para aquelas fábricas que ela (a Dow) fornecia diretamente, incluindo as de espuma em Minas Gerais”, alerta o documento, que ainda acrescenta: “Os gargalos para a importação são a taxa, que passou de 14% para 28% e um processo de dumping.” O pedido da Fiemg junto ao ministro é para que seja estudada a possibilidade de redução temporária ou definitiva das alíquotas de importação. Além disso, a federação solicita “reavaliação do processo antidumping.”

O Ministério do Desenvolvimento confirmou o recebimento da carta enviada pela Fiemg e está averiguando a situação do setor. A discussão sobre as medidas que serão adotadas caso seja confirmado prejuízo aos fabricantes, ocorrerá durante reunião das Gerências Regionais de Apoio ao Comércio Exterior (Gecex), em março. (PT)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)