O desempenho ruim das lavouras de café de Minas Gerais e o severo impacto da crise mundial sobre a indústria fortemente exportadora do estado levaram a um modesto crescimento de 2,7% da economia mineira no ano passado. A taxa, divulgada ontem pela Fundação João Pinheiro (FJP), de Belo Horizonte, foi idêntica à do Brasil, deixando como lembrança de um passado mais distante do que se imaginava a expansão em ritmo chinês que Minas observou durante todo o ano de 2010. A soma da produção estadual de bens e serviços, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), que em 2010 alcançou 10,3%, só não foi pior em 2011 por conta do bom resultado do comércio, do setor de transportes e da construção civil.
A turbulência no Velho Continente afetou, também, um outro peso-pesado da economia de Minas, a indústria extrativa mineral, que encerrou o ano passado com crescimento de 1,6%, metade da taxa medida no Brasil. “Não esperávamos um PIB maior que isso; a taxa até nos surpreende”, disse o industrial Lincoln Gonçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Industrial e Econômica da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). A instituição já vinha trabalhando com uma ligeira variação de 0,1% da produção industrial no estado em 2011, de fato, uma estagnação, e projeta a mesma taxa para este ano, considerando uma alta de 3% do PIB mineiro, em linha com a previsão de 3,3% de expansão do Brasil.
A comparação do comportamento das economia brasileira e de Minas mostra o que os economistas costumam ressaltar: o estado é como uma síntese do país. A diferença é que em períodos de crise o estado tende a sofrer mais, em razão do perfil exportador e produtor de bens intermediários de sua indústria (produtos que servem de matéria-prima para as fábricas de bens finais de consumo como geladeiras e talheres), mas, ao mesmo tempo, se recupera mais rápido quando o cenário da economia mundial se acomoda. Em 2011, há pelo menos três exemplos além da extração de minerais que mostram essa sensibilidade maior da indústria mineira: a produção de máquinas e equipamentos caiu 7,9%, frente ao crescimento de 0,4% no Brasil, enquanto o setor automotivo enfrentou queda de 0,4%, ante aumento de 2,4% no pais, e a performance da indústria química foi de 12,5% e 13,4%, respectivamente.
Preocupação
O setor industrial preocupa por ter crescido apenas 1,9% em 2011, enfrentando seis trimestres de queda no ritmo de crescimento, segundo Reinaldo Carvalho de Morais, pesquisador do Centro de Estatísticas e Informações da FJP. A produção industrial saiu de uma expansão de 8,7% de janeiro a março de 2011, em relação ao primeiro trimestre de 2010, para uma retração de 1,6% no último trimestre do ano passado, na mesma base de comparação. “O desempenho da nossa economia não ficou pior porque o setor de serviços salvou o resultado, se comportando melhor que o Brasil e a construção civil também se mantém aquecida”, afirma.
Diferentemente da indústria, o comércio de Minas cresceu mais que a média nacional, com expansão de 7,3% no ano passado, frente aos 3,4% na média do Brasil. De acordo com Reinaldo de Morais, o resultado foi beneficiado pelo bons índices do emprego no estado, que significam renda destinada ao consumo. Manter-se empregado é a variável mais influente na atitude do consumidor, observa o economista Vinícius Silva, da Federação do Comércio de Minas Gerais (Fecomércio Minas). “Se há emprego, existe confiança da parte da população para ir ao consumo”, observa Silva.
Construção O outro salvador do PIB de Minas, a construção civil exibiu uma taxa robusta, de 5,6%, de crescimento no ano passado, mas é preciso botar as barbas de molho. O pesquisador Reinaldo Morais destaca que o setor vem perdendo fôlego. Na agropecuária, o ciclo bianual do café representou queda de 11,2% da produção em 2011, o que já era aguardado. O baque é grande no PIB estadual em decorrência do fato de a cultura participar com um terço do desempenho da agropecuária.
Indústria perde vendas
A tendência de desaceleração da indústria no Brasil e em Minas Gerais se confirma num começo de 2012 marcado por indicadores fracos da produção do setor, conforme apuraram a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). O faturamento das fábricas diminuiu 1,4% no Brasil, frente a dezembro, conforme dados da CNI com ajustes sazonais, representando o segundo mês de retração do indicador. Em dezembro a receita já havia recuado 2% na comparação com novembro. A redução em Minas foi de 5,25% ante dezembro, embora quando retirados os efeitos da sazonalidade tenha ocorrido aumento de 3,81%. O índice vem perdendo intensidade e sacrifica especialmente segmentos importantes da atividade no estado, como produtos químicos, extração de minerais, minerais não metálicos (material de construção), têxtil e celulose e papel.
O resultado não serve de parâmetro para os próximos meses, observou Lincoln Gonçalves, da Fiemg. “Nós sabemos que uma retomada de crescimento é lenta. Nossa visão é de que uma expansão mais forte da indústria mineira, se houver, se dará no segundo semestre”, disse o industrial. O índice de horas trabalhadas na indústria de Minas caiu 2,82% em janeiro, ante dezembro, como reflexo do corte de horas extras, que costumam ser praticadas em dezembro e da antecipação de férias em setores como o automotivo e o têxtil.
No indicador de emprego, a Fiemg verificou alta de 0,58%, atribuída a ajustes no quadro de pessoal das empresas decorrentes de turn over normal nas fábricas. Acompanhando a variação do emprego a massa de salários (total da remuneração paga) diminuiu 30,71% em janeiro. A instituição destaca que o dado sofre a influência do pagamento em dezembro de adicionais extraordinários como a Participação dos empregados nos Lucros ou Resultados (PLR), o que infla a folha de pessoal no fim do ano.
Para a CNI, se o faturamento do setor não voltar a crescer nos próximos meses, a atividade poderá enfrentar queda neste ano. Os indicadores da instituição apontaram que a indústria operou, em média, com 81,9% da sua capacidade produtiva instalada total em janeiro, um ponto percentual abaixo do registrado no mesmo mês de 2011. O economista da CNI Marcelo de Ávilla espera retomada de um crescimento moderado da indústria, com a decisão do governo federal de desonerar a carga tributária incidente sobre alguns segmentos do setor e a redução dos juros. (MV)