Rio de Janeiro e São Paulo – A intenção da presidente Dilma Rousseff de levar a taxa de juros real para 2% já foi quase cumprida, faltando ainda mais de dois anos e meio para o fim do seu mandato. Na sexta-feira, a principal taxa de juros de mercado de um ano, das transações envolvendo bancos e grandes empresas (e que baliza todas as outras taxas), caiu em termos reais para 2,3% ao ano.
Esse juro, conhecido no mercado como ‘swap’ de 360 dias, tende a antecipar os movimentos da Selic, a taxa básica de juros calibrada pelo Banco Central (BC). Em termos nominais, o swap de 360 dias fechou na sexta-feira em 7,99%. Com a expectativa de inflação do mercado de 5,53% nos próximos 360 dias, isso significa uma taxa real, isto é, descontada da inflação, de 2,3%. "Se de fato o país conseguir alcançar a estabilidade das taxas de inflação sob taxas de juros reais mais reduzidas, podemos estar assistindo a uma melhora institucional histórica", comenta Thiago Curado, economista da consultoria Tendências.
A queda dos juros foi acentuada no fim da semana passada, com a flexibilização das regras da caderneta de poupança. A rentabilidade fixa dessa aplicação representava obstáculo crescente à redução da Selic, taxa básica de juros, para abaixo dos atuais 9%. Agora, já há projeções de corte da taxa para níveis até abaixo de 8%.
Dilma também enfrentou bancos privados para que o ‘spread’ – a margem acima dos juros de captação pelos bancos – cobrado no crédito para pessoas físicas e a grande maioria das empresas também caia para níveis compatíveis com os do resto do mundo.
De qualquer forma, o nível atual do juro real no ‘swap’ de 360 dias representa uma extraordinária queda, de mais de 20 pontos percentuais, num período de 10 anos. Hoje, o juro real de 2,3% é precisamente 10 vezes menor do que o de 23%, que foi atingido em meados de 2002.
A etapa final do processo começou quando o Banco Central, no final de agosto de 2011, surpreendeu os analistas cortando a Selic de 12,5% para 12%. Apesar das críticas, o BC viu confirmarem-se suas expectativas tanto de uma desaceleração forte da economia, pelo aperto monetário de 2010 e 2011 e pelas medidas macroprudenciais de controle de crédito, quanto do efeito desinflacionário da fraqueza da economia global.
INFLAÇÃO A grande dúvida, porém, é se a enorme queda do juro real dos últimos anos é sustentável e não vai provocar um surto de pressões inflacionárias que obrigaria o BC a elevar fortemente a Selic (e, consequentemente, os juros reais de mercado) mais adiante. Para Curado, da Tendências, uma taxa de juro no nível atual, pouco acima de 2%, só é viável enquanto houver pressões desinflacionárias provenientes da economia global. "Frente a uma recuperação do cenário externo, será necessário elevar as taxas de juros", ele projeta.
O economista Alexandre Schwartsman, da Schwartsman & Associados, diz achar "difícil que essa taxa de juro real atual não estimule extraordinariamente a atividade econômica". Ele lembra a metáfora da política monetária como a água do chuveiro, que às vezes demora a esquentar, levando a pessoa a abrir demais a torneira quente até que um jato escaldante quase queime sua pele. "Existem defasagens no efeito da queda da taxa de juros sobre a atividade", ele diz, preocupado com um repique forte da inflação.