A intenção de compra de consumidores da classe C subiu de 15% em janeiro do ano passado para 24% em janeiro deste ano. Foi o maior avanço entre as faixas de renda pesquisadas pela Fecomércio-RJ/Ipsos, no levantamento Hábitos de Consumo Brasileiro, divulgado com exclusividade para a Agência Estado. Nas classes A e B, esta fatia subiu de 25% para 29% e, nas famílias D e E, a participação cresceu de 13% para 15%.
A pesquisa ouviu 1.000 entrevistados em 70 cidades do País. Deste total, 23% sinalizaram interesse em gastar mais este ano, contra 17% em 2011, impulsionados pela classe C.
O maior interesse da classe média em compras também ajudou a impulsionar o gasto médio do brasileiro com alimentação, higiene e limpeza, que cresceu 14,5% no período, de R$ 365,54 para R$ 418,56, em valores atualizados. "Este movimento de maior ímpeto de consumo da classe C não é novidade. Mas realmente houve um avanço expressivo no início deste ano", afirmou o economista da Fecomércio-RJ, Christian Travassos.
O contínuo crescimento da massa salarial do brasileiro, que norteou a migração de consumidores de faixas de renda baixa para mais elevadas nos últimos anos, tem sustentado o consumo da classe C. "O mercado de trabalho continuou aquecido no começo de 2012, e isso facilitou também o acesso ao crédito", disse, lembrando que estabilidade no emprego é pré-requisito em tomadas de empréstimos. Outro fator lembrado pelo economista foi o término das medidas macroprudenciais em meados do ano passado, anunciadas em dezembro de 2010, e que restringiam o consumo.
Para o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Bruno Fernandes, o consumo em alta da classe C deve continuar nos próximos anos. "As condições são favoráveis", afirmou. Em 2012, houve aumento real de 7% no salário mínimo, cujo reajuste é indexado à evolução do Produto Interno Bruto (PIB) e à inflação. O especialista não descarta novos reajustes em patamar próximo ao de 2012. Caso os aumentos do salário mínimo se mantenham, o poder de compra da baixa renda também irá crescer e impulsionar sua migração para a classe média. "E não podemos nos esquecer que a inflação está mais bem comportada este ano. Isso dá um poder de compra maior para o consumidor", afirmou Fernandes.
Na prática, a alteração na composição das classes sociais no Brasil, beneficiada pela política de transferência de renda, também transformou o orçamento do brasileiro, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Com o aumento de renda do trabalhador na última década, o consumidor mais pobre desloca gastos para outros tipos de consumo e não o concentra mais, principalmente, em alimentos", explicou o economista da FGV, André Braz.