A redução das taxas de juros na Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil está deixando os bancos privados brasileiros com um olho no governo e outro na concorrência. No governo, porque a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) espera resposta para a lista de mais de 20 sugestões que apresentou ao Planalto para a redução do spread bancário (diferença entre quanto os bancos pagam pelos recursos tomados e os valores cobrados nas taxas que oferecem). Nos concorrentes, porque o HSBC começa, na próxima segunda-feira, a cobrar juros mais baixos para o crédito pessoal, consignado e cheque especial, aumentando a pressão para que os demais sigam a mesma tendência. Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating e especialista no setor financeiro, alerta: “É preciso ter expectativas realistas e deixar a ingenuidade de lado. As instituições bancárias não vão cobrar preços de fim de feira para todos”. Segundo ele, os bancos públicos que já reduziram as taxas de juros só o fizeram para algumas modalidades de crédito e o HSBC adotou postura parecida. “Os clientes serão enquadrados conforme o seu perfil.” Santacreu acredita, no entanto, que as instituições financeiras privadas vão aguardar as medidas do governo para as propostas que foram colocadas na mesa. “Caso se adiantem depois da discussão com o governo, vai parecer que estão abaixando a cabeça, e isso não vão fazer.” Para conferir como as instituições financeiras estão se posicionando, a reportagem do Estado de Minas foi, se identificando apenas como potencial cliente, a agências dos seis maiores bancos do país.
Pontuação da Caixa
Chegamos à agência da Caixa como clientes interessados em saber sobre a redução dos juros para as linhas de crédito que o banco oferece. Para o cheque especial, a taxa é imbatível. Vai de 1,35% a 4,27%. A variação depende do perfil do cliente e do relacionamento dele com o banco. “A Caixa tem uma pontuação para clientes que têm poupança e aplicação”, disse a gerente que nos atendeu. Em resumo: quanto melhor o relacionamento com o banco, menor as taxas de juros. Para o CDC , quem recebe salário pela instituição paga 2,39% de juros ao mês. Um empréstimo de R$ 5 mil em 36 prestações custa R$ 276,18 ao mês. Para quem não está nessa situação, o juro sobe a 3,88% ao mês e a prestação para R$ 323,92. No consignado para aposentados, a taxa mensal é de 1,80% e a mensalidade para crédito tomado em igual valor e período é de R$ 258,40. Quem quer financiar um veículo novo de R$ 40 mil com entrada de 50% em 36 prestações vai pagar juro de 1,89% ao mês e mensalidades de R$ 791,24. Não há condições especiais para o cliente que quer mudar de banco e abrir conta na Caixa.
Barreiras no Itaú
Consumidores que não têm conta no banco Itaú não conseguirão fazer qualquer simulação de financiamento ou crédito pessoal para comparar as taxas utilizadas. A informação repassada em mais de três agências visitadas é de que o serviço só está disponível para correntistas, diante da necessidade de avaliação do perfil do cliente e aprovação das linhas de crédito. “Mesmo que você abra uma conta aqui, ainda é preciso esperar cerca de seis meses para ter o crédito pré-aprovado em financiamento de veículos e crédito pessoal. Em alguns casos, o cheque especial é liberado na hora, mas não é regra”, informa uma funcionária. Questionada sobre a possibilidade de o banco também baixar a taxa de juros, seguindo o movimento dos públicos e do HSBC, ela garante que não foi repassada qualquer informação aos funcionários e que não há previsão para que isso ocorra. Diante da insistência de uma média de taxas praticadas pela empresa, ela informa que para cheque especial é de 8,95% e crédito pessoal de 6,5%. “Financiamento de veículo varia de acordo com uma série de fatores que inclui ano, parcelas e entrada.”
