O Banco do Brasil anuncia hoje medidas para atrair clientes endividados de outros bancos e captar investidores de menor renda, além de novo corte nos juros. A maior aposta é uma linha específica de crédito que, na prática, permite ao cliente que fez um empréstimo em outro banco pagar a dívida antiga e se refinanciar em melhores condições. As facilidades para atrair endividados de outros bancos – chamada portabilidade de crédito – já foram adotadas pela Caixa. Tanto o Banco do Brasil quanto a Caixa são vistos pelo governo como fundamentais para aumentar a competição no setor bancário e forçar o setor privado a baixar suas taxas.
O BB foi o primeiro banco a anunciar queda nas taxas de juros, em 4 de abril. No dia seguinte, foi a vez da Caixa. O movimento dos bancos públicos arrastou todo o mercado financeiro. O HSBC foi o primeiro banco privado a anunciar queda nas taxas, em 12 de abril. O Santander reduziu as taxas em 10 de abril e foi seguido por Bradesco e Itaú, que anunciaram medidas semelhantes no dia 18.
Na próxima semana, o BB anuncia redução nas taxas de administração e nos valores mínimos para o investidor fazer a primeira aplicação em fundos de investimento voltados a cliente de alta renda. A expectativa é de que a adesão a esses fundos, que têm taxas de administração de 1%, comece a partir de R$ 50.
O objetivo é fazer com que os fundos do BB sejam competitivos em relação à caderneta de poupança e ao cenários de juros baixos. O BB é dono da maior gestora de recursos do país, a BB DTVM, que tem 22,3% do mercado. Hoje, a taxa média dos fundos DI do BB é de 1,53%.
O BB, no entanto, aguarda a receptividade do mercado às mudanças na poupança para fazer ajustes finais dessa política. "Estamos estudando as medidas para fazer alteração forte nas taxas de administração dos fundos", disse Alexandre Abreu, vice-presidente de varejo do BB.
Depois do corte de juros anunciado pelos bancos públicos do país, os empréstimos dispararam no BB. A instituição informou que todas suas linhas de crédito que tiveram os juros reduzidos dentro do programa "Bom para todos" experimentaram crescimento em abril em relação a março, com expansão que superou os 200%. Já no trimestre o BB anunciou queda no resultado. O lucro líquido de R$ 2,502 bilhões no primeiro trimestre de 2012 recuou 14,7%, em comparação com igual período de 2011. Na comparação com o quarto trimestre, houve recuo de 15,8%.
No financiamento de veículos, por exemplo, a média diária de empréstimos passou de R$ 11 milhões, antes do programa, para R$ 28,7 milhões depois do corte nas taxas, alta de 156%. No BB Crediário, a alta foi de 238%. O programa com juros menores para clientes do banco no crédito a pessoa física começou a valer em 12 de abril. Para pessoas jurídicas, no dia 9. A partir daí e até 30 de abril, foram liberados mais de R$ 6,5 bilhões em empréstimos nos dois segmentos, dentro das linhas com taxas menores.
Mesmo com o crescimento do volume de crédito experimentado pelo país nos últimos anos, a demanda reprimida, freada pelas altas taxas de juros motivou a forte expansão da procura no banco público. “Essa euforia, em um primeiro momento, já era esperada. No entanto, não deve se manter ao longo do tempo”, comenta o economista e coordenador do MBA em administração da Fundação Armando Álvares Penteado, Tharcísio de Souza Santos. Segundo ele, mesmo com o nível de endividamento das famílias superando os 50%, o crescimento da demanda não assusta, já que o país mantém um nível de crédito “prudente.”
Perfil
O Banco do Brasil informou ainda que teve a adesão, em abril, de 124 mil clientes a pacotes de serviços bancários com tarifas e condições diferenciadas. Guilherme Hamdan, professor de economia do Ibmec diz que o ponto de alerta é o perfil dos novos clientes. “O BB é um banco público, com ativos da sociedade brasileira. Provavelmente, os primeiros clientes a chegar são aqueles de maior risco. É preciso ter uma análise criteriosa na concessão de crédito. Os resultados do primeiro trimestre da instituição já apresentaram queda.” (Com agências)