O corte de 0,75 ponto porcentual da taxa básica de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), de 10,50% para 9,75%, não encerra o ciclo de reduções da Selic em 2012. No dia seguinte à decisão do BC, o presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setubal, afirmou que ainda há espaço para novos cortes já que, comparado a outros países, a taxa brasileira ainda é muito elevada.
Para Setubal, à luz do cenário global a ação do BC foi acertada e veio dentro do esperado, embora boa parte do mercado acreditasse em um corte menor, de 0,50 ponto. O banqueiro participou hoje de um fórum do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês), do qual é vice-presidente, com líderes do setor financeiro na América Latina.
"A taxa de juros influencia vários aspectos da economia, como o fluxo de capital, crédito, taxa de poupança e decisões de investimento. Temos que entender o momento que o mundo atravessa com taxas de juros baixas", disse.
O risco de superaquecimento da economia e pressões inflacionárias por conta dos juros mais baixos foi descartado por Setubal, dadas as condições de baixo crescimento mundial e as incertezas na Europa. "Estamos retomando o crescimento. Acho que o Brasil terá um bom ano, em especial no segundo semestre. O País está muito bem e com espaço de manobra", disse.
O economista-chefe do IIF, Philip Suttle, disse acreditar que as taxas de juros serão mais baixas na América Latina nos próximos dois anos. "Não tenho bola de cristal, mas acredito que neste período o Brasil terá juros abaixo de 10%, mas não muito distante dos 10%. Esse pode ser um bom período para se discutir formas para que a economia fique mais forte", disse. Na agenda de reformas citada pelos membros do IIF estão a tributária e a trabalhista.
O IIF, que reúne as principais instituições financeiras globais, projeta um crescimento de 3,7% para a América Latina em 2012. É um leve recuo frente aos 4% de 2011. A perspectiva é de uma retomada em 2013, com a região atingindo uma alta de 4,5% em seu Produto Interno Bruto (PIB). Documento divulgado hoje pela instituição diz que, embora a inflação esteja acima da meta em muitos países da América Latina, a expectativa é de que ela recue nos próximos meses.
Para o Brasil, a perspectiva da IIF é de fortes investimentos diretos e um panorama fiscal positivo. A projeção é que a economia atinja um crescimento de 3,4% em 2012, saltando para um PIB de 5,2% em 2013.
"A América Latina se tornou uma fonte de apoio para a economia global ao invés de uma fonte de instabilidade como anos atrás. A posição fiscal mais forte em relação às economias maduras e regime de câmbio flexível ajudam", disse Ramon Aracena, economista sênior do IIF para a América Latina.
O aumento da dependência da China e das commodities são citados pelo instituto como o maior fator de risco para a região. O Brasil e a Argentina, porém, estariam mais protegidos por terem o mercado doméstico como principal motor de sua atividade econômica.