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Estado de Minas

Localização, baixa oferta e demanda aquecida aumentam preço do metro quadrado nas favelas de BH


postado em 07/04/2012 07:09 / atualizado em 07/04/2012 08:01

(foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)
(foto: Beto Magalhaes/EM/D.A Press)

Conseguir um lugar para morar nas vilas e favelas da Região Centro-Sul de Belo Horizonte se tornou opção quase que de luxo. A proximidade de escolas, creches, supermercados, shopping centers, além das obras de urbanização das vilas, inflacionou o mercado e fez o preço do aluguel bater no teto. A preferência das famílias por morar perto do Centro da cidade tem provocado até fila de espera nas grandes comunidades. Cada cômodo no Aglomerado da Serra e no Morro do Papagaio (no Sion) chega a ser alugado por R$ 160, e ainda assim a demanda está maior que a oferta.

Um barracão com pouca infraestrutura, dois quartos, cozinha e banheiro vale
R$ 500 mensais. Mesmo valor de um apartamento com o mesmo número de cômodos em bairros de padrão médio e mais caro que os barracões alugados em bairros como Santa Tereza, Prado, Carlos Prates, onde a média de preços de aluguel dos imóveis desse tipo é de R$ 450.

Há quatro meses a babá Maria Cleide de Souza peregrina pela Vila São Bento, na Barragem Santa Lúcia, tentando conseguir uma casa para se mudar com a família. São, ao todo, cinco pessoas. Como não conseguiu encontrar, a babá agora tenta negociar mais prazo com o proprietário do barracão em que mora, que está pedindo o imóvel. Cleide mora no andar térreo do pequeno prédio de três andares. Recebe dois salários mínimos, sendo que R$ 500 vão para o aluguel do imóvel de quatro cômodos. “O ponto é muito bom, mas a casa não é. O teto é bem baixinho e as paredes estão mofadas de tanta água que desce dos andares de cima. Pagamos caro para morar em área de risco.” Cleide conta que tentou encontrar um imóvel por R$ 300, mais adequado ao seu orçamento. “Encontrei uma casa de dois cômodos por R$ 350, mas era muito ruim.” A babá que fez pesquisa descobriu que em Contagem os aluguéis estão mais baratos, mas como trabalha na região Sul prefere insistir. “Teria que pagar dois ônibus para chegar ao trabalho. Fica muito caro.”

Renda Extra

Rosiná de Souza Lopes está desempregada há seis meses e decidiu alugar a parte de baixo de sua casa, no Aglomerado da Serra, para ter renda extra. O imóvel com dois quartos, sala, cozinha e banheiro foi alugado por R$ 400 com móveis. “Eu nem negociei muito o preço. A inquilina já chegou oferecendo esse valor”, diz Rosiná, que trabalhava como doméstica. Ela conta que conhece 10 pessoas que estão na fila para alugar imóveis no aglomerado mas não encontram. “E, quando acham, é caro demais”, afirma Rosiná.

O autônomo Rubens Lancuna mora há mais de 40 anos no aglomerado da Serra. Há cinco anos ele comprou dois imóveis na região por cerca de R$ 6 mil. Hoje, valem o dobro do preço. Como ele já se aposentou, reforma os imóveis para alugar e conseguir renda extra. “Toda hora aparece alguém querendo alugar, mas ainda não está pronto”, diz Lancuna.

O líder comunitário do Aglomerado da Serra, Antônio João de Ramos, afirma que chega a ficar assustado com a procura por imóveis na região. “Todos os dias tem duas a três pessoas procurando. O acesso daqui ao Centro da cidade é mais fácil. Com esses problemas todos de trânsito, ninguém quer morar muito longe”, afirma Ramos. Além disso, diz, o aglomerado oferece hoje vários tipos de serviços, supemercados e até entrega em domícilio, o que atrai mais moradores.

Procura surpreende até os proprietários

Antônio da Silva mora há 62 anos no Aglomerado da Serra. Ele tem seis quartos de aluguel. Cada inquilino paga mensalidade de R$ 150. “Todos os dias tocam de três a quatro pessoas para alugar, mas não tem lugar. Muita gente trabalha aqui perto, temos tido muitas obras na vila”, afirma Silva.

Os imóveis de Amantino Marques da Rocha também são cobiçados no aglomerado. Ele tem seis imóveis na região, todos alugados. “Todos os dias passa alguém pedindo e eu falo que não tenho. Os inquilinos não querem deixar as unidades onde estão. Muita gente trabalha aqui perto e não quer sair. Aqui é perto da cidade, de muita coisa”, afirma Rocha, morador do aglomerado há 32 anos.

Líder comunitária na Barragem Santa Lúcia e presidente do Centro de Defesa Coletiva da Vila Santa Rita de Cássia, Patrocínia Alves de Fulgêncio tem um panorama do atual cenário. “Está difícil encontrar casa para alugar e também para comprar.” Ela alerta que, surfando na onda da especulação imobiliária, muitos aproveitam para construir ou ampliar imóveis visando o aluguel. “Muitas vezes as obras são feitas de forma irregular e sem planejamento. A comunidade está inflada de gente e de carros, não há mais espaço e a demanda só cresce. É preciso haver uma verticalização urgente”, defende.

Nas vilas e comunidades da cidade, a pressão das construções que invadem passeios, áreas verdes, áreas de risco ou da verticalização irregular mais forte na Região Centro-Sul, onde o mercado aquecido abre portas para as obras sem acompanhamento de responsáveis técnicos, como engenheiro ou arquitetos. Segundo a chefe de Divisão e Controle Urbano da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), Francys Brandenberger, este ano a companhia atendeu 321 demandas, sendo que 122 delas foram feitas na região e 25 obras foram notificadas. Entre as penalidades, estão a multa de aproximadamente R$ 113, apreensão de material e até demolição do imóvel irregular.

Patrocínia Fulgêncio lidera também um movimento pela moradia. Na Vila Nossa Senhora de Cássia já existem 150 inscritos, na fila para tentar conseguir imóveis em condições facilitadas para a população de baixa renda. Segundo a Urbel, o déficit em Belo Horizonte é de 62 mil moradias.

Mas, ao mesmo tempo que o mercado imobiliário está inflacionado nas favelas, falta dinheiro para pagamento à vista. A costureira Corina Aparecida Rodrigues colocou sua casa à venda, no Aglomerado da Serra, há três meses. A casa estava alugada por R$ 800 e agora está sendo vendida por R$ 140 mil. “Já tivemos algumas propostas, mas dinheiro vivo ainda não chegou”, afirma Corina. Ainda de acordo com ela, pelo menos três interessados na compra da casa telefonam diariamente.

 

 


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