Os preços das passagens aéreas e rodoviárias se aproximaram, mas as empresas que, antes, primavam por serviços de qualidade, sobretudo o de bordo, decidiram compensar o valor mais baixo com a cobrança de lanche, bebida alcoólica, água mineral e até o popular cafezinho. O consumidor tem de ficar atento. A Gol, por exemplo, já cobra por aquilo que antes era gratuito. A empresa acompanha, assim, o formato adotado pela Webjet, aquirida pela família Constantino (dona da Gol) em novembro de 2011 por R$ 70 milhões. Nos Estados Unidos, o modelo foi adotado nos anos 1990, em voos regionais. Empresas como a uruguaia Pluna, com operações no Brasil, seguem a fórmula visando criar novas fontes de receita e, em muitos casos, compensar os descontos dados nos bilhetes.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) informou que a venda de produtos a bordo, inclusive água, é uma decisão empresarial, pois não existe norma estabelecida, o que impede a fiscalização ou algum tipo de punição. “Em relação ao fornecimento de água mineral, é preciso avaliar cada caso, pois não é razoável cobrar quando o passageiro precisa tomar um medicamento ou não está se sentindo bem”, informou a Anac por meio da sua assessoria de imprensa. A Gol afirma que oferece o serviço básico a todos os passageiros e cobra apenas daqueles que ao folhear o menu entregue a bordo, querem reforçar o lanche.
A cobrança é fonte de irritação entre os passageiros, especialmente aqueles prejudicados pelos deslocamentos de portões na hora do embarque e os constantes atrasos. O relações públicas Dionisio Rodrigues Silva Filho, por exemplo, estranhou a cobrança do lanche em voo, na semana passada, de Brasília a São Paulo pelo Gol. “É absurdo o preço quando comparado com qualquer lanche em terra.”
As reclamações que começam a chegar a órgãos de defesa do consumidor já levaram o deputado Felipe Bornier (PHS/RJ) a apresentar projeto de lei para vetar a cobrança de água mineral nos aviões. No momento, o projeto está em análise nas comissões de Defesa do Consumidor, Viação e Transportes e também de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Já que a lei não veta o comércio de alimentos e bebidas por aeronaves no território brasileiro, uma garrafa de água mineral custa R$ 5 nos voos da Gol, preço elevado e idêntico ao cobrado hoje nos aeroportos. Empresa que se autodenomina de baixo custo e baixa tarifa (low cost, low fare), a Webjet oferta combos (lanche mais bebida não alcoólica) a partir de R$ 12. A assessoria da empresa afirmou que essa é uma maneira de oferecer mais serviços aos passageiros.
A TAM não cobra pelos serviços, mas oferece refeições quentes apenas nos voos internacionais. Os passageiros domésticos são brindados com promoções de parcerias com fabricantes. Este mês, ocorre o festival do iogurte assim como o do sorvete, que o antecedeu, e o de sopas, que tem lugar no inverno. A uruguaia Pluna tem cardápio com sanduíches e petiscos, cobrado em dólares. Um café custa US$ 3, o mesmo preço da garrafa de água e de refrigerante. Os vinhos e o uísque são vendidos a US$ 8.
A Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata, na sigla em inglês) cortou ontem a previsão de lucro das companhias aéreas por causa do grande aumento nos combustíveis. Precisando que o barril chegue a US$ 150 dólares, isso representaria perdas ao setor de US$ 5,3 bilhões este ano. A Iata vê com bons olhos ações das empresas para compensar perdas, ainda que com o famoso lanche de bordo.