Pela segunda vez em três anos, a economia da Espanha entra em recessão. Segundo prévia do Produto Interno Bruto (PIB) divulgada pelo Banco Central do país, a retração registrada no primeiro trimestre foi de 0,4%, dando sequência ao recuo de 0,3% dos últimos três meses de 2011. O desaquecimento da demanda interna, 0,9 ponto percentual inferior entre um trimestre e outro, figura como a principal justificativa para o resultado.
Nascido em Madri, o piloto de avião comercial Miguel Anino, de 25 anos, conta que não há mais crédito no país, o que desestimula o consumo. “Os bancos não têm dinheiro. Não se pode, por exemplo, parcelar as compras no supermercado como se fazia antes”, explica. Associada a isso, a taxa de desemprego é a mais elevada da Eurozona, fechando 2011 em 22,8%, quase um quarto da população. “Para jovens abaixo de 30 anos, chega a quase 45%, que é o meu caso. Meus amigos que estão lá e têm entre 20 e 25 anos, estão todos desempregados”, conta Miguel, que chegou no Brasil há quatro meses.
Além de escassos, existentes apenas em algumas oportunidades de “bico” na área de reparos, Miguel conta que os salários também estão muito aquém daqueles pagos por aqui. “As empresas não estão investindo e por isso não há vagas. Quando se acha emprego, em profissões como arquiteto, engenheiro e até para a minha área de piloto, ganha-se 400 euros por mês para trabalhar 10 horas por dia”, calcula. “Aqui, um arquiteto não ganha menos de R$ 2 mil por mês, cerca de 800 euros”, acrescenta.
Não é por acaso que o Brasil tem se mostrado uma interessante rota de fuga para quem busca novas oportunidades como Miguel. Entre 2010 e 2011, a concessão de visto para espanhóis subiu 30%, passando de 1.457 para 1.899 autorizações. Enquanto valida os estudos para trabalhar como piloto no Brasil, Miguel trabalha como garçom e agora pleiteia uma vaga como professor de inglês e espanhol. Voltar para a Espanha se torna uma possibilidade cada vez mais remota. “Acredito que o país reverterá a situação em sete a oito anos. É o que levará mais tempo na Zona do Euro”, avalia.
Resgate
O governo europeu estima que a economia espanhola feche 2012 com retração de 1,7%, aprofundando a desaceleração de 2011, quando o PIB apresentou um crescimento fraco, de 0,7%. O cenário faz crescer no mercado financeiro as apostas de que o país ibérico não será capaz de cumprir as metas do déficit público, sendo necessário recorrer a um resgate internacional semelhante ao que fez Grécia, Irlanda e Portugal.
“Essa sucessão de fatores tem mostrado que, dificilmente, a Espanha vai conseguir cumprir suas metas. Um dos sinais são os juros dos títulos públicos, que atingiram patamar elevado, de 6%”, observa o analista da Austin Rating Felipe Queiroz. “Isso é um indício de que o país terá que recorrer ao Banco Central Europeu e este, por sua vez, terá de intervir comprando títulos como forma de transferir maior confiança ao investidor internacional”, acrescenta.