Brasília – A alteração no rendimento da caderneta de poupança anunciada nessa quinta-feira ganhou apoio dentro do governo, entre os empresários e trabalhadores. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, do PT, defendeu as alterações nas regras da caderneta de poupança como instrumento para redução dos juros no país. Segundo o ministro, tanto o setor produtivo quanto o povo brasileiro apoiam mudanças que levarão à redução dos juros. “Há uma determinação e uma disposição do governo de enfrentar esta batalha da redução das taxas de juros e isso é muito positivo.”
O discurso do ministro do Desenvolvimento Agrário foi endossado pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que apoia alterações no rendimento da poupança para evitar que os recursos dos fundos de investimento migrem para as cadernetas. Ele ressaltou o fato de as novas regras só valerem para novos poupadores. Outro que sustenta a mudança na caderneta para novos correntistas é o presidente da Central Sindical de Profissionais (CSP), Antônio Fernandes dos Santos Neto.
Ele também elogiou a determinação da presidente Dilma em reduzir as taxas de juros, mas argumentou que até agora os benefícios não chegaram a quem deseja renegociar antigas dívidas. Para Neto, as vantagens estão envolvendo apenas novos empréstimos. “A presidente fala, determina, mas a coisa parece um paquiderme. Você dá um toque, mas até chegar ao cérebro do paquiderme, demora muito", disse. O sindicalista, Paulo Skaf e outras lideranças participam nesta tarde de reunião com a presidente, que mantém encontros desde o final da manhã com ministros da área econômica e política, além das lideranças dos partidos aliados.
Risco para a casa própria
A mudança na correção da poupança pode reduzir os recursos disponíveis para financiamentos imobiliários com base na poupança, segundo especialistas. Isso pode ocorrer porque os recursos da poupança, junto com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), é uma das principais fontes de recursos para o financiamento da compra de imóveis, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). E, desde 2010, o crescimento dos pedidos de financiamentos é maior que o do dinheiro disponível, segundo o Instituto Brasileiro de Estudos Imobiliários (Ibei).
Com a mudança no rendimento da poupança, que com a Selic abaixo de 8,5% vai corresponder a 70% da taxa de juro básica mais a TR, os recursos da caderneta podem migrar para outras aplicações e reduzir a oferta de crédito para financiar imóveis. O resultado pode ser a elevação dos custos ou a dificuldade para se obter financimentos.
“Uma saída de recursos da poupança pode agravar ainda mais a capacidade de ela atender a demanda crescente por crédito imobiliário devido a ausência de recursos disponíveis para futuros financiamentos imobiliários por meio do SFH”, diz o presidente do Ibei, Fernando Augusto Cardoso de Magalhães. “Esperamos uma migração dos investimentos da poupança para fundos de investimento, ainda mais com a redução da Selic que é esperada para os próximos meses, é isso que o governo quer com a mudança na poupança e com isso deve haver menos recursos disponíveis para o financiamento habitacional”, afirma a técnica da Proteste Verônica Tostes.