Balde de água fria nas expectativas globais, as 20 principais economias do planeta cresceram, em 2011, menos que a média geral prevista e bem menos que no ano anterior. A variação do Produto Interno Bruto (PIB) do G-20 (grupo de países industrializados e economias emergentes), em 2011, foi de 2,8%, depois dos 5% registrados em 2010. Os números, divulgados nessa quarta-feira pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), indicam que o crescimento foi abaixo da média global estimada, deixando longe a esperança de crescimento de 3,7% do PIB mundial no ano passado. A participação do Brasil nessa conversa foi bem menos expressiva que no ano anterior: no ranking das taxas de crescimento, o país caiu da 5ª posição em 2010 para 9ª em 2011.
Se antes o PIB do Brasil ajudava a elevar a moral da média do G-20, registrando 7,5% de variação em 2010 (e o grupo em 5%), agora patina pouco abaixo da média, em 2,7%. “O país não teve a participação positiva que tinha antes, perdemos posição relativa na taxa de crescimento, tivemos contribuição menor, mas ainda assim caminhamos para a frente”, avalia Márcio Salvato, do Ibmec. “É alerta para que o Brasil não imagine que tem consolidada a posição de grande aposta internacional. Medidas são necessárias para manter o crescimento em taxas interessantes”, destaca Paulo Vieira, das Faculdades Novos Horizontes.
Enquanto isso, a recuperação dos Estados Unidos, principal economia do mundo, foi definida pelo próprio presidente do Federal Reserve, o banco central americano, Ben Bernanke, como “frustrantemente lenta até agora”. “O problema é que eles ainda respondem por um quarto do PIB mundial, e os últimos indicadores econômicos considerados positivos não são substanciais a ponto de indicar tendência de recuperação sustentável”, segundo Vieira. O PIB dos EUA variou 3% em 2010, depois do turbulento 2009 de -3,5% e desacelerou para 1,7% em 2011.
O temor que em da China
Se os empregos, a indústria e a produção na terra do Tio Sam ainda não convenceram, a desaceleração chinesa é a que mais assusta, mesmo o país se mantendo no topo do ranking de variação. A China voltou ao seu patamar de crescimento de 2009, com 9,2% em 2011, ante os 10,4% de 2010. Uma tremidinha na economia da muralha abala as estruturas do resto do mundo, segundo Salvato: “O problema é que a balança comercial chinesa apresentou déficit, depois de um histórico de superávits. A perspectiva é que o governo tome medidas para conter as importações. Se o maior comprador do planeta parar de comprar, o mundo inteiro sofre com isso. Inclusive o Brasil, cuja balança comercial depende das exportações de comodities para aquele país”.
E a Europa dá os primeiros indícios de que a contaminação da situação grega não será mesmo previsão de pessimistas. Pela primeira vez em um período de três meses, desde o segundo trimestre de 2009, a União Europeia apresentou retração no PIB, marcando queda de 0,3%, no fim de 2011. No ano, o PIB da UE variou 1,5%. “O efeito Grécia chegou ao lado real da economia. Para resolver o problema da dívida pública evitando o calote, as economias de países como Grécia, Espanha e Portugal, os mais endividados, vão desaquecer ainda mais em 2012”, diz o professor do Ibmec. Segundo Salvato, o ajuste fiscal apertado desses países deve levar à retração na economia dessas nações e pressão para baixo na variação do PIB do grupo europeu, que, com sorte, deve fechar 2012 estagnado. (Com agências)
Indústria corta empregos
Em marcha lenta, a indústria brasileira perde fôlego nas contratações, com o mau desempenho das fábricas. O emprego no setor caiu 0,3% em janeiro, frente a dezembro, e 0,5% na comparação com o mesmo mês de 2011, informou, nessa quarta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda a salvo de um movimento que acompanha a retração da produção, o quadro de pessoal empregado na indústria de Minas Gerais seguiu com crescimento de 2,5% no mês passado, ante janeiro de 2011, mas no acumulado dos últimos 12 meses mostra persistente recuo. A variação positiva de 2,7% nessa base de comparação vem diminuindo desde maio de 2011, comportamento semelhante ao do número de horas pagas, que cresceu 2,6% no período, índice em baixa há cinco meses.
O valor da folha real de salários pagos pela indústria brasileira, descontada a inflação, aumentou 5,1%, em decorrência das gratificações típicas de janeiro, notadamente as antecipações de férias e participações dos empregados nos resultados das empresas. O melhor que se pode esperar do setor é a estabilidade do emprego, segundo o presidente da Comissão de Relações do Trabalho da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Osmani Teixeira de Abreu. “A desaceleração vai continuar por mais um ou dois meses. Esperamos que as medidas prometidas pelo governo (para reanimar a economia) sejam realmente adotadas”, disse.
Em Minas, o emprego nas fábricas contribuiu para segurar a queda na indústria brasileira. Ante janeiro de 2011, a evolução do pessoal ocupado no setor no estado foi destaque nos segmentos de alimentos e bebidas, com taxa de 4,4%; metalurgia básica, 7,4%; meios de transporte – grupo que reúne a cadeia de produção de automóveis –, 4% e a indústria extrativa, 5,1%.
Os números do emprego no país são preocupantes para João Alves de Almeida, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, Igarapé e São Joquim de Bicas, “As medidas do governo para estimular as empresas deviam ser mais ousadas. Quando a indústria se retrai, o mercado formal de trabalho se ressente muito (o setor é tradicionalmente considerado o melhor empregador, do ponto de vista de registro e benefícios sociais concedidos aos seus empregados)”, afirma o sindicalista. O economista Rodrigo Lobo, do IBGE, disse que de frente para os números da produção, o comportamento do emprego e das horas pagas não é algo que possa provocar surpresas.