Brasília – O Banco Central sinalizou que deve manter a trajetória de queda da taxa básica de juros (Selic), hoje em 9% ao ano, ao divulgar ontem a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). No texto, o BC afirma que, mesmo considerando uma recuperação da atividade econômica em um ritmo menor do que o esperado, “qualquer movimento de flexibilização monetária adicional deve ser conduzido com parcimônia”.
Na ata da reunião anterior, o BC havia indicado o contrário, apontando para a probabilidade de que a Selic ficasse em “patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos”, de 8,75% ao ano, ou seja, permanecendo em 9%. Com a mudança do texto, entretanto, as projeções do mercado não chegaram a um consenso. As apostas do corte na próxima reunião, no fim de maio, estão divididas entre 0,25 e 0,50 ponto. “A ata sinaliza um corte máximo de 0,25 ponto percentual na Selic e manutenção da taxa por um período prolongado”, comentou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
O economista sênior para a América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU), Robert Wood, estima um corte maior, de até 0,50 ponto. “Acredito que o BC deverá reduzir a Selic para menos de 9% e, como a ata sinaliza que haverá ‘parcimônia’, isso indica que o corte deverá ficar entre 0,25 e 0,50 ponto. Mas como há uma expectativa de que a recuperação do PIB (Produto Interno Bruto) será mais lenta do que o esperado, acredito que um corte de 0,50 será mais factível”, explicou. “Se a recuperação da economia não se materializar até a próxima reunião, é possível que o corte fique em 0,25”, emendou. A pesquisadora de macroeconomia do Santander, Adriana Dupita, também fez a mesma projeção, de um corte de 0,50 ou 0,25 ponto percentual.
A projeção de uma Selic de 8,5% em maio, devendo permanecer nesse patamar até o primeiro trimestre de 2013, é a aposta do economista-chefe do Banco Espírito Santo (BES), Jankiel Santos. “Neste momento esperamos que o Banco Central comece o aperto monetário mais uma vez, de modo a evitar que a inflação ultrapassar o teto da faixa de tolerância da inflação, de 6,5%”, completou. O professor de economia da Universidade de Brasília, José Luis Oreiro, também espera redução de 0,50 ponto na Selic no próximo mês. “É possível que, depois desse corte, o BC dê uma estacionada para esperar que os efeitos dessas reduções surtam efeito. Hoje, com juros a 9% ao ano, a taxa real (descontada a inflação) chega a 4%, o que não deixa de ser razoável”, acrescentou.
O documento do BC ressalta, ainda, “a ocorrência de mudanças estruturais significativas na economia brasileira, que determinaram recuo nas taxas de juros geral”. A expectativa do documento em relação à inflação para este ano manteve-se "em torno do valor central" da meta do governo, de 4,5% medida pelo IPCA. Para 2013, a inflação está "acima" do centro dessa meta.