A Europa está atenta ao orçamento que será apresentado pela Espanha na próxima sexta-feira, com o objetivo de "avaliar detalhadamente" se as medidas fiscais previstas pelo governo de Mariano Rajoy serão adequadas para alcançar as metas de déficit deste ano e do próximo.
"Vamos avaliar detalhadamente o orçamento, assim como o impacto fiscal de todas as medidas incluídas nele, e analisar assim se o país poderá cumprir com a meta de déficit de 5,3% em 2012 e de 3% em 2013", disse nesta segunda-feira o porta-voz da União Europeia, Amadeu Altafaj.
Dessa forma, a Comissão Europeia prevê analisar as medidas de austeridade previstas no orçamento espanhol durante a reunião de ministros de Finanças da zona do euro, que acontece nesta sexta-feira na Dinamarca. "Este é um esforço que irá para além de 2012", disse Altafaj. "Estamos trabalhando de maneira estreita com as autoridades espanholas que devem apresentar o orçamento", completou.
As declarações ocorrem em um momento em que dirigentes europeus expressam sua preocupação com relação à situação orçamentária da Espanha, pressionando-a para que reduza seu déficit, justamente quando a crise da dívida era tida como quase superada.
Os temores sobre Espanha foram novamente expostos durante a reunião informal de altos funcionários europeus organizada neste fim de semana na Lapônia, no norte de Finlândia. A Comissão Europeia confirmou que uma equipe de especialistas viajará a Madri em meados de abril, pouco antes da elaboração dos prognósticos de primavera.
Contudo, negou que este seja um sistema de vigilância extraordinária e ressaltou que este é um procedimento "normal", enfatizado pela nova governança europeia. "Além da Espanha, enviaremos uma missão à Suécia, Grã-Bretanha e Portugal. Temos expressado nossa confiança de que Espanha e Itália cumprirão seus compromissos", disse o porta-voz.
O presidente italiano, Mario Monti, disse no sábado que há preocupações da União Europeia sobre a Espanha e recordou que quando um Estado da União se vê pressionado pelos mercados, é preciso muito pouco para que o contágio se estenda a outros países.
Em seguida, no entanto, Monti suavizou seu discurso e disse que possuía "plena confiança" no governo de Rajoy. A Espanha, quarta economia da Eurozona e grande demais para ser resgatada, alarmou a Europa recentemente ao anunciar que o déficit espanhol em 2011 foi muito superior ao previsto, de 8,51% e não de 6% como anunciou o governo socialista anterior, e disse também que não poderia cumprir em 2012 sua meta de redução do déficit para 4,4%.
Finalmente, a Espanha se comprometeu a reduzir este ano seu déficit a 5,3%, e a 3% ao final de 2013, como estipula o Pacto de Estabilidade e Crescimento europeu. Contudo, muitos economistas duvidam que esta meta seja atingida, em um momento em que todos os prognósticos estimam uma recessão este ano no país, que possui o recorde de desemprego (22,85%) da zona do euro, afetando a mais de cinco milhões de pessoas.
Nesta quinta-feira, o governo de Rajoy enfrentará uma greve geral contra a reforma trabalhista, mobilizada por um crescente mal-estar social. O comissário europeu para Assuntos Econômicos, Olli Rehn, destacou na Finlândia que a Espanha deve cumprir sua meta de reduzir seu déficit para 3% do PIB ao final de 2013, ou do contrário será sancionada pelos mercados financeiros.
Madri enfrenta o dilema de como impulsionar o crescimento aplicando a austeridade requerida por Bruxelas. "Ao mesmo tempo, a gestão feita pela Comissão Europeia sobre a Espanha também será muito vigiada", explica Guntram B. Wolff, do centro de reflexão Bruegel. "Uma atitude mais relaxada com a Espanha confirmaria a percepção dos países menores de que as grandes economias recebem um tratamento especial", completou.