HSBC na disputa
Ao falar para a funcionária da agência que gostaria de saber sobre as novas taxas de juros anunciadas pelo banco, ela logo informa. “Acabou de chegar uma nota dizendo que as condições entram em vigor no dia 16, segunda-feira.” E ainda acrescenta. “Já percebi que para financiamento de automóvel houve mudanças desde o início da semana porque fiz cotação para clientes que mostram uma queda”, afirma. Segundo seus cálculos, os juros mensais passaram de cerca de 1,47% para 1,26% nas condições informadas pelo correntista. “No crédito para pessoa física ainda não percebi qualquer alteração, mas muitos clientes já me mandaram e-mail perguntando sobre a novidade. Tenho orientado a eles que aguardem segunda para terem acesso aos novos valores”, diz. Em simulação de um veículo de R$ 40 mil, com financiamento de R$ 20 mil, o valor da parcela é de R$ 719,65 em 36 vezes com taxa de juros de 1,26% ao mês. Já no caso do empréstimo pessoal de R$ 5 mil pago em 24 parcelas, o valor da mensalidade fica em R$ 433,91 com juros de 6,49% ao mês.
Diferença no BB
No Banco do Brasil, o funcionário garante que as novas taxas já estão valendo, muitas delas desde segunda-feira. Mas para ter acesso aos juros divulgados pelo banco, como no caso destinado ao cheque especial, que parte de uma taxa de 1,97% ao mês, e empréstimo pessoal, de 2,99%, é necessária a realização da análise de crédito do cliente. Ainda assim, o funcionário não reconhece taxas tão baixas e é enfático: “No caso do cheque especial, se o correntista estiver usando a linha por dois meses consecutivos, o banco entra em contato oferecendo o parcelamento da dívida em 24 vezes com juros a cerca de 3%”, resultado superior ao mínimo informado pelo banco. Com taxa partindo de 0,99% ao mês no anúncio feito pelo banco ao mercado, o financiamento de R$ 20 mil para aquisição de um veículo de R$ 40 mil teve taxa de 1,15% para quitação em 36 parcelas. Para todas as outras categorias de crédito, ele se recusa a fazer a simulação, alegando a necessidade de avaliação de crédito. Para se alcançar as taxas mais competitivas, é preciso atender uma extensa lista de critérios.
Bradesco sem expectativa
Nas agências do Bradesco ainda não há expectativa de redução dos juros. De acordo com a funcionária que nos atendeu, tudo o que ela sabe sobre o assunto “vem das notícias que leio nos jornais”. Também não há condições especiais de juros para clientes que estão pensando em trocar de banco e abrir conta lá. No cheque especial, a taxa é uma só: 8,9%. Quem quiser fazer um empréstimo pessoal (CDC) de R$ 5 mil em 24 parcelas vai pagar taxa de 6,31% ao mês. Ou seja: serão prestações mensais de R$ 431,81. O juro pode ser um pouco menor, dependendo da “credibilidade” do cliente, avisa a funcionária. Os interessados em financiar um veículo zero quilômetro de R$ 40 mil terão que dar pelo menos R$ 4 mil de entrada. Nesse caso, os juros são de 2,09% ao mês e a prestação é de R$ 1.671,05. Se a entrada for de 50% (para financiamento de igual prazo e valor), a taxa cai para 1,88% e a prestação para R$ 807,35. O banco também trabalha com juros que ficam maiores ou menores conforme o volume de aplicações que o cliente tem em conta e o grau de risco que ele representa para a instituição.
Santander na dependência
O cliente que estiver pensando em mudar de banco e quiser pesquisar as taxas de juros praticadas pelo banco Santander terá problemas para conseguir informações. Chegamos à agência e levamos pouco tempo para sermos atendidas. Explicamos à gerente a intenção de trocarmos de instituição e a pesquisa que estávamos fazendo para apurar se valia a pena fazer isso, de acordo com as taxas de juros praticadas lá. “As taxas dependem do perfil do cliente. É preciso fazer uma análise de crédito para defini-las”, disse a gerente. Foi preciso argumentar, lembrando a ela que um potencial cliente que está fazendo pesquisa sobre taxas de juros para mudar de banco não poderia sair de lá sem a informação, sob o risco de não voltar. Depois disso ela revelou que a taxa para o cheque especial é de 9,95%, mas o cliente tem 10 dias livres de juros. Para o CDC, as taxas vão de 2% a 8%. No consignado, de 1,8% a 5%, e para veículos novos de 1,4% a 3%. Caso o cliente dê entrada de 50%, ela fica em 2,08% ao mês. “Estamos esperando que os juros caiam na semana que vem, mas não há nenhum aviso oficial do banco.”