Especialistas do mercado de trabalho estimam que, na próxima década, a criação de vagas no país deve consolidar o mapa de hoje, no qual o comércio e serviços ficam com mais de 50% das oportunidades de trabalho, seguidos pela indústria e agricultura. A criação de vagas deve se intensificar em setores como o de energias limpas, tecnologia da informação (TI) e também na indústria extrativa mineral. Depois do boom experimentado nos últimos anos, analistas apostam em uma estabilidade da construção civil e apontam que o emprego deve avançar em profissões que na lista do vestibular são tradicionais, mas despertam pouca competição, como os cursos de licenciatura.
Além disso, até 2020 deve ganhar força o chamado setor dois e meio, localizado entre o público e o privado. “Esse setor reúne as Organizações não governamentais (ONGs), Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscips), entidades que lidam com negócios ambientais”, explica o professor do Ibmec-BH, João Bonomo. Entre as indústrias (setor secundário), comércio e serviços (setor terciário), o novo segmento promete crescer trabalhando com negócios sociais, mas com fins lucrativos. Segundo o especialista, apesar do crescimento de áreas como petróleo e gás, empurradas pelo Pré-sal, a grande escalada do mercado de trabalho deve se consolidar no setor de serviços. “É o mesmo movimento já experimentado nos países do chamado G-7 (grupo que reúne as maiores economias mundiais)”, diz Bonomo.
Com o crescimento da renda da população brasileira, especialistas são otimistas quanto a formação de um novo perfil de trabalhador, que estará mais bem educado ao término da próxima década. À medida que avança a renda das famílias, a educação também ganha força, abrindo perspectivas para um novo – e ao mesmo tempo antigo – leque de profissões: pedagogos, professores de matemática, geografia, português, devem ver crescer as oportunidades de emprego. “À medida que as famílias ganham renda, elas investem nos filhos, que são mais educados que os pais, e, com isso, têm mais oportunidades”, diz João Andrade, coordenador do curso de Tecnologia em Gestão de RH do Centro Universitário Newton Paiva.
Pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que um ano a mais de estudo, independentemente do nível de escolaridade do trabalhador, gera um retorno que corresponde à majoração entre 5% e 6% do salário recebido em relação ao pares. Outro dado importante é que entre os empregadores e especialistas do setor de recursos humanos a palavra de ordem se torna qualificação. O tão propagado apagão da mão de obra está ligado também à qualificação. “Da base até cargos administrativos existe um déficit muito grande na qualificação”, comenta Sara Rios, consultora de Recursos Humanos da Lead Empresarial. Para ela, independentemente do segmento, quem conseguir responder primeiro a esse item vai chegar mais rapidamente à vaga.
Atenta às oportunidades e com um plano de carreira em mente, Vaneza Aparecida da Silva, de 17 anos, está na batalha pelo primeiro emprego. Ela foi buscar ajuda no Sistema Nacional de Emprego (Sine) e está confiante. Na sexta-feira, ela fez sua carteira de trabalho e, logo depois, se candidatou a uma vaga para atendente de lanchonete. A vaga pode ser pequena, mas o sonho é grande. Para dar início ao propósito de estudar medicina, ela quer trabalhar, mas sem deixar os livros de lado. Assim, ela acredita que terá a chance de chegar ao ensino superior. “A minha vontade é ir conseguindo empregos melhores, estudar mais e atuar na área da saúde, sem depender da minha família”, comenta a Vaneza, que vive com a mãe, o pai e dois irmãos, no Bairro Padre Júlio Maria, na Região Norte de Belo Horizonte.
Estudo é fundamental
O presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Osmani Teixeira de Abreu, afirma que o trabalhador deve se atentar às necessidades básicas e aos pré-requisitos exigidos pela empresa. Para ele, o principal ponto a ser atendido pelo trabalhador deve ser o da escolaridade. “Hoje, infelizmente, o trabalhador que arrumava qualquer emprego mesmo sem ter estudado não tem mais essa chance porque qualquer indústria ou empresa exige formação”, garante.
Abreu lembra ainda que, com a automatização industrial e a implantação de máquinas cada vez mais modernas, há também a necessidade de que o trabalhador tenha formação técnica para que as funções sejam desempenhadas com conhecimentos voltados para as áreas de atuação. “Além da formação, é preciso que todos entendam o quanto o estudo permanente é importante para fazer carreira e subir na empresa. Sem conhecimento, é muito difícil conseguir uma boa colocação no mercado”, reforça.
Minas ocupa lugar de destaque na demanda por trabalhadores. Segundo o secretário de Trabalho e Emprego de Minas Gerais, Carlos Pimenta, a meta é fazer com que 12% de todas as vagas ofertadas no Brasil ocorram no estado. (CM)