Depois do aumento do endividamento e da inadimplência no fim do ano passado, os consumidores estão conseguindo reequilibrar suas finanças. A reorganização das contas domésticas foi um dos fatores que contribuiu para o avanço de 4,9% no Índice de Confiança do Consumidor (ICC), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), na passagem de março para abril, e divulgado nesta quarta-feira.
O ICC, que atingiu em abril o maior patamar (128,7 pontos) desde o início da série histórica, iniciada em setembro de 2005, teve em abril a terceira alta consecutiva, puxado tanto pela melhora na percepção atual quanto pelo aumento do otimismo em relação aos próximos meses.
A visão sobre a atual situação financeira da família melhorou 1 7% em abril, enquanto a expectativa de melhora para os próximos meses teve aumento ainda maior, de 2,7%. Entre os entrevistados, 42,9% acreditam que as finanças familiares vão melhorar nos próximos meses.
"Estamos num período de transição. A inadimplência está parando de crescer e pode muito provavelmente voltar a cair nos próximos meses", disse a jornalistas Aloisio Campelo, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Em relação à percepção geral da economia, há a questão dos estímulos. Há segmentos muito importantes que estão indo muito bem. Enquanto a indústria está rateando, há estímulo ao consumo. Alguns segmentos estão contratando muito, como comércio, serviços e construção", citou.
O avanço no otimismo também foi puxado por uma percepção melhor sobre a queda na taxa básica de juros, o controle da inflação e o aquecimento do mercado de trabalho. A expectativa para a inflação para os próximos 12 meses chegou a 6,4% em abril, mas vem caindo desde outubro de 2011. Também há mais pessoas respondendo que está mais fácil arrumar emprego atualmente e que a situação do mercado de trabalho ficará ainda melhor nos próximos meses.
Segundo o economista da FGV, a mensagem do Banco Central de que os juros estão caindo é tão forte que o porcentual de pessoas que acreditam em mais cortes na taxa Selic é o mais alto da série histórica: 41,4% dos entrevistados disseram em abril que a taxa de juros vai cair. Em março, essa fatia era de 33,5%.
Bens duráveis
Os resultados do ICC de abril também confirmam que há uma volta gradual do ímpeto para a compra de bens duráveis, avalia a FGV. A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre eletrodomésticos ajuda no impulso de voltar às compras, mas tem sido mais determinante a expectativa de redução do endividamento das famílias e a percepção de melhora na atividade econômica brasileira.
"O consumidor está gradualmente voltando a ter mais fôlego para a compra de duráveis. O indicador de ímpeto para compra de duráveis teve uma alta forte em março, de 10%, e até surpreendeu. Mas, agora, o ICC está confirmando esse movimento, está carimbando que foi para um patamar um pouco mais alto", explicou Campelo.
Na passagem de março para abril, a expectativa de compras para bens duráveis voltou a subir, 3,2% (de 87,8 pontos em março para 90,6 pontos em abril). Em janeiro, a expectativa de compras para bens duráveis estava em patamar muito menor, de 78,1 pontos. Segundo Campelo, o consumidor estava cauteloso, direcionando o aumento de renda e da massa salarial para outros gastos, como serviços e bens não duráveis.
Ao contrário do que aconteceu em março, quando houve um salto na intenção de compras de bens duráveis entre a faixa de renda mais baixa, que recebe até R$ 2.100, desta vez o ICC mostrou uma homogeneidade na distribuição do apetite por compras entre todas as faixas salariais. "O aumento de expectativa de compras na faixa de renda 1 explodiu 25% em março, mas agora caiu um pouco, se acomodou. Enquanto isso, as outras faixas de renda (2, 3 e 4) tiveram aumentos consistentes e moderados tanto em março quanto em abril na perspectiva para duráveis", detalhou Campelo.