O temor de desabastecimento e de que os donos de postos de gasolina em Belo Horizonte se aproveitassem da paralisação dos caminhoneiros para aumentar o preço nas bombas levou movimento atípico aos postos da cidade, na tarde de ontem. O transporte de combustíveis na região metropolitana foi mais uma vez interrompido devido a uma paralisação do Sindicato dos Transportadores de Combustível e Derivados de Petróleo do Estado de Minas Gerais (Sindtanque). A paralisação começou na madrugada de quinta-feira em protesto contra o aumento da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) do diesel, de 12% para 15%, implantado no início do ano. Às 14h, depois que a Secretaria de Estado de Fazenda agendou reunião com lideranças do Sindtanque para segunda-feira, o trabalho de abastecimento voltou ao normal. Mas nessa altura, a gasolina já estava nas últimas em vários postos da Grande BH – o preço, nos postos visitados pela reportagem, não foi alterado.
Segundo o vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo de Minas Gerais (Minaspetro), João Victor Renault, as consequências da paralisação da madrugada teriam sido piores caso a BHTrans não tivesse aprovado suspensão da restrição da circulação de caminhões no Hipercentro da capital (dentro da área da Avenida do Contorno). A liberação veio justamente quando a gasolina da maior parte dos postos estava perto do fim. “Houve antecipação de consumidores aos postos, com medo de que houvesse desabastecimento. Acreditamos que os postos vão elevar os estoques, caso a situação se complique na semana que vem. Mas esperamos que haja acordo”, disse.
Eram 15h45 quando o motorista da Transportadora Aloísio Pereira, Geraldo Lordiel da Cunha, conseguiu entrar no primeiro posto que abasteceria no dia de ontem, com o caminhão carregado de 10 mil litros de gasolina e 5 mil de álcool. Normalmente, ele faz isso às 8h da manhã. Demorou para entrar, porque teve que ficar na fila de automóveis que fazia frentistas como Webert Ribeiro suar a camisa correndo de um lado para outro, para atender a demanda.
Os carros diante do posto complicavam o trânsito na área hospitalar, enquanto Webert contava que teve de ficar sem almoço e que previa aquele fôlego até as 22h. Geraldo era outro que não tinha hora para terminar de trabalhar. O motorista chegou na transportadora às 7h e ficou esperando ordens para começar o trabalho. “Liberaram para a gente entrar na Regap (Refinaria Gabriel Passos, em Betim) mesmo só às 14h.”
Assustados Na fila do posto, a comprovação deste movimento. “Mandei encher o tanque para que eu consiga ficar tranquila até a semana que vem”, dizia a empresária Dayse Cristina da Silva Almeida. O auxiliar administrativo Alan Vidigal, que se prepara para fazer motocross no fim-de-semana também antecipou os planos de abastecimento dos galões que leva para a atividade: “Fiquei assustado com o que aconteceu em São Paulo, com os postos aumentando o preço e preferi prevenir”. Mesmo caso da comerciante Juliene do Nascimento Mendes: “Quando vi a notícia de que os caminhoneiros das transportadoras estavam parados, imaginei que aconteceria aqui como em São Paulo, com o preço batendo os R$ 4,50. Corri para cá, porque vou viajar no fim-de-semana”.
O dono do posto Duas Pátrias, na Área Hospitalar, Antonio Andrade Mendes, estava preocupado com o abastecimento. “Esperamos que venham outros caminhões porque só esse aí não vai resolver o problema nem por quatro horas”, dizia. Ele vende, em média, de 30 a 45 litros de combustível por dia, que têm distribuição dividida três vezes nesse período. “E não podemos mexer no preço”, disse. “Mas que dá vontade de tacar o preço lá nos R$ 5, isso dá”, admitia Marcos Vinícius de Carvalho Felix, gerente do Posto Carmênia, no Betânia. “Normalmente abrimos o tanque (começamos o dia) com 2 a 3 mil litros em estoque. Na próxima semana, vamos passar a deixar 8 mil, por garantia, na expectativa de uma resolução.”
Em São Paulo
O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) informou que as operações das empresas estão normalizadas desde a madrugada de hoje em São Paulo. A entidade agora trabalha com a previsão de que o pleno abastecimento dos postos seja restabelecido em um prazo de 3 a 5 dias. As bases de distribuição da Grande São Paulo, cujo fluxo de veículos estava prejudicado devido a manifestações de caminhoneiros autônomos contrários à proibição de circulação pelas marginais, não apresentam novos problemas. “Embora a Polícia Militar continue disponibilizando escoltas, as entregas de combustíveis estão sendo feitas sem proteção policial, não sendo verificada a presença de piqueteiros nas imediações das bases”, destaca a nota assinada pelo presidente da entidade, Alisio Vaz. O sindicato informa ainda que ao longo do dia, em conjunto com a PM, vai monitorar as operações, para verificar a efetiva volta à normalidade.
Pressão leva governo a ceder
Esta é a segunda interrupção de atividades este ano. “O decreto veio em 1º de janeiro, passando a alíquota do diesel de 12% para 15%. Com esse aumento estamos tendo perda com os nossos clientes de fronteira, devido a proximidade com alguns estados que permanecem com a alíquota de 12%”, explica Irani Gomes, presidente do Sindtanque. Segundo ele, os postos de Rio de Janeiro, Espirito Santo e São Paulo têm atraído muito mais os clientes, ou seja, os motoristas, que preferem pagar menos além das divisas mineiras. “Houve uma queda de aproximadamente 40% do nosso trabalho. Por isso a reivindicação das empresas é que o governo revogue esse decreto”, destaca.
De acordo com o sindicato, todas as empresas distribuidoras do polo petroquímico de Betim participaram da paralisação, entre elas Ale, BR Distribuidora, Ipiranga e Shell. Três reuniões já teriam acontecido entre o Sindtanque e a Secretaria de Fazenda sobre o assunto. O governo do Estado informou que a alíquota para óleo diesel em Minas é menor do que as de 17 outros estados, que aplicam alíquotas superiores a 15% nas operações com óleo diesel. Além disso, o governo destacou que em 2003 reduziu de 18% para 12% a alíquota do óleo diesel e agora aumentou para 15%.
Ainda segundo informações do governo do estado, a Secretaria de Fazenda se reuniu com os representantes do sindicato para reafirmar esses argumentos. De acordo com dados divulgados pelo governo, no sudeste Espírito Santo e São Paulo continuam com alíquotas de 12% e o Rio de Janeiro com 13%. Além deles, Tocantins e Goiás têm tarifas de 13,5%, enquanto que Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Distrito Federal mantém alíquotas de 12%. Os índices mais altos do país são de 17%. (FB e GP)