O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de Minas em 2011 ainda não foi divulgado, mas a expectativa é de que ele seja menor que o do Brasil, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), a soma da produção de bens e serviços no estado no ano passado, em comparação com o ano anterior, deve registrar crescimento de, no máximo, 2,5%. No Brasil, o avanço foi de 2,7%. "O desempenho pior da indústria em Minas em relação ao Brasil vem do fato de que esse foi o setor que puxou o crescimento do PIB para baixo no país. E, em Minas, o resultado foi ainda pior", diz Guilherme Veloso Leão, gerente de economia e finanças da Fiemg.
Se for confirmada, a previsão ficará bem abaixo da expectativa inicial da entidade, já que, no início de 2011, esperava-se que a indústria mineira fosse encerrar o ano com crescimento de 4% em comparação com 2010. Ao longo do período, porém, a crise econômica foi se agravando no exterior e o valor do dólar derretendo no Brasil. Com isso, o PIB da indústria de transformação ficou estagnado em 0,1%. "Vestuário e acessórios sofreram uma concorrência pesada com produtos que chegaram da Ásia. Além disso, o desempenho da metalurgia, máquinas, aparelhos e materiais elétricos e automóveis puseram o PIB para baixo. E há indícios de que o resultado da indústria de transformação em Minas deve ser pior do que a estagnação mostrada no país."
Campo
Na agricultura, a tendência do PIB mineiro é de acompanhar o resultado nacional porque os fatores que influenciaram o resultado do país também afetaram o estado. Pierre Santos Vilela, coordenador da assessoria técnica da Federação das Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), lembra que o mundo vive um momento de crise que influenciou cada um dos segmentos da economia brasileira de modo diferente. No setor de serviços, o ano foi pressionado pela inflação, que arrefeceu o ânimo do consumidor. As famílias das classes emergentes fecharam o ano com alto nível de endividamento, o que reduziu a confiança e o ímpeto de consumo. A indústria sofreu com a falta de competitividade. A agropecuária foi um fator isolado nesse cenário.
"A crise afetou menos o setor primário, que vende um produto de necessidade básica: a comida", diz Vilela. Segundo ele, porém, os produtos mais elaborados ou semielaborados, como as carnes, sentiram o arrefecimento da demanda no ano passado. Produtos básicos como grãos mantiveram tendência de preços em alta. "Combinada com a safra recorde no Brasil, isso vai contribuir para um resultado positivo no PIB."
Entrada de importados prejudicou a indústria
Para o presidente do conselho de política industrial e econômica da Federação as Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Gonçalves, o Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais ficará abaixo da média nacional, apesar de positivo, por causa do câmbio e da entrada de produtos importados no país. “Houve perdas na siderurgia, na produção de ferro-gusa e na fundição, no setor têxtil e no de alimentos“, diz. Ele reconhece que o resultado de Minas atrapalhou a média nacional. "A comparação com o PIB de 2010 também foi um problema, já que a base de comparação foi muito forte."
Em termos de produção física, fator que tem reflexos no resultado da soma da produção de bens e serviços do Brasil, os piores desempenhos do estado no ano passado foram registrados na indústria têxtil (-13,33%), petróleo e álcool (9,88%) e máquinas e equipamentos (7,89%), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já em termos de faturamento, as principais retrações ocorreram no setor de celulose e papel (-15,8%), produtos alimentícios (-8,21%) e máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-8,12%).
A redução da produção física da indústria têxtil mineira tem como explicação a entrada de importados, estimulados pelo dólar desvalorizado diante do real. Já no que diz respeito à retração no faturamento registrada pela Cenibra, única fabricante de celulose no estado e uma das maiores do mundo, o problema foi o preço internacional. A empresa exporta 92% de sua produção e em 2011 câmbio e crise, juntos, acabaram derrubando os resultados. "Em 2011 produzimos e vendemos praticamente a mesma quantidade de celulose que em 2010. Mas a Europa compra 40% da celulose brasileira e no ano passado o preço médio caiu entre 20% e 25%", explica Paulo Brant, presidente da empresa.
O comércio, porém, deverá ter desempenho positivo, pelo menos no que depender de Belo Horizonte. "As medidas adotadas pelo governo, como redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o crédito das pessoas físicas e de Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para a linha branca impulsionaram o comércio na capital", diz Larissa Souza, economista da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). (ZF)