O elefante branco que ainda chama a atenção na paisagem de Belo Horizonte e Nova Lima com a torre futurista de 80 metros não lembra mais o centro de entretenimento que recebeu mais de R$ 50 milhões de investimentos em 2005. Hoje, no lugar das 72 lojas previstas para o AltaVila Center Class, complexo de gastronomia, cultura e lazer na região das Seis Pistas, na região metropolitana da capital, funcionam dois restaurantes e o espaço para eventos controlado pela administração. A proposta inicial, de aplicar na capital mineira o conceito de diversão independente das compras, não colou, a imensa maioria das lojas pulou fora e os sobreviventes da torre reinventaram o negócio para continuar existindo.
O restaurante japonês Hoshi, que fica no alto da torre que virou símbolo do empreendimento, instalou-se, na verdade, depois da derrocada do centro de diversão de Nova Lima. A grande maioria das lojas, inauguradas em julho de 2005, não sobreviveu até o fim de 2006. Muitas fizeram acordos com a administração, não pagavam nem aluguel nem condomínio, tentando apostar no prédio, que passava a maior parte do tempo às moscas. “Viemos para cá em 2007 e de lá para cá o movimento só cresceu”, diz Idélcio Jandir Marneti, conhecido como Maninho, gerente proprietário do restaurante. Manter o negócio lucrativo no alto da torre (a viagem de elevador leva quase um minuto) exigiu adaptações, segundo ele.
“Percebemos que o movimento deixava a desejar nos dias de semana, implantamos a modalidade rodízio na terça e na quarta e o faturamento saltou 100%.” Nas segundas-feiras, o espaço se destina a eventos, com capacidade para até 180 pessoas sentadas. A contratação de funcionários, segundo ele, também não dá os mesmos sinais de cansaço que levou nomes como Altíssimo, Irasshai e Masseria a entender que o AltaVila não era um bom negócio. Hoje, 22 pessoas trabalham no restaurante e, nos dias de maior movimento, não dão conta do atendimento.
Enquanto isso, o Salão Bela Vista, espaço de eventos para até 1,2 mil pessoas no quarto andar do prédio, é disputado semanalmente por bufês de festas de casamento, aniversários, desfiles e outras produções. A administração informou que a movimentação do salão, e também da antiga boate do terceiro piso, chamada de Torre Lounge, é intensa. É também o caso do espaço onde antes funcionavam os cinemas – que incluíam uma sala vip, com mais espaço em poltronas reclináveis. O resto do prédio está fechado e a administração não revela números relativos ao faturamento ou valores do aluguel dos espaços.
Lembranças da falta de clientes
“Não tivemos nenhum mês no AltaVila em que não fechamos no vermelho”, conta Max Wienand, diretor da Maxtreme, empresa de esportes radicais que resistiu, entre 2005 e 2006, com o único ponto fixo de bungee jump da América Latina. Com investimentos iniciais de R$ 56 mil, mais os custos de manutenção de modalidades aventureiras como rapel, escalada e full pipe, os prejuízos passaram de R$ 70 mil, nos cálculos de Max.
“Lembro-me que a inauguração já aconteceu antes da hora, com obras ainda em meio. Simplesmente não apareciam clientes”, conta. Como a maior parte dos lojistas que integraram o empreendimento, Max optou por não mover ação na Justiça contra a administração do centro. Fez um acordo em que usava o espaço, mas não pagava o condomínio e o aluguel. Com o tempo, esse modelo tornou-se insustentável.
Essa proposta não foi feita para a Kids & Kits, empresa de modelismo que tem também loja na Savassi. Cláudio Silveira, advogado da empresa, espera para os próximos meses a decisão judicial do processo que move no Fórum de Nova Lima contra o AltaVila, pedindo, entre reparos morais e materiais, R$ 300 mil: “A taxa de marketing que eles recolhiam não era revertida em ações concretas que alavancassem o lugar. Foi um problema de administração que acabou com o que poderia ser uma proposta diferenciada na cidade”. Os empreendedores do AltaVila foram procurados para dar entrevista, mas não foram encontrados. (FB)
Análise da notícia
Reação em cadeia - Graziela Reis
É um belo projeto. O AltaVila foi desenvolvido com um conceito arrojado e inovador. Mas foi incompreendido. Essa foi a interpretação dos empreendedores do centro de entretenimento, quando constataram que o público só se fez presente nos primeiros dias depois da inauguração. Muitos dos clientes pensavam que encontrariam ali lojas convencionais, como as de um shopping convencional, mas a proposta não era esta. Apreciavam a vista e não voltavam. Paralelamente, ocorreram falhas na administração. Os lojistas que apostaram na ideia foram registrando prejuízo e fechando as portas. Foi uma reação em cadeia. Ficou a torre, que se destaca no cenário da Grande BH, e um sentimento de pena por ser tão pouco aproveitada.