As capitais do Brasil têm leitos mais que suficientes para receber os turistas da Copa do Mundo de 2014, mas a qualidade média dos 250 mil quartos, apartamentos e chalés deixa a desejar. Em Belo Horizonte, no entanto, o cenário é pior: faltam leitos e quartos de melhor padrão. Do total nacional, 61% são considerados de qualidade e conforto inferior, classificados nas categorias econômica e simples. Estão nesse padrão 5.036 estabelecimentos pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 23%. Eles estão mais presentes em São Paulo (69,3%), Belo Horizonte (66%) e Fortaleza (60,7%). Nas demais categorias, os de classe turística (médio conforto) são 24,7%, os de nível superior (muito confortável) 11% e os de luxo 3,5% do total. A acessibilidade também é baixa na rede de hospedagem.
O estudo inédito deixou claro que a pouco mais de dois anos de a bola rolar para a abertura da Copa'2014 Belo Horizonte tem uma das piores redes de hospedagem entre as capitais. Entre as 10 principais redes hoteleiras do país, a capital mineira ocupa a penúltima posição em termos de oferta de leitos. Isso apesar de ser a quarta do país com maior número de estabelecimentos hoteleiros (291).
O objetivo do levantamento, encomendado pelo Ministério do Turismo, foi identificar deficiências na rede hoteleira e também oportunidades para o setor privado, diante da perspectiva do aumento do turismo devido a eventos como a Copa'2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Com isso, cabe às prefeituras e estados atrair investidores para suprir possíveis insuficiências no período de fluxo extra de turistas em grandes eventos. No caso de BH, a qualidade das vagas disponíveis ainda é problema, podendo ser solucionada pelos hotéis previstos para serem construídos.
Em número de estabelecimentos, BH ocupa a quarta posição do ranking com 291 hotéis, pousadas e outros modelos de hospedagem. No entanto, a maior parte é de pequenas unidades, o que coloca a capital na última posição em número médio de habitantes e na penúltima em disponibilidade de leitos, o que pode ser explicado pela grande presença de motéis. O município tem a segunda maior fatia de motéis (34%) entre as principais redes hoteleiras do país, atrás apenas de Porto Alegre. Um em cada três empreendimentos de hospedagem da capital é apropriado para pernoite de viajantes. E essa não é considerada a melhor opção para turistas. "Mas não vamos precisar usar motéis para hospedagem no período da Copa do Mundo, pois teremos vagas em hotel com folga", afirma Silvania Capanema, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Minas Gerais (ABIH-MG).
Ela contestou alguns dados do IBGE. "O instituto é de pesquisa e só leva em conta os números, sem valorizar as condições econômicas e a taxa de ocupação da hotelaria", observa a representante da ABIH-MG. Ela afirma que a taxa de ocupação da rede hoteleira hoje está em torno de 68% em Belo Horizonte. "Não há espaço para construir essa quantidade de hotel planejada de forma alguma", diz. Cidades mais turísticas, como Fortaleza e Recife, segundo ela, necessitam de número maior de leitos por habitantes. "Não é o caso da capital mineira", defende.
EXIGENTES A oferta de vagas de padrão superior pode influenciar também na escolha das seleções. O pesquisador do IBGE Roberto Saldanha afirma que o perfil da rede de hospedagem influencia diretamente nas opções das delegações, que necessitam de um hotel exclusivo para a seleção, mas também observam a disponibilidade de vagas para turistas. "O ideal é contar com uma rede maior de categorias mais altas. Se a delegação dos Estados Unidos não ficar num hotel de alto padrão, os jogadores vão reclamar", exemplifica Saldanha.
As seleções devem definir em qual cidade-sede se hospedarão depois que a Fifa divulgar estudo com perfil de cada município. Entre as capitais, Rio de Janeiro (23,5%), Curitiba (21,1%) e Porto Alegre (21%) apresentam a maior porcentagem de hospedagens classificadas nas categorias luxo e superior. Na outra ponta, Salvador (10,1%), Brasília (12,2%) e Belo Horizonte (12,7%) têm menor número de hotéis nos padrões mais altos.
Em abril o IBGE deve publicar os resultados da pesquisa para as regiões metropolitanas e integradas às capitais. A expectativa do governo federal é de que cidades com deficiência na rede hoteleira possam suprir seus problemas com as vagas disponíveis em municípios vizinhos. "O que esperamos é que as cidades do entorno das capitais onde ocorrerão os eventos contribuam, oferecendo a sua própria capacidade de hospedagem. No Rio de Janeiro, com certeza a capacidade de Niterói vai ser utilizada para apoiar o evento", afirma a presidente do IBGE, Wasmália Bivar.