O mercado de trabalho brasileiro atravessa o cenário mais positivo das últimas duas décadas. Em plena crise da economia mundial e desemprego mundo afora, por aqui as oportunidades estão em alta e o desemprego em baixa, com taxas que chegam a 5,4%, como é o caso da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Vale lembrar que há pouco mais de 10 anos esse percentual já superou os 20%. E o que mudou no tempo não foi apenas o número de vagas abertas: os caminhos para chegar até a tão sonhada ocupação já não são os mesmos. Especialistas em Recursos Humanos estimam que mais de 70% das oportunidades abertas no país, especialmente para os cargos que exigem escolaridade acima do ensino médio, já são preenchidas pelos meios virtuais.
Ao contrário do que muitos candidatos podem pensar ou desconfiar, a primeira opção de busca das corporações é o seu próprio banco de currículos, que – detalhe – é gratuito. Em seguida, especialistas apontam os sites de cadastro, também sem custos, para quem procura uma vaga. Por fim, as redes sociais, especialmente aquelas com fins profissionais, ligadas ao mercado de trabalho, são consultadas na procura pelos melhores candidatos. “Dificilmente, uma empresa começa uma busca por profissionais sem antes analisar os candidatos que expontaneamente já demonstraram interesse pela organização cadastrando seu currículo no site”, alerta o coordenador do curso em tecnologia em gestão de Recursos Humanos do Centro Universitário Newton Paiva, João de Avelar Andrade. Segundo ele, a internet se tornou uma ferramenta tão forte que até mesmo profissionais que buscam vagas com menores remunerações, como serviços gerais, já começam a cadastrar seus currículos.
Juliene Andrade Bueno, supervisora de recrutamento do Grupo Selpe, diz que a busca por candidatos na internet é feita em larga escala, levando em conta desde os sites de cadastro de profissionais (gratuitos ou pagos) até as redes sociais. Por isso, a especialista alerta que saber montar o currículo é fundamental, ele é a primeira apresentação do candidato aos caçadores de profissionais ou mesmo ao futuro empregador. Por incrível que possa parecer, há candidatos que ainda esquecem itens muito básicos como manter atualizado o telefone de contato. Juliene ensina que o currículo deve conter dados pessoais e profissionais sucintos, mas com conteúdo. “É importante informar a formação acadêmica, língua estrangeira e funções já desempenhadas em empresas anteriores”, ressalta.
Prática comprovada
Atento às tendências do mercado de trabalho, o administrador de empresas Marco Antônio Freitas, de 25 anos, utilizou a internet como ferramenta para crescer profissionalmente. Depois de trabalhar por quatro anos e meio em uma empresa de sistemas automotivos, em Betim, na Grande BH, ele resolveu mudar de ares. “Trabalhei como auxiliar administrativo em uma área de planejamento, mas queria atuar na minha área diretamente, queria mudar, crescer, ter um plano de carreira”, conta. Como estratégia, ele começou a espalhar o seu currículo pela internet e também a buscar outras empresas onde poderia colocar em prática o seu desejo profissional. “Visitei sites de RH, que oferecem milhares de vagas, digitei no Google o cargo que eu queria e apareceram várias oportunidades. Aí fui filtrando até chegar a uma outra empresa que trabalhava com a fabricação de implementos rodoviários, o que me agradou”, explica.
Depois de um ano e meio de trabalho na nova empresa, Marco Antônio sentia que podia crescer mais e retomou a sua estratégia de recorrer à internet para identificar novas colocações. Foi no site Vagas.com que uma oportunidade de trabalho chamou a sua atenção. “Encontrei o que eu queria: uma chance de ser inserido em uma multinacional, na qual eu pudesse ter o plano de carreira que eu imaginava”, reforça Marco Antônio, que há seis meses é trainee da Iveco.
João de Avelar reforça que, na busca por um emprego, é, de fato, importante demonstrar ao empregador não somente o domínio da área, planejamento da carreira bem definido, mas também ter a seu favor uma boa trajetória e referências. “As empresas não querem pessoas indecisas, mas também pesa de forma definitiva o profissional ter caráter idôneo e ser responsável.” Outra dica que o profissional deve sempre ter em mente é não se esquecer de sua rede pessoal. Quem busca um emprego deve evitar o silêncio e não basta propagar isso apenas nas redes sociais. “É preciso valorizar a rede pessoal. Conversar com a família, com a faxineira, com o taxista, com o amigo executivo. Telefone sempre para sua rede pessoal, não só quando precisa”, alerta o especialista.
Fique atento aos meios tradicionais
Para quem ainda não dispõe de redes sociais humanas ou virtuais, onde as oportunidades borbulham, há também as ferramentas tradicionais de intermediação do trabalhador com o empregador, como é o caso do Sistema Nacional de Emprego (Sine). Responsável por ofertar serviços como o agendamento de entrevistas de trabalho e o acompanhamento do candidato em todas as fases, o órgão ainda é uma das principais alternativas para quem está entrando no mercado de trabalho.
O secretário de Trabalho e Emprego de Minas Gerais, Carlos Pimenta, conta que o Sine participa do processo, organizando um sistema de informação sobre o mercado de trabalho, identificando o trabalhador por meio da Carteira de Trabalho e Previdência Social, disponibilizando currículos para os empregadores nas unidades e, ainda, oportunidades de formação com diversos cursos de qualificação gratuitos. Há também o serviço de acompanhamento do trabalhador com a identificação de deficiências, como dificuldades em se expressar, problemas com vestimentas e postura, que podem tirar a vaga de um candidato. “Acompanhamos o trabalhador em todas as etapas porque hoje é necessário não só ter um bom currículo, mas também um bom conteúdo curricular para se conseguir um bom emprego”, comenta.
O estudante universitário Guilherme Breno Fernandes é um exemplo. Aos 20 anos e recém-chegado a Belo Horizonte, ele recorreu ao órgão para conseguir dar o seu primeiro passo em sua área de formação. No primeiro período do curso de Processos Gerenciais, o jovem espera ter a chance de ter renda própria e colocar em prática os seus conhecimentos teóricos para conquistar o mercado e, com ele, bons cargos. “Este pode ser o primeiro de muitos passos. Para quem tem interesse e disposição, o mercado de trabalho abre as portas”, diz. “Assim que me mudei de Arcos para Belo Horizonte, procurei o Sine, atualizei meu cadastro e estou confiante na possibilidade de ter o meu primeiro emprego na área”, reforça. (MC e CM)