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Estado de Minas

Governo convoca empresários a investir e ouve reivindicações que promete atender

Prioridades são câmbio e corte dos juros


postado em 23/03/2012 06:00 / atualizado em 23/03/2012 06:42

Brasília – A presidente Dilma Rousseff deu seguimento ontem a uma jogada que no xadrez é conhecida como roque – move-se duas casas para colocar o rei em segurança. Para enfrentar a maior crise com a base aliada no Congresso desde o início do seu governo, Dilma abriu ontem as portas do Palácio do Planalto para 28 megaempresários dos setores produtivo e financeiro. Foi o mesmo movimento que ela fez há duas semanas ao receber representantes das seis centrais sindicais. A estratégia é ter do lado as duas forças que movem um país – o capital e o trabalho – para minar eventual boicote dos parlamentares ao seu governo. O encontro de ontem com a nata do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro saiu melhor que o esperado. A presidente conseguiu um voto de confiança dos presentes.

Dilma já fisgou a elite do empresariado ao abrir o encontro dizendo que os ministros da Fazenda, Guido Mantega e do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, teriam cinco minutos para suas apresentações e depois abriria a palavra para cada um dos 28 convidados para falarem durante o tempo que achassem necessário. Eles adoraram. Por isso, a reunião, prevista para as 10h e iniciada às 10h40, foi até as 14h30. E só terminou porque todos já estavam morrendo de fome.

“Ela foi muito afável e simpática com todos”, resumiu o controlador do grupo JBS-Friboi, Joesley Mendonça Batista, maior rede de frigoríficos do mundo, lembrando, no entanto, que a presidente não comunicou nenhuma nova medida específica para estimular a indústria, além das já conhecidas como a desoneração tributária para alguns setores e o controle do câmbio. Conforme os relatos dos presentes, ela fez promessas genéricas, como de continuar reduzindo as taxas de juros da economia e de aumentar os investimentos em infraestrutura.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, saiu satisfeito com o que escutou da anfitriã. “A presidente ouviu todo mundo e prometeu que vai promover a competitividade necessária que a indústria precisa”, relatou. “Ela garantiu que a prioridade agora é a indústria de transformação, que está enferma por problemas conjunturais”, destacou o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

Diante da reclamação do setor produtivo, o ministro Guido Mantega garantiu que segurar a alta do real frente o dólar é compromisso do governo. O ministro e a presidente ainda tranquilizaram o setor privado e acenaram com mais queda nos juros e nos spreads bancários (diferença entre o que o banco cobra em um empréstimo e o que paga na captação), controle cambial e redução da carga tributária.

Para o governo, no entanto, o mais urgente é manter o dólar acima de R$ 1,80 para garantir a competitividade da indústria enquanto outras medidas são implementadas. “Esse é um ponto crucial para dar competitividade à indústria brasileira. (...) É uma preocupação dos empresários e nós tomaremos políticas de intervenção do câmbio que não permitam que o real se valorize”, afirmou o ministro.

Depois de um dólar valorizado, o segundo pedido dos empresários foi a redução da carga tributária, missão que Mantega definiu como “desafio”, mas garantiu que o governo está trabalhando para que isso ocorra. Ele defendeu a unificação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Outra preocupação expressa pelo setor produtivo diz respeito ao custo da mão de obra no Brasil. Segundo Mantega, serão adotadas medidas para baratear esses valores, mas sem prejudicar o trabalhador. “E como nós estamos fazendo isso? Com a desoneração da folha de pagamento”, argumentou. A desoneração, ainda segundo o ministro, beneficiará todos os setores industriais. (Com Juliana Braga e Rosana Hessel)

 

Mineiros cobram mais ação

 

Os empresários mineiros manifestaram interesse em atender o pedido da presidente Dilma Rousseff e investir, mas reivindicam contrapartida concreta por parte do governo. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado, disse que é “formidável” o fato de o governo reconhecer que precisa defender a indústria nacional. “Nós não precisamos de proteção. Estamos preparados para disputar com o mercado, mas queremos isonomia com os produtos que chegam de fora”, afirmou. De acordo com o empresário, isso significa que as condições que são impostas pelas regras internas às empresas brasileiras devem ser replicadas nos produtos importados. “A indústria nacional tem competência para disputar mercado, mas precisa de velocidade na implantação das medidas”, defendeu.

Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção e da Cedro, Aguinaldo Diniz Filho, lembra que o que define investimento é a demanda e que ela existe no Brasil. “Hoje, a demanda da maior parte das indústrias de transformação do país está em queda por causa do abastecimento do mercado por produtos que chegam de fora. Queremos condições igualitárias de competição com os produtos que chegam da Ásia”. Segundo ele, o Brasil está entregando mercado para esses países, o que faz a indústria perder importância e as margens (de lucro) caírem. “Os empresários passam a investir menos. Tudo por causa da concorrência externa”.


Dever de casa Na avaliação de Sérgio Cavalieri, presidente do conselho de administração do grupo Ale e vice-presidente da Fiemg, os empresários brasileiros estão sempre dispostos a investir, desde que haja perspectiva de bons resultados nos negócios. “O setor de transformação vem sofrendo muito. Os empresários já tinham feito um pedido de medidas ao governo no ano passado e a resposta foi o Plano Brasil Maior, que não decolou”. De acordo com ele, o ano de 2011 foi desapontador para a indústria. “A convocação da presidente Dilma para que os empresários elevem os investimentos no país é válida, mas falta ao governo fazer o seu dever de casa”, diz Cavalieri.

Petrônio Zica, presidente do Sindicato da Indústria Mecânica do Estado de Minas Gerais e da Delp Engenharia, acredita que a reunião de Dilma e Mantega com os empresários não passou de enrolação. “O governo já sabe o que deve fazer. É preciso agilizar as reformas, baixar impostos e juros e proteger a indústria nacional. Isso está sendo feito em países como França e Estados Unidos. Tenho 46 anos de experiência no ramo da indústria. Há 30 anos, a gente repete o mesmo e o governo não faz nada. Enquanto isso, o Brasil fica só exportando commodities. A gente vai ficando incrédulo”.

 

 


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