A redução dos juros para compra da casa própria financiada pela Caixa Econômica Federal passou no teste do feirão de imóveis que a instituição realizou no fim de semana em cinco capitais, mas deixou exposto um entrave ainda a ser resolvido: a oferta insuficiente de apartamentos e casas compatíveis com a renda familiar do brasileiro. Ainda que a queda dos encargos nos empréstimos imobiliários torne possível o sonho da moradia própria, a entrada exigida e o peso das prestações no orçamento global das famílias continuam a inviabilizar negócios no banco e nas construtoras. Esse descompasso reflete os rendimentos que os candidatos a mutuário não conseguem conciliar com o imóvel escolhido.
Conforme balanço divulgado no começo da noite de ontem, nos três dias do feirão em Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro e Recife, foram acertados negócios no valor de R$ 3,958 bilhões entre contratos assinados junto às construtoras e aqueles negociados. O evento, que completou a oitava edição, reuniu 170,8 mil pessoas e mais de 430 mil imóveis usados, novos e em construção ofertados. Em BH, 6.301 contratos negociados e encaminhados somaram R$ 946,6 milhões, entre 14.647 imóveis oferecidos, dos quais 10,5 mil enquadrados no programa Minas casa, minha vida, de subsídio à moradia popular. O universo de 29.537 visitantes ficou próximo dos 30 mil no feirão do ano passado, mas as cifra total negociada aumentou 12,6%. O feirão foi realizado também em Salvador, mas, até o fechamento desta edição, o balanço da capital baiana não havia sido divulgado.
Para quem saiu frustrado do feirão diante dos valores da entrada e das prestações ainda altas, o gerente regional da Caixa Federal em Minas, Marivaldo Araújo Ribeiro, diz que o problema está na escolha de imóveis incompatíveis com a restrição legal dos financiamentos, cujas prestações não podem comprometer mais de 30% da renda. “Não é a entrada que está alta. O nosso desafio é aumentar a oferta de unidades compatíveis com a renda das famílias”, afirma. Dentro do Minha casa, minha vida, a instituição pode financiar todo o valor do imóvel, desde que o empréstimo seja quitado em 20 anos (240 meses). Fora do programa, com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), é necessária uma entrada mínima de 10% do valor total, respeitada a regra básica de comprometimento de no máximo 30% da renda familiar com o financiamento.
Nessas condições, candidatos a mutuário com renda familiar de até R$ 3,1 mil mensais só ficam livres da entrada no financiamento se optarem por imóveis avaliados em até R$ 106 mil. “A redução dos juros não só despertou o interesse pela casa própria, como também, segundo as nossas expectativas, deverá melhorar a capacidade de pagamento das famílias”, diz o gerente da Caixa Econômica em Minas. Outro resultado esperado é o aumento da oferta de imóveis pelas construtoras.
As taxas de juros baixaram de 8,4% ao ano para 7,9% anuais para a faixa de renda de R$ 3,1 mil a R$ 5 mil. Acima disso e para imóveis oferecidos por valores superiores a R$ 150 mil, os encargos caíram de 10% para 9% ao ano, com a flexibilidade para chegarem a 7,9% nos casos em que o interessado transferir a conta salário para a Caixa. De todos os negócios fechados ou negociados no feirão, 70% atenderam casais de jovens com até 35 anos.
Esforço
Depois de dois anos e meio buscando uma forma de adquirir o teto próprio, ontem foi um dia de comemoração para o almoxarife Thiago Aparecido Melgaço e a mulher, Helen Verlaini Dias, auxiliar financeira, ambos de 24 anos. “Buscamos essa chance desde que nos casamos”, contou Thiago. A redução dos juros deu um empurrão na decisão, mas o casal teve de se esforçar para reunir o dinheiro necessário à entrada de R$ 6 mil e vai precisar controlar muito bem as despesas. A prestação da casa própria, avaliada em R$ 106 mil, começa em R$ 602, sem contar o valor do condomínio, ao passo que o aluguel pago hoje soma R$ 400.
Além dos interessados em comprar um imóvel, foi também expressivo o número de pessoas que procuraram o estande da Construtora Rossi para saber se é possível renegociar um financiamento anterior à redução dos juros, informou o diretor da Rossi Vendas, Leonardo dos Santos. No meio da tarde de ontem, a empresa estimava ter negociado no feirão um terço dos 373 imóveis lançados e em fase de acabamento na Grande BH que ofertou no evento, avaliados em até R$ 350 mil.
A Caixa não vai renegociar contratos para que o mutuário aproveite os juros menores do crédito imobiliário. Segundo o gerente regional da instituição, Marivaldo Ribeiro, o governo criou a opção da portabilidade para permitir que aqueles mutuários com contratos firmados junto a outras instituições transfiram o empréstimo para a Caixa. O negócio, no entanto, só será feito para quem se tornar cliente da instituição.
EXEMPLO DE ECONOMIA
Veja o benefício que os juros menores poderão representar nas simulações da Caixa
Imóvel avaliado em R$ 200 mil
Taxa cai de 10% para 9% ao ano
Entrada de R$ 20 mil
Financiamento a ser pago em 30 anos
1ª prestação de R$ 1.862,46
Última prestação de R$ 528,60
Economia de R$ 1.800 por ano
Imóvel avaliado em R$ 150 mil
Taxa caiu de 8,4% para 7,36% ao ano
Entrada de R$ 12.735,74
Financiamento a ser pago em 20 anos
1ª prestação de R$ 1.437,89
Última prestação de R$ 597,65
Economia de R$ 3mil ao ano