Um ano depois de ter dado o pontapé inicial para a revitalização da Praça Diogo de Vasconcelos e prestes a encerrar-se o período de obras, a Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, passou por uma reviravolta na sua ocupação, com a entrada e saída de vários estabelecimentos do seu entorno. Ocupar as proximidades da septuagenária praça, com ares ainda mais cosmopolitas que o espaço da antiga padaria de italianos e de seus vizinhos, significa investir pesado: o valor do aluguel pode variar quase 300% em relação ao preço pago até o ano passado por antigos inquilinos, o que contribuiu para a saída de mais 50 estabelecimentos da região desde o início das obras.
A mais recente perda da praça foi o Café da Travessa. Depois de 15 anos em um cantinho estratégico da Savassi, o estabelecimento fechou as portas no mês passado sob alegação dos proprietários de ser inviável arcar com o aluguel. À primeira vista, a notícia causou tristeza nos frequentadores da região, acostumados a saborear livros, chopes e boa música em um mesmo espaço. Mas, antes de passar o período de lamentação, teve início o ataque fervoroso das empresas que sonham conseguir substituir o antigo inquilino.
Bancos, bares e restaurantes, lojas de roupas e também operadoras de telefonia estão na lista de possíveis ocupantes do imóvel. Por dia, pelo menos cinco contatos são feitos com a imobiliária Claro Imóveis para consultar as condições de aluguel daquele se tornou “o ponto mais cobiçado da cidade”, como o classifica a sócia-proprietária da empresa, Maria Auxiliadora Izidorio. Se a escolhida for a operadora, será formado o quadrilátero da telefonia na praça, que já possui três empresas do ramo. Essa alternativa é mais viável que a instalação de bares e restaurantes. Isso porque o proprietário do espaço e sócio da rede Centro Ótico, o empresário Francisco Horta, já se declarou contrário ao aluguel para o segmento devido à sujeira causada por esses empreendimentos.
O novo valor do aluguel ainda não foi definido. A preocupação inicial da imobiliária é limpar o imóvel e depois da Páscoa é que devem ser ouvidas as primeiras propostas. A área tem cerca de 400 metros quadrados, duas entradas e a possibilidade de explorar o quarteirão fechado da Rua Pernambuco é considerada ótima oportunidade. “Qualquer comércio que se colocar ali vai para frente. O trânsito de pessoas é intenso e, por isso, não tem como não dar retorno”, afirma Maria Auxiliadora, que recebe insistentes ligações.
Vazio
Em cantos não tão nobres quanto o da antiga Travessa, a retirada de antigos estabelecimentos, por enquanto, cria um vazio. É o caso do bar Koyote e do restaurante chinês Mulan. Vizinhos na Rua Tomé de Souza, eles saíram de seus pontos nos primeiros dias de fevereiro e, desde então, os imóveis permanecem fechados. Mas as imobiliárias afirmam que também recebem consultas diariamente e estudam a melhor proposta.
Nos dois casos, os antigos locatórios alegam que a saída foi motivada pela alta pedida nos aluguéis. No Mulan, o reajuste proposto foi de R$ 8 mil para
R$ 30 mil, enquanto no Koyote a variação de 2010 para 2012 foi de R$ 4,7 mil para R$ 9,5 mil, o que obrigou o tradicional bar a seguir para São João del-Rei. O reajuste do valor do aluguel é classificado pelo empresário Vicente Resende, do Koyote, como “ambicioso demais”. Ele diz que, enquanto alguns empreendimentos conseguiram descontos no período de obras, outros tiveram que arcar com os contratos descabidos. “A região está cheia de loja para alugar”, diz ele, que considera preço justo para o espaço entre R$ 3 mil e R$ 3,5 mil, ou seja três vezes a menos do que é pedido. “Antes tinha a feira livre que atraía muita gente, mas a prefeitura a trocou de lugar e perdemos público muito grande”, completa Resende.
Variação acima do mercado
A variação de até três vezes no preço do aluguel pode ser resultado da defasagem dos preços dos contratos. Depois de firmar contratos longos com os proprietários, os inquilinos podem ter sido “surpreendidos” com os pedidos devido ao superaquecimento do mercado nos últimos três anos. O vice-presidente da Câmara do Mercado Imobiliário, Fernando Júnior, explica que certas situações demonstram “a incompatibilidade com a realidade do setor”.
A explicação é que o IGP-M (índice usado na maioria dos contratos imobiliários) teve aumento muito inferior à média do segmento de imóveis. Para evitar surpresinhas desagradáveis, ele diz que uma boa solução pode ser combinar uma fórmula diferente no contrato, com valores superiores ao do IGP-M. “O melhor é fazer adaptação a cada dois anos para não cair uma bomba quando vencer o contrato”, explica.
No caso da Savassi, além da alta variação dos preços, ele cita que ocorre também a insuficiência de espaços para locação, o que reflete na lógica de oferta e procura. Sem espaços para crescer, a demanda torna-se maior que a disponibilidade e, por consequência, os valores sofrem alta. “É uma região que não dá mais para crescer. Esgotaram os espaços”, atesta Fernando.
Futuro
A aguardada conclusão das obras da Praça Diogo de Vasconcelos promete dar ares mais imponentes a um espaço que caminhava para a decadência e o ostracismo depois de completar 70 anos. Faltando pouco para liberar o espaço preferido de Roberto Drummond e de muitos outros moradores de Belo Horizonte, espera-se que as mudanças no formato da praça impulsionem a região rumo a dias melhores.
E é essa expectativa que pode ter contribuído para valores mais altos nos aluguéis. É dito que a praça pode ser transformada num imenso shopping a céu aberto, acolhendo um número maior de visitantes, principalmente à noite. Mas, se a prosperidade virá com os novos tijolos, somente daqui a uns meses poderá se confirmar. Nessa loteria, quem acertar na decisão pode se dar bem.