A perda de participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro significa uma desindustrialização precoce da economia, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que divulgou hoje a 18ª edição do Boletim Conjuntura em Foco. O fenômeno não pode ser considerado uma evolução natural, como a que aconteceu nos países desenvolvidos, porque não foi acompanhado de um aumento considerável na renda per capita.
"É preciso destacar os processos diferentes que aconteceram em economias avançadas e na economia brasileira, embora ambos tenham levado a uma redução da participação da indústria na economia e do emprego na indústria. Essa perda começa a acontecer justamente quando essas economias se defrontam com um nível de renda elevadíssimo, incomparavelmente mais elevado do que o nível de renda per capita no Brasil", explicou Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea.
"Só que no Brasil esse processo tem características mais especificas. A perda de participação da indústria no PIB foi a partir dos anos 70, de forma abrupta, sem que a gente atingisse um patamar de renda per capita elevada", contou Renata Silva, pesquisadora do Ipea.
A economia brasileira passou a crescer baseada no consumo. Como consequência, a desindustrialização precoce impulsionou um aumento de importações, redução na participação do País na exportação de manufaturados para mercados internacionais e perda de dinamismo na geração de emprego industrial.
"Outro problema é que as vagas geradas no setor terciário são na maior parte das vezes informais e precárias", lembrou Renata.
O Ipea apontou ainda que a China, também considerado um país em desenvolvimento, não passou por esse processo de desindustrialização, apesar de ter registrado um aumento do PIB per capita muito maior que o do Brasil